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Diálogos da Transição
Editada por Nayara Machado
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Shell Brasil e Senai Cimatec lançaram nesta quinta (13/4), em Conceição do Coité (BA), a nova fase do programa Brave, que quer transformar a agave — aquela suculenta gigante usada na produção de tequila — na “cana de açúcar do sertão”.
E produzir etanol, biogás e outros bioprodutos, em um conceito de biorrefinarias. Tudo isso, capturando e armazenando carbono no solo.
Brave é uma sigla, em inglês, para Desenvolvimento da Agave no Brasil. A iniciativa tem recursos da cláusula de P&D dos contratos para exploração, desenvolvimento e produção de petróleo, que obriga a aplicação de 1% da receita bruta em pesquisa para novas tecnologias.
A primeira etapa começou em novembro de 2022, na Unicamp, com o estudo das mudas ideais para o sertão.
Agora, o projeto avança em duas frentes de atuação: desenvolver soluções de mecanização para o plantio e colheita da agave, além de testes de cultivo para as variações da planta; e estudar tecnologias de processamento para produzir etanol de primeira e segunda geração.
As máquinas de plantio e colheita terão tecnologia do Cimatec e são uma novidade porque, ainda hoje, o cultivo da agave é totalmente manual. Não existe um equipamento dedicado à cultura.
A mecanização é fundamental para conseguir escala industrial, e avançar para o nível seguinte: a produção de biocombustíveis.
Uma planta piloto de cerca de 700 m² no Cimatec vai explorar o potencial de conversão em biogás e etanol.
Acreditando na alta produtividade da biomassa, Shell e Cimatec esperam conseguir provar com o projeto a viabilidade tecnológica e econômica.
“Mesmo no início do projeto, já temos em mente como chegar no ponto para a industrialização e comercialização dos resultados da nossa pesquisa”, destacou no lançamento o gerente geral de Inovação e Tecnologia da Shell Brasil, Olivier Wambersie.
Novas energias
A Shell vem fazendo um esforço para se converter em uma empresa de energia — investindo em biometano, plataformas de renováveis e hidrogênio verde, por exemplo, além do etanol no Brasil, por meio da Raízen.
No final de março, a companhia publicou dois cenários questionando quão rápido a indústria de energia conseguirá se descarbonizar. A companhia assume que os fósseis perderão uma fatia de mercado para a eletrificação com renováveis e nuclear, mas não vê um “caminho realista para uma queda instantânea e acentuada nas emissões”.
Ainda assim, enxerga um futuro promissor para tecnologias como solar, eólica e hidrogênio. No transporte pesado, especialmente aviação e marítimo, onde a eletrificação ainda não se mostrou viável, há um vasto mercado a ser explorado pelos combustíveis líquidos de baixo carbono.
E em todas essas áreas, o Brasil aparece como um grande potencial exportador. Falta avançar com algumas regulações.
Em entrevista à agência epbr, o presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto, observa que há uma corrida para acesso a investimentos nas novas energias, e países que conseguirem avançar com marcos regulatórios competitivos terão vantagem.
“O potencial energético brasileiro é indiscutível. Onde o país precisa se ajudar é na questão regulatória e de política energética”, diz.
“O Brasil vem tentando avançar nos marcos regulatórios para indústria de eólica offshore, hidrogênio, captura e armazenamento de carbono, além de mercado de carbono. Mas, na minha opinião, a gente não está andando na velocidade que deveria”, completa.
Selo etanol social
Além do agave, a batata doce também busca seu lugar na transição energética, podendo ser uma alternativa à cana na entressafra.
Helberth Oliveira, presidente da Coopetanol, uma cooperativa de produtores de batata doce geneticamente modificada para produção de combustível, conta que além do açúcar, a cultura tem um grande potencial para o etanol — com produtividade maior e custo menor que o da cana.
A ideia é desenvolver o projeto no interior das regiões sul e sudeste.
Por enquanto, a cooperativa ainda tenta formar parcerias, enquanto busca incentivos para atrair o interesse da indústria. Também tem pleiteado uma política para incluir a agricultura familiar na cadeia produtiva.
Na terça, Oliveira se reuniu com a Camex e os ministérios de Minas e Energia e da Indústria e Comércio para levar a proposta de um “Selo Etanol Social”.
Ele afirma que a política teria o mesmo objetivo do selo biocombustível social, que existe para biodiesel, só que integrando os pequenos produtores de batata doce do sul e sudeste, e os de agave no semiárido, à indústria sucroenergética.
Cobrimos por aqui:
- Shell e Raízen se lançam no hidrogênio de etanol
- Etanol ganha força contra eletrificação em massa
- Etanol quer emitir créditos com carbono armazenado
- Nuseed e GranBio querem impulsionar biorrefinarias para SAF e etanol 2G
Curtas
Lula na China
Governo brasileiro e chinês assinarão amanhã (14/4) um memorando de cooperação industrial nos setores de mineração, energia, infraestrutura e logística (estradas, ferrovias, portos, gasodutos), indústria de transformação, alta tecnologia e agroindústria. A assinatura faz parte da programação da comitiva brasileira que chegou quarta à China, com o presidente Lula (PT).
Segundo o MDIC, os acordos também têm uma pegada ambiental, como atração de investimentos em energia renovável, infraestrutura verde, manejo sustentável de florestas, tecnologia e inovação.
Hidrogênio verde no Senado
Presidente da Comissão Especial para Debate de Políticas Públicas sobre Hidrogênio Verde, Cid Gomes (PDT/CE), apresentou uma proposta de plano de trabalho — ainda a ser votada pelo colegiado.
Uma primeira audiência pública reunirá, no dia 25 de abril, representantes de embaixadas e dos ministérios de Minas e Energia e Meio Ambiente, para debater o papel do H2V na descarbonização do mundo. Audiências externas e visitas a projetos ou unidades de produção também estão previstas. Agência Senado
Atrasados do G7
Relatório da Oil Change International e E3G mostra que Estados Unidos, Japão, Itália e Alemanha ainda estão atrasados em seu compromisso de acabar com o novo financiamento público internacional direto para combustíveis fósseis. Japão e Alemanha ainda não divulgaram políticas para cumprir seu compromisso, enquanto a da Itália não cumpre a promessa. Os três países, assim como os EUA, perderam o prazo de 2022. Os EUA adotaram algumas diretrizes, mas não as tornaram públicas. Argus
Novos padrões de emissões da UE
A Volkswagen pediu nesta quinta que a implementação dos novos padrões de emissões da União Europeia seja adiada pelo menos até o quarto trimestre de 2026 — pouco mais de um ano depois do planejado. Reuters
Estágio na Enel Brasil
A companhia abriu 70 vagas de estágio nas áreas de Engenharia, Administração, Ciências Contábeis, Análise de Sistemas, Psicologia, Recursos Humanos, Direito e Economia, para atuação nas distribuidoras de São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará. Inscrições até 5 de maio no link
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