Quase 30 anos após a emblemática Rio 92, onde foram assinadas as Convenções do Clima e da Biodiversidade, 196 países se reuniram em Glasgow, na COP 26, em busca de caminhos para a descarbonização da sociedade, ou seja, a redução das emissões de gases de efeito estufa.
A Petrobras teve a oportunidade de apresentar seus resultados da última década:
- Queda de 30% da emissão absoluta entre 2014 e 2020;
- Mais eficiência em carbono: nossa emissão de gases de efeito estufa por barril produzido caiu praticamente à metade desde 2009;
- Redução à metade das emissões de metano nos últimos 10 anos;
- Um dos maiores programas de reinjeção de CO2 do mundo;
- Projetos voluntários de conservação e reflorestamento com impacto em mais de 35 milhões de hectares de ecossistemas nativos, com ganhos em carbono, biodiversidade, água e desenvolvimento social e econômico.
São resultados que demonstram a importante trajetória de descarbonização da Petrobras na última década e evidenciam que o petróleo produzido nos campos do pré-sal (notadamente Tupi e Búzios) esteja entre os mais descarbonizados do mundo.
Alcançamos ganhos de eficiência, iniciados já em 2009, cujo efeito deve ser avaliado pela contribuição acumulada que se sentirá até 2050.
No Plano Estratégico 2022-2026, recém-lançado, a Petrobras reiterou seu compromisso com a descarbonização e sua ambição de atingir a neutralidade das suas emissões operacionais.
O plano reforça o posicionamento da companhia de se manter entre as líderes em petróleo descarbonizado do mundo.
O modelo estratégico adotado mantém-se ancorado na premissa de produzir petróleo e gás compatível com cenários de descarbonização acelerada da sociedade, adotando o conceito da dupla resiliência: econômica, viável em cenários de baixos preços de petróleo, e ambiental, com baixo carbono.
O investimento para descarbonização no quinquênio será de US$ 2,8 bilhões.
Dentre as novidades, está a criação de um programa corporativo e de um fundo interno de descarbonização para acelerar sua trajetória rumo à neutralidade de emissões.
Com a dívida agora equacionada, a empresa também mostra abertura para amadurecer oportunidades de negócio em mercados emergentes de baixo carbono e prevê investimentos em escala comercial para biocombustíveis avançados, como diesel renovável e bioquerosene de aviação, além de uma governança específica para avaliação de oportunidades de diversificação dos negócios.
Nesse contexto, faço algumas reflexões sobre o papel do petróleo eficiente em carbono da Petrobras no cenário pós-COP 26, em que vários países se comprometeram a reduzir drasticamente suas emissões, inclusive o Brasil.
- A sociedade global detém hoje trilhões de dólares em infraestrutura de mobilidade adaptada a combustíveis líquidos, tais como carros, ônibus e caminhões, que em grande parte são de propriedade de cidadãos individuais (pessoas físicas).
- Para a transição da mobilidade podem ser explorados dois caminhos:
a) um esforço de transformação dessa infraestrutura, com investimentos em modais de transporte e veículos mais eficientes e com menos emissões;
b) aceitar um custo significativamente maior da energia, adotando outros combustíveis nos veículos existentes. Isso porque qualquer outro combustível líquido tem hoje custo de produção maior que o dos derivados do petróleo.
- Energia é um item representativo no custo das nações, em média 10% do PIB. Adotar combustíveis com custo de produção mais elevado requer comprometer os preços ao consumidor ou reduzir de forma relevante a arrecadação das nações para manter preços acessíveis.
- Essa necessidade de maciça alteração da infraestrutura e o alto custo dos substitutos dos derivados de petróleo explicam por que, mesmo nos cenários de transição energética mais acelerada, o petróleo se manterá na matriz energética por décadas, ainda que com participação decrescente.
Considerando que o petróleo não irá desaparecer instantaneamente, torna-se relevante diferenciar a qualidade dos petróleos disponíveis.
Se todo o petróleo consumido no mundo fosse produzido com a eficiência em emissão de carbono do petróleo de Tupi, a cada ano o mundo reduziria o equivalente a toda a emissão brasileira anual. Portanto, é de interesse da sociedade que seja produzido o melhor petróleo, com o menor custo e a menor emissão.
Devemos lembrar que o petróleo é um produto fortemente taxado. No Brasil, país produtor, mais de 70% do valor final do produto são revertidos em receita pública, na forma de impostos, bônus, royalties e, no caso de empresas com participação estatal, dividendos.
Portanto, a produção de petróleo de baixo carbono no Brasil é aliada da aceleração da descarbonização do país, na medida em que gera divisas relevantes para a transformação da infraestrutura de transporte. É um petróleo que pode ser exportado aos mais exigentes mercados do mundo, ajudando a financiar a nossa própria transição energética.
Quando analisamos a situação específica do Brasil, constatamos que o país aplica incentivos relevantes para renováveis e está duas ou três décadas à frente do mundo na descarbonização da energia.
Por outro lado, o Brasil conta com uma infraestrutura logística assentada no modal fortemente rodoviário e grandes distâncias e, por isso, o impacto econômico da substituição por combustíveis mais caros é ainda mais representativo para os brasileiros. Temos uma das economias que mais requerem combustível no mundo e, portanto, mais sensíveis ao seu custo.
A continuidade da transição da mobilidade requer investimentos em infraestrutura, para que possamos aumentar nossa eficiência e reduzir nossos custos com energia.
Nesse contexto, não se trata de se planejar considerando a indefinida permanência do petróleo. A transição energética é absolutamente inexorável. Mas precisamos de pragmatismo para priorizar as ações na ordem de benefício para a sociedade.
A melhor e mais justa descarbonização deve ser feita com o obstinado objetivo de reduzir o custo da energia no longo prazo – um elemento fundamental da competitividade e do bem-estar social.
Viviana Coelho é Gerente Executiva de Mudança Climática da Petrobras.