Biocombustíveis

O futuro multicombustível do transporte marítimo

Amônia verde, biodiesel, óleo combustível GNL, e-metanol e biometanol na rota de descarbonização dos navios

Louis Dreyfus conclui teste com 30% de biocombustível no transporte marítimo. Na imagem, navio de sucos ecoeficiente (LDC Juice) da Louis Dreyfus atracado no porto de Ghent, na Bélgica
Navio de sucos ecoeficiente da Louis Dreyfus atracado no porto de Ghent, na Bélgica (Foto: Louis Dreyfus/Divulgação)

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Diálogos da Transição

APRESENTADA POR

Editada por Nayara Machado
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Entre os setores mais difíceis de descarbonizar, a indústria marítima tem pela frente um futuro multicombustível e já reconhece a necessidade de preparar suas frotas para operar simultaneamente com óleo combustível/biodiesel, metano, metanol e amônia — uma mudança radical na diversidade do abastecimento.

A conclusão faz parte de uma pesquisa do Global Maritime Forum, o Global Center for Maritime Decarbonisation e o Maersk Mc-Kinney Møller Center for Zero Carbon Shipping e McKinsey & Company com as principais empresas de navegação. As companhias entrevistadas representam 20% do mercado.

Enquanto um terço dos respondentes diz que “não sabe” com quais tipos de combustível esperam que suas frotas operem em 2030 e 2050, os outros dois terços têm expectativas variadas.

Para a maioria, amônia verde, biodiesel e óleo combustível lideram o caminho, seguidos por amônia azul, gás natural liquefeito (GNL), e-metanol, biometanol, biometano e e-metano.

Os entrevistados também indicam que esperam distribuir seu próprio consumo em várias “famílias” de combustível.

Até 2050, 49% dos entrevistados (ponderados pelo tamanho da frota) esperam adotar quatro ou mais famílias de combustível, enquanto outros 43% esperam adotar três.

  • Óleo combustível pesado, gasóleo marítimo, diesel marítimo e biodiesel, integram uma mesma família, por exemplo. GNL, biometano/bio-GNL e e-metano fazem parte de outra.

As motivações para a transição verde vêm de diferentes lados: regulamentações mais rígidas, demanda do cliente, pressão do investidor e metas internas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa até 2050.

Experimentando

O momento é de experimentação e formação de parcerias. Adotar novas energias significa um alto volume de investimentos – desde pesquisa até a formação de redes de abastecimento, passando pela atualização da frota e estruturação de toda uma indústria de combustíveis de baixo carbono.

Atualmente, 46% das empresas pesquisadas (12 entrevistados) dizem que já executaram programas-piloto envolvendo um ou mais combustíveis de baixo carbono e estabeleceram planos para implementação futura. Outros 35% (nove entrevistados) não tomaram nenhuma atitude neste sentido.

“A indústria precisará pensar estrategicamente sobre como operar frotas multicombustíveis e os combustíveis verdes devem ser introduzidos de maneira segura e econômica, de forma a torná-los a alternativa preferida em relação aos produtos petrolíferos atuais’, explica Bo Cerup-Simonsen, CEO do Maersk Mc-Kinney Møller Center for Zero Carbon Shipping

A Maersk é um exemplo de transportadora global que está investindo em mais de uma solução para deixar seu frete verde.

Em setembro, a dinamarquesa fará a viagem inaugural do primeiro navio porta-contêineres do mundo a navegar com metanol verde.

A embarcação com 172 metros de comprimento e motor bicombustível partirá de um porto na Coréia do Sul em direção a Copenhague, na Dinamarca. De lá, segue para o Mar Báltico, onde passará a operar.

O navio é o primeiro de uma frota encomendada pela Maersk para operar com motores bicombustíveis a partir de 2024.

Para garantir o abastecimento, a companhia tem firmado parcerias com produtores de diferentes rotas de e-metanol e biometanol, na China, América do Sul e América do Norte.

Vida longa à combustão

Outras descobertas da pesquisa sugerem que os motores de combustão interna continuarão sendo a tecnologia preferida até 2050, e que a velocidade da adoção dos renováveis será em função da diferença de custo com os fósseis e o grau de disponibilidade nos portos em todo o mundo.

“Portos e fornecedores de bunker podem priorizar a disponibilidade de combustíveis individuais no curto prazo. Mas, a longo prazo, os portos que desejam atrair o maior número possível de futuras embarcações devem se preparar para a necessidade de oferecer vários tipos de combustível”, diz o estudo.

Fechando a lacuna

A taxa de descarbonização exigida pelos reguladores é um fator que pode ajudar a fechar a lacuna de custo entre os verdes e os fósseis e criar um “campo de jogo nivelado” para as empresas.

Para mais de 80% dos entrevistados, maior disponibilidade de combustíveis alternativos, redução de custos, disposição do cliente de pagar um “prêmio verde” e mudança regulatória são os quatro principais fatores capazes de determinar o resultado da transição.

Johannah Christensen, CEO do Global Maritime Forum, que reúne empresas e ONGs, defende uma estrutura regulatória “mais ambiciosa” com metas de redução claras e políticas de apoio para fechar essa lacuna.

“Quanto mais cedo houver clareza sobre metas e políticas, e quanto mais cedo elas entrarem em vigor, mais fácil será para as empresas desenvolverem uma visão de como atingir as metas. O papel dos reguladores será crucial neste processo, em particular o resultado das negociações em curso na IMO”, observa.

Responsável por 90% de todo o comércio global, o transporte marítimo responde por cerca de 3% das emissões de gases de efeito estufa (GEE). O compromisso da Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) é para cortar esse volume pela metade até 2050.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Mais etanol

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou nesta sexta-feira (28/4) uma proposta para aumentar de 27,5% para 30% o teor de etanol anidro presente na gasolina. A ideia será discutida na próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

Hidrogênio verde em MG

Produtora de fertilizantes nitrogenados, a Atlas Agro planeja uma fábrica em Uberaba para produzir o insumo agropecuário usando hidrogênio verde. Com investimento de cerca de R$ 4,3 bilhões, a obra tem início previsto para 2024, com conclusão até meados de 2027.

Política para fertilizantes

O secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, Pietro Mendes, afirmou, nesta quinta (27/4), que as indústrias de fertilizantes e química serão incluídas como setores prioritários no Gás para Empregar.

O programa virá acompanhado por mudanças legislativas para permitir o swap (permuta) de óleo da União por volumes adicionais de gás natural a serem ofertados por meio da Pré-Sal Petróleo (PPSA), estatal responsável pela comercialização da partilha de produção.

Alternativa ao carvão

Dona do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda (740 MW), em Santa Catarina, a Diamante Energia terá de se preparar para o fim das operações do ativo, após 2040, e aposta na captura e armazenagem de carbono (CCS) e no gás natural como vetores de sua estratégia de transição. A companhia mira, ainda, oportunidades na indústria de fertilizantes nitrogenados — também inserido na cadeia de valor do gás.

200 vagas em eólica

A Aeris Energy, fabricante de pás eólicas, abriu inscrições, até 2 de maio, para mais de 200 vagas de emprego em Caucaia, no Ceará. Os cargos disponíveis são para lideranças, entre posições gerenciais e de coordenação. Parte das oportunidades serão destinadas, exclusivamente, às mulheres e ao público PCD. Veja como se candidatar