BRASÍLIA — Levantamento da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) estima que os incêndios que atingiram as propriedades rurais no estado de São Paulo e também em outras regiões do Brasil no final de agosto já causaram prejuízos de mais de R$ 800 milhões.
A conta considera os efeitos dos incêndios na cana em pé, nas soqueiras e na qualidade ruim da matéria-prima.
O grupo que representa mais de 12 mil produtores de cana-de-açúcar divulgou um balanço nesta quinta (5/9) contabilizando os incêndios registrados no fim de semana dos dias 24 e 25 de agosto e as ocorrências subsequentes até a quarta-feira (4).
Ao longo desse período foram identificados mais de 2,3 mil focos de incêndios, que resultaram em mais de 100 mil hectares queimados em áreas de cana-de-açúcar e áreas de rebrota de cana — sem contabilizar áreas de proteção permanente (APP), reserva legal e pastagens.
Segundo o CEO da Orplana, José Guilherme Nogueira, devido às perdas, a cana só vai conseguir rebrotar quando tiver água no solo, quando as chuvas chegarem.
“Esse cenário de clima seco e falta de chuvas pode impactar a safra futura, mas ainda é cedo para essas previsões. Esperamos que as chuvas deste final de ano venham de forma uniforme e volumosa e a rebrota da cana-de-açúcar aconteça de uma maneira mais tranquila”.
Crédito para replantio
Na última sexta (30/8), o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) anunciou uma linha de crédito específica para o replantio da cana-de-açúcar, diante das queimadas que atingem lavouras de diferentes regiões e biomas do Brasil.
Os recursos virão de um remanejamento do Plano Safra vigente.
“Certamente teremos a necessidade de replantio e o crédito será um bom alento para os produtores de cana, que gastam, em média, R$ 13,5 mil para a eliminação da soqueira, da rebrota ruim e para a realização do plantio”, explica o CEO da Orplana.
“E, muitas vezes, os produtores não conseguem pagar isso em um ano, mas sim em duas ou três safras. Por isso, a linha de crédito irá ajudar”, completa.
Ainda de acordo com o executivo, toda a cadeia produtiva da cana-de-açúcar está comprometida com a sustentabilidade e a preservação ambiental, cumprindo rigorosamente as diretrizes do Protocolo Agroambiental – Etanol Mais Verde, que proíbe o uso do fogo na colheita de cana no Estado de São Paulo.
Hedgepoint reduz projeções de mix de açúcar
Na terça (3/9), a consultoria Hedgepoint reduziu as projeções de mix de açúcar para 49,13% e produção do Centro-Sul 24/25 para 40,3 milhões.
O relatório observa que as usinas do Centro-Sul têm tido dificuldades para direcionar mais de 50% da matéria-prima disponível para a produção de açúcar, o que nos levou a revisar o mix de açúcar para 49,13%.
As estimativas de produção de açúcar foram reduzidas de 40,8 milhões de toneladas para 40,3 milhões de toneladas na safra 24/25, contribuindo para uma oferta apertada durante a entressafra do Centro-Sul, apoiando o adoçante.
Enquanto isso, espera-se que os preços domésticos dos biocombustíveis sofram devido ao aumento da produção de etanol, resultando em uma disponibilidade mais confortável do que a média durante o verão brasileiro, diz Lívea Coda, analista de Açúcar e Etanol da Hedgepoint.
Coda avalia que o etanol pode ter atingido seu pico em 16 centavos de dólar por libra-peso, considerando o fator Cbio.
“Qualquer outra revisão restritiva da disponibilidade global de açúcar poderia elevar essa faixa de preço”, destaca.
O Brasil é maior produtor de cana-de-açúcar do mundo e lidera as exportações globais no segmento sucroacooleiro. Somente neste ano, as exportações de açúcar de cana em bruto registram mais de U$ 8,69 bilhões, o que representou um recorde histórico para o setor, segundo o Mapa.