Transição energética

Pesquisadores usam resíduo urbano para produzir diesel verde de coco

Grupo patenteou integração das etapas de decomposição e refino para produção do combustível

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Foto: Pixabay

LYON (FR) — Pesquisadores do Núcleo de Estudos em Sistemas Coloidais (Nuesc), vinculado ao Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP) de Sergipe, estudam a produção de diesel verde a partir de coco verde. A fruta é um grande resíduo urbano na região litorânea do país.

Em Aracaju (SE), estudos mostram que cerca de 190 a 200 toneladas são geradas por semana desse passivo ambiental, segundo o coordenador do núcleo de pesquisa, Cláudio Dariva. 

Com um quilo do vegetal é possível produzir aproximadamente meio litro de diesel. A biomassa gera outros coprodutos, como biogás e carvão. O último pode ser utilizado, por exemplo, na agroindústria, e para limpeza de água e purificação de esgoto.

A transformação da fibra do coco no combustível tem duas etapas principais: a decomposição da fruta em bioóleo e o refino para produção de combustíveis e outros derivados. O grupo patenteou, inclusive, a integração das duas etapas através de um reator, que já foi testada em pequena escala.

“São os mesmos combustíveis [que saem de uma refinaria de petróleo], nafta, querosene, diesel, lubrificantes, só que de origem renovável. Por isso que a gente aposta bastante nessa tecnologia como transição energética, porque realmente é uma transição. Nós usamos os mesmos processos, as mesmas coisas, mas estamos trazendo combustível de uma origem diferente da fóssil”, explica Dariva em entrevista à agência eixos.

Apesar de o diesel de coco ainda não ter sido testado em motores, os hidrocarbonetos produzidos são testados no laboratório de acordo com o teste de normas da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para produção de combustíveis, contou Dariva.

Economia circular do diesel verde de coco

Do ponto de vista econômico, a utilização do diesel verde de coco pode contribuir com a economia circular. Se a matéria-prima vier também de comunidades produtoras de coco, esses produtores se tornariam players da cadeia, destaca o coordenador.

Da perspectiva ambiental, ele tem uma intensidade de carbono menor que a do equivalente fóssil, já que o gás carbônico lançado à atmosfera pela queima do combustível foi compensado pela captura realizada pelas plantas durante a fotossíntese.

Viabilidade da comercialização do diesel verde de coco

O projeto ainda está em escala laboratorial, mas Dariva considera que o combustível pode ser viável comercialmente.

“Existe um apoio muito grande com o incentivo do governo que tem programas, como o Combustível do Futuro e o RenovaBio, que fomentam aumentar a escala e as plantas para a produção desses combustíveis a partir de biomassa”, afirmou.

O pesquisador considera que a indústria é “ávida” por processos para minimizar custos e produzir de forma mais sustentável. “Eu enxergo um caminho bom no futuro para nós implementarmos novas tecnologias, a exemplo do que estamos fazendo”, disse.

Diesel verde de algas

O Nuesc também estuda o desenvolvimento de diesel verde a partir de algas. Entre as vantagens da utilização desses organismos para produção de combustível está a possibilidade de produção de grande volume de biomassa em um espaço pequeno.

Além disso, para as algas crescerem, é necessário alimentá-las com nutrientes, que podem ser, por exemplo, oriundos do esgoto, afirmou o coordenador. Desse modo, elas fariam, também, parte da economia circular.

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