Biocombustíveis

Redução do Renovabio fragiliza indústria, diz relatório da transição

Relatório final do gabinete de transição traz um apanhado de atos normativos para revisão urgente

Redução do Renovabio fragiliza indústria, diz relatório da transição. Na imagem: Presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, anuncia 16 novos ministros que comporão seu governo em 2023 (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, anuncia novos ministros que comporão o governo (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

BRASÍLIA — O relatório final da transição para o governo Lula dá destaque à redução “frequente” de metas do Renovabio e cita a política de congelamento da mistura de biodiesel como políticas tomadas pelo governo Bolsonaro (PL) que vão “fragilizar ainda mais a indústria brasileira”.

“Na indústria de petróleo, gás e biocombustíveis, as medidas de abertura e as constantes mudanças de políticas do setor geraram uma série de distorções”, diz o relatório.

O documento trata de políticas para o abastecimento como um todo, cita inclusive o Abastece Brasil, programa herdado do governo de Michel Temer (MDB) em que mercado e órgãos governamentais discutem reformas para o mercado de combustíveis.

“Para os próximos anos, o cenário tende a se agravar, uma vez que ainda está em curso um conjunto amplo de desinvestimentos da Petrobras, bem como iniciativas de desregulamentação e descoordenação, como o Abastece Brasil”.

Além das reduções de metas do Renovabio, o diagnóstico do novo governo PT critica a abertura do mercado de biodiesel.

“O Renovabio continua a reduzir suas metas de descarbonização e há previsão de maior abertura do setor de biocombustíveis, o que pode fragilizar ainda mais a indústria brasileira”.

As metas do Renovabio foram reduzidas pela primeira vez em 2020, em meio aos primeiros impactos da pandemia de covid-19. Mas a redução continuou, justificada por um cenário de escassez de biocombustíveis para atendimento às obrigações.

Recentemente, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) fixou que as distribuidoras de combustíveis deverão adquirir 37,5 milhões de créditos de descarbonização (CBIOs) para cumprir suas metas em 2023. O valor original era de 42,35 milhões.

Além disso, estão em discussão medidas para entrada de combustíveis substitutos ao biodiesel na mistura obrigatória; além da liberação de importação do biocombustível.

Revogação de mudanças no Renovabio

O relatório final promete atenção a leis e atos normativos que representam risco no setor de energia, entre elas, as mudanças nas políticas de biocombustíveis, mas não detalha as revogações na área.

O documento divulgado nesta quinta (22/12) traz uma lista de revogações e alterações normativas de “especial urgência”, em questões como política de armas, desmatamento, sigilo de 100 anos, privatizações, direitos e participação social – sem menções aos biocombustíveis.

Segundo a assessoria do presidente, podem ter outras revisões, embora não estejam no relatório geral.

A pauta integra as sugestões do grupo técnico de Agricultura. O relatório do GT propôs revogar o decreto de Jair Bolsonaro (PL) que aumentou o prazo para as distribuidoras comprovarem suas metas de descarbonização no RenovaBio.

Além da resolução do CNPE, que fixa o mandato de biodiesel em 10% até 31 de março de 2023.

No caso do RenovaBio, o decreto editado em julho deu prazo extra para as distribuidoras comprovarem a aquisição de créditos de descarbonização (CBIOs), o que desacelerou as negociações na bolsa de valores e derrubou o preço do ativo.

Já o setor de biodiesel tinha expectativas, com o novo governo eleito, de retomada da mistura obrigatória do renovável ao diesel, que deveria estar em 14% e subir para 15% em 1 de março do ano que vem.

A decisão do CNPE do final de novembro, de manter o percentual de 10% no primeiro trimestre de 2023, é apontada como uma interferência do governo de saída na gestão de Lula.

O relatório publicado hoje critica medidas que reduziram a participação da Petrobras no abastecimento e no mercado de gás natural, e a previsibilidade em relação às ações de descarbonização.

“É o caso dos programas Renovabio e do percentual de mistura dos biocombustíveis, que tiveram suas metas e objetivos alterados de maneira frequente”, diz.

Também aponta que a previsão de maior abertura do setor de biocombustíveis pode fragilizar “ainda mais” a indústria brasileira.

Revogações no Meio Ambiente

Na área ambiental, o foco é a proteção da floresta em pé. A transição destaca o Pacote Verde, analisado pelo STF, com sete processos judiciais contra atos do governo Bolsonaro que desestruturaram a legislação ambiental e enfraqueceram a fiscalização.

Após quatro anos, Bolsonaro encerra o governo com aumento de 59,5% da taxa de desmatamento na Amazônia em relação aos quatro anos anteriores (governos Dilma e Temer) — maior alta percentual em um mandato presidencial desde o início das medições por satélite, em 1988.

A lista de revogações inclui os decretos 10.142/2019, 10.239/2019 e 10.845/2021, que enfraquecem o controle do desmatamento; 9.760/2019 (integral) e 10.086/2022 (parcial), pois anularam multas ambientais e paralisaram a fiscalização, com perda é de mais de R$ 18 bilhões para os cofres públicos; 10.966/2022, que liberou o garimpo ilegal na Amazônia; além do 10.223/2020 e 10.144/2019, para poder retomar o Fundo Amazônia.

Também cumprindo uma promessa de campanha, a lista de ministérios traz pela primeira vez uma pasta dedicada aos Povos Indígenas. As deputadas Joenia Wapichana (Rede/RR) e Sonia Guajajara (Psol/SP) figuram como os nomes mais fortes para o comando da pasta.