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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Reduzir as barreiras não tarifárias, ampliar o mercado, estimular investimento em P&D e capacitar profissionais: essas foram as quatro sugestões da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) ao governo brasileiro na defesa da bioeconomia nas discussões do G20.
O Brasil ocupa este ano a presidência do grupo das 20 maiores economias globais. Entre as agendas em discussão este ano está a Iniciativa de Bioeconomia (GIB, em inglês), uma das novidades da cúpula, coordenada pelo Ministério das Relações Exteriores.
É uma área que inclui desde conhecimentos tradicionais, como a utilização e a gestão dos ecossistemas e das espécies da biodiversidade até novas tecnologias, como os nano-materiais de base biológica, em que o país tem enorme potencial a ser explorado.
Mas precisa eliminar barreiras aos produtos de origem biológica.
A primeira reunião do GIB ocorreu em março. Marcia Barbosa, secretária de Política e Programas Estratégicos (Seppe) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), conta que uma das tarefas do grupo de trabalho é alinhar as definições do que é bioeconomia.
“O Brasil, nessa iniciativa de trazer uma discussão específica de bioeconomia, se não trouxer uma definição fechada, vai trazer, pelo menos, uma lista de qualidades que a bioeconomia tem que ter”, disse durante um evento com jornalistas no mês passado.
Segundo a secretária, isso deve estar pronto até o final deste ano, no encerramento dos trabalhos da presidência brasileira.
Plataforma de divulgação
Para a ABBI, um ponto importante é a formalização de compromisso entre os membros do G20 em minimizar a criação de barreiras não tarifárias para produtos da bioeconomia.
Ela cita como exemplo a União Europeia, que no programa Fit for 55 traz uma série de restrições ao uso de biocombustíveis produzidos a partir de culturas destinadas à produção de alimentos, como soja e milho.
“As barreiras não tarifárias podem ser controversas, pois podem ser usadas para proteger os produtores domésticos à custa dos consumidores, deixando de lado os benefícios ambientais e sociais dos produtos da bioeconomia”, diz um documento da ABBI enviado ao Ministério das Relações Exteriores (MRE).
A associação sugere ações como a criação de uma plataforma para divulgação de dados e informações relacionados à disponibilidade, produção e uso de recursos biológicos para fornecer produtos, serviços e energia, com o objetivo de dar mais transparência e facilitar a cooperação internacional.
Também propõe rebater o que chama de “falso dilema: food & fuel”.
“O debate ‘alimento versus combustível’ é frequentemente apresentado como um dilema por alguns países ou instituições, sugerindo que temos que escolher entre produzir alimentos ou biocombustível. No entanto, essa é uma simplificação excessiva e, em muitos aspectos, um falso dilema”, diz a ABBI.
A entidade argumenta que a agricultura moderna tem investido em aumento de produtividade, sendo capaz de produzir muito mais do que é preciso para alimentar a população mundial.
“O problema da fome no mundo tem relação maior com a distribuição e acesso do que a escassez. Muitos dos cultivos criticados para produzir biocombustíveis, geram outros produtos alimentares. Um grande exemplo e o mais criticado é o milho para etanol, que gera etanol pelo amido e os componentes restantes do grão, como proteínas, gorduras, fibras e minerais, são concentrados e transformados em subprodutos valiosos”, explica.
“Precisamos de soluções integradas que considerem tanto a segurança alimentar quanto a energia sustentável”.
Negócio de bilhões
Um estudo de 2022 da ABBI identificou um potencial de US$ 284 bilhões/ano no faturamento industrial brasileiro até 2050 com a total implementação da bioeconomia na produção nacional.
A trajetória depende, no entanto, de alguns movimentos políticos como coordenação de políticas públicas, regulação do mercado de carbono e financiamento.
Politicamente, o tema vem ganhando espaço: está prevista na recém lançada Nova Indústria Brasil (NIB) e no Plano de Transformação Ecológica, apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na COP28 em novembro de 2023.
Um dos exemplos de grande potencial a ser explorado é a oferta sustentável de biomassa para bioenergia.
Com a instalação de biorrefinarias para produção de diesel verde e combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês), além de bioprodutos de maior valor agregado, a exemplo do plástico verde, o país poderia ofertar soluções para sua própria descarbonização e ainda exportar para mercados parceiros, incrementando o PIB.
De acordo com o estudo da ABBI, o Brasil poderia exportar até 8,2 milhões de toneladas de bioquímicos e 159 bilhões de litros de biocombustíveis, gerando receitas brutas de cerca de US$ 392 bilhões em 2050, inserindo tecnologias promissoras de biorrenováveis dentro das cadeias produtivas.
Cobrimos por aqui:
- Entenda o que é o CBAM da UE e qual o impacto para o Brasil
- Maior cooperação aceleraria exportação de etanol, diz diretor da S&P Global
- Birol: Brasil deve levar transição justa e bioenergia para o G20
- Acordo do Banco do Brasil com o BID prevê R$ 1,2 bi para bioeconomia na Amazônia
Curtas
Por falar nela…
O MCTI promove nesta quarta (10/4) e quinta-feira (11) a Conferência Livre “Bioeconomia e CT&I para a Construção de um Mundo Sustentável”. A programação vai debater o Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação em Bioeconomia, principal documento orientador do MCTI para o desenvolvimento de políticas para o setor.
Transição diversificada
O ritmo da adoção de energia limpa acelerou nos últimos cinco anos, especialmente na Ásia, Europa e América do Norte, onde uma combinação de fatores levaram governos e empresas a agir.
Os caminhos para um fornecimento de eletricidade limpa variam bastante, mesmo dentro dos mesmos continentes, como é o caso da Europa: a França assegura dois terços da sua energia a partir de reatores nucleares, a Noruega depende de hidrelétricas e a Dinamarca de parques eólicos e solares.
Empreendedoras fotovoltaicas
O Brasil ultrapassou em março de 2024 a marca de 40 gigawatts de capacidade instalada de geração solar, movimentando um mercado de quase R$ 190 bilhões em investimentos e gerando até 1,2 milhão de empregos, mas, assim como em outros setores da economia, esses novos empregos ainda não conseguem incluir mulheres de forma equilibrada.
Em entrevista à agência epbr, Náchila Oliveira, co-fundadora e CEO da EcoPower, conta como o projeto #EnergiaDelas pretende apoiar a entrada de mulheres no mercado fotovoltaico.
6º maior em energia solar
O Brasil acaba de subir duas posições no ranking mundial dos países com maior potência acumulada da fonte solar fotovoltaica. De acordo com a Absolar, o país encerrou 2023 com 37,4 GW de capacidade operacional solar e assumiu, de forma inédita, a sexta colocação no balanço internacional.
CCS com networking
A CCS Brasil quer construir banco de dados de profissionais, pesquisadores e fornecedores no setor de captura e armazenamento de carbono. Além de fornecer dados estratégicos, os cadastrados também poderão disponibilizar informações que poderão ser úteis para a elaboração de futuros projetos e iniciativas de CCS. É possível se cadastrar como fornecedor ou profissional.