Biocombustíveis

Uma nova geração de biocombustíveis avançados está chegando, por Erasmo Battistella

Usina de biodiesel da BSBios em Passo Fundo (RS), capaz de processar 158 mil toneladas de óleo de soja e produzir 216 milhões de litros de biodiesel por ano (Foto: Divulgação/BSBios)
Usina de biodiesel da BSBios em Passo Fundo (RS), capaz de processar 158 mil toneladas de óleo de soja e produzir 216 milhões de litros de biodiesel por ano (Foto: Divulgação/BSBios)

Quando tratamos de biocombustíveis, estamos vivendo o auge do que eu chamo de primeira onda com o etanol e biodiesel como protagonistas. Nosso grupo empresarial ECB anunciou recentemente um novo desafio que envolve o que há de mais avançado em biotecnologia, os produtos da segunda onda.

O lançamento do Omega Green, mega complexo para produção de diesel renovável HVO (sigla em inglês para Hydrotreated Vegetable Oil) e do SPK (Synthesized Paraffinic Kerosine – pode ser utilizado misturado ao querosene de aviação) no Paraguai, com investimento estimado em mais de US$ 800 milhões, envolve a primeira planta de combustíveis renováveis de segunda geração do Hemisfério Sul.

Mas o que são esses novos combustíveis verdes do futuro?

O HVO e o SPK fornecem soluções de sustentabilidade para um planeta que deve reduzir suas emissões de CO2 em todas as formas de transporte. Eles são biocombustíveis avançados e representam um passo importante na busca por um combustível sustentável para o mundo do século 21.

Esses biocombustíveis são avançados porque podem ser produzidos com métodos limpos (com menos emissões de CO2). São produzidos a partir de resíduos de gordura animal, óleos de cozinha usados, bem como óleos vegetais. Os biocombustíveis avançados permitem que os resíduos gordurosos sejam reciclados e transformados em uma fonte de energia mais limpa e eficiente.

Quais são as vantagens sobre os biocombustíveis comuns?

Eles são combustíveis de “entrega imediata”, que vai “direto para o tanque”. Eles podem ser utilizado em 100% em motor diesel de um caminhão das décadas de 60 e 70 assim como nos motores de última geração desenvolvidos na Europa e nos Estados Unidos sem necessidade de adaptações, ao contrário de algumas outras alternativas ao uso de petróleo, que exigem um alto investimento na criação de infraestrutura de abastecimento e na própria compra de um novo caminhão ou ônibus.

O fato de eles entrarem diretamente no tanque sem a necessidade de adaptações do motor é uma diferença importante, pois torna o tamanho potencial do mercado muito maior do que o de um biodiesel tradicional, que costuma ser usado em uma mistura com o diesel fóssil.

Esse biocombustível pode ser usado por aviões?

Os biocombustíveis de primeira geração podem operar apenas até -5°C, os avançados podem funcionar a temperaturas muito mais baixas. O SPK, que será fabricado na planta Omega Green, pode operar a -45°C, ideal para uso por companhias aéreas, um setor que precisa de soluções eficazes para reduzir as emissões de CO2. O mais interessante é que a tecnologia que vamos utilizar na nova fábrica já produz este biocombustível no hemisfério norte e o mesmo SPK já foi aprovado para ser utilizado em aeronaves de grande porte.

Apesar de não reconhecermos tão diretamente a poluição provocada por um meio de transporte que está a 30 mil pés, é certo o forte impacto negativo que o avião tem para o meio ambiente. O setor tem feito pouco ou quase nada para a redução dos gases efeitos estufa e vai precisar trabalhar muito em tecnologia para reduzir em 50% as emissões até 2050. A chegada de um novo combustível sem necessidade de alteração de motor deverá ter um papel muito importante nesse setor da aviação.

O HVO e o SPK são uma solução para reduzir as emissões de efeito estufa?

Hoje, os biocombustíveis avançados são uma das principais ferramentas para reduzir as emissões de CO2. A diferença crucial entre os biocombustíveis de primeira e segunda geração é a tecnologia. Aplicamos hidrogênio na matéria-prima para produzir a reação que os transforma em combustível.

É um processo que requer energia elétrica e nos permite produzir uma série de diferentes produtos combustíveis, da mesma forma que uma refinaria convencional produz gasolina, diesel e querosene para aviação.

Erasmo Carlos Battistella é presidente da BSBIOS, do Grupo ECB e do Conselho de Administração da APROBIO – Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil. Escreve no blog Biocombustível Avançado

Inscreva-se em nossas newsletters

Fique bem-informado sobre energia todos os dias