RECIFE — A Latam Airlines anunciou, nesta quinta (7/4), a aspiração de incorporar 5% de combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês) em suas operações até 2030, privilegiando a produção da América do Sul.
A meta é reduzir 50% das emissões domésticas de CO2 no período e alcançar a neutralidade de carbono até 2050.
“A América do Sul tem potencial para ser um líder mundial na produção de combustíveis sustentáveis e contribuir de forma muito significativa para as ações climáticas. Para isso, é necessário que os atores públicos e privados, assim como a Latam, desempenhem o seu papel e ousem liderar a transição energética que o mundo exige”, comenta Roberto Alvo, CEO Latam.
Segundo o executivo, o anúncio é um sinal claro ao mercado do interesse em comprar SAF no continente, mas o mercado ainda é imaturo e precisa resolver questões regulatórias para desenvolver a oferta.
“[É um mercado] que ainda não tem as condições propícias para desenvolver o seu potencial, incluindo regimes regulatórios específicos, promoção da tecnologia e inovação, apoio à produção e à cadeia logística, mecanismos para diminuição dos custos”.
O Brasil é um desses países. Aqui, há grande oferta de matéria-prima, mas a regulação ainda dá os primeiros passos.
Levantamento da RSB (mesa redonda sobre biomateriais sustentáveis) identificou no Brasil um potencial para produção de até 9 bilhões de litros de SAF a partir de resíduos.
Mas a primeira legislação sobre o tema foi aprovada em novembro do ano passado, com a criação do Programa Nacional de Bioquerosene. O marco legal prevê estímulos à produção e uso de combustível sustentável de aviação por meio de incentivos fiscais concedidos pelo Executivo, além da destinação de recursos de agências e bancos de fomento federais.
Falta agora resolver questões tributárias e todo um arcabouço regulatório que garanta previsibilidade e segurança jurídica.
Algumas iniciativas como a Plataforma de Bioquerosene e Renováveis da Zona da Mata, em Minas Gerais, e o plano da Petrobras para realizar coprocessamento de óleo vegetal em suas refinarias de petróleo tentam estabelecer essa indústria no Brasil.
No Paraguai, o grupo brasileiro ECB se prepara para começar a produção de biocombustíveis avançados (diesel verde e bioquerosene) em 2024 e já tem contratos de fornecimento com Shell e bp.
“Os elevados custos de produção e a imaturidade do mercado impõem grandes desafios quando se pensa no uso em massa desse tipo de combustível. Nesse sentido, o CEO da Latam fez um chamado às autoridades governamentais, empresas privadas, universidades e o restante das companhias aéreas a colaborar no tema, para gerar incentivos que permitam expandir a produção, a utilização e a massificação do SAF na América do Sul”, diz a empresa em comunicado.
Metas climáticas
A aviação internacional tem meta de zerar as emissões de carbono até 2050 e, para alcançar o objetivo, 65% das reduções devem vir dos combustíveis sustentáveis, estima a Associação Internacional de Transportes Aéreos.
O setor é responsável por cerca de 11% das emissões globais de CO2 dos transportes. Isso representa cerca de 1 bilhão de toneladas de CO2 por ano.
Em maio de 2021, o grupo Latam apresentou sua estratégia de sustentabilidade baseada em três frentes: Mudanças Climáticas, Economia Circular e Valor Compartilhado.
A companhia afirmou que busca o compromisso com a proteção dos ecossistemas estratégicos da América do Sul e que pretende se tornar um grupo zero resíduos para aterro até 2027, além de compensar 50% das suas emissões domésticas até 2030 e ser carbono neutro até 2050.
Parceria vai investir em SAF de biogás e hidrogênio no Paraná
A Agência Técnica de Cooperação Alemã GIZ e o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás) anunciaram na última semana uma planta piloto para produção de SAF a partir de biogás e hidrogênio verde em Foz do Iguaçu, no Paraná.
Com previsão de começar a funcionar em meados de 2023, o projeto conta com investimentos na ordem de R$ 9 milhões. A produção será em escala laboratorial, mas a proposta é desenvolver um modelo que possa ganhar escala e ter os processos replicados.