Biocombustíveis

Governo propõe redução de metas do RenovaBio em 2023

Portaria do MME revê para baixo volume de CBIOs a ser adquirido por distribuidores para compensar venda de combustíveis fósseis

Governo propõe redução de metas do RenovaBio em 2023. Na imagem, planta de biodiesel, da Potencial Biodiesel, localizada na cidade da Lapa, no Paraná (Foto: Divulgação)
Planta de biodiesel, da Potencial Biodiesel, localizada na cidade da Lapa, no Paraná (Foto: Divulgação)

BRASÍLIA — O Ministério de Minas e Energia (MME) publicou nesta segunda (31/10) a portaria que define as metas de descarbonização da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) no decênio de 2023 a 2032, com a proposta de reduzir as obrigações das distribuidoras no ano que vem. 

O cálculo é feito a partir da participação das distribuidoras no comércio de combustíveis fósseis e da capacidade de oferta, por parte dos produtores de biocombustíveis, de créditos de descarbonização (CBIOs).

Cada CBIO equivale a uma tonelada de CO2. A finalidade é diminuir a intensidade de carbono na matriz brasileira de combustíveis. 

Para 2023, o governo propõe uma meta de aquisição de 35,45 milhões de créditos de descarbonização — abaixo dos 42,35 milhões aprovados pelo comitê do programa no ano passado. Também é inferior à meta de 2022 (35,98 milhões).

Para os anos seguintes, o ministério acompanha o cronograma anterior, e propõe que as obrigações atinjam 99,22 milhões de títulos em 2032. 

Como as metas são estabelecidas a partir do volume de combustíveis fósseis comercializado no ano anterior, a análise da quantidade de créditos é feita anualmente pelo governo.

A revisão para baixo, no entanto, vai na contramão do crescimento do mercado de combustíveis fósseis em 2022.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) calcula crescimento de 2,4% nas vendas de diesel este ano.

A previsão também é de aumento para a gasolina em 2022, de 3,1%, refletindo a desoneração do combustível e ganhando mercado no Ciclo Otto, onde concorre com o etanol hidratado. As vendas do biocombustível devem recuar 3,7% este ano.

Como justificativa para recuo na meta, a nota técnica do governo aponta para uma baixa na quantidade de CBIOs disponíveis no mercado, com perspectiva de queda na produção de etanol por problemas de safra e maior atratividade para o açúcar.

O cálculo do MME também considera o teor de biodiesel no diesel comercializado em 2023 de 10%, como em 2022, e abaixo dos 15% que eram previstos para o ano que vem no cronograma do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

Mas deixa claro que não é uma sinalização sobre qual será o percentual do ano que vem.

A proposta está em consulta pública e as contribuições serão enviadas para ao CNPE. Após aprovação, cabe à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) fazer o rateio entre as distribuidoras.

Interferência no mercado

Dados da B3 desta segunda (31/10), onde os CBIOs são negociados, mostram que as distribuidoras de biocombustíveis aposentaram, até o momento, cerca de 22 milhões de títulos. 

Na sexta, os créditos eram negociados ao preço médio de R$ 93,68, após terem atingido máxima de R$ 202 em junho.

Um mês depois de os preços alcançarem o pico, o então presidente Jair Bolsonaro (PL) promulgou um decreto aumentando o prazo para as distribuidoras comprovem o cumprimento de suas metas individuais. 

As empresas terão até 30 de setembro de 2023 — e não mais o fim deste ano — para comprovar a compra de créditos de descarbonização (CBIOs) referentes a 2022.

Com a medida, o governo tentava puxar para baixo o preço do título de descarbonização, com impacto no preço final dos combustíveis, em meio à corrida para a reeleição.

O decreto também altera o prazo para os próximos anos: a comprovação das metas anuais deve ocorrer até 31 de março do ano subsequente. Com isso, as distribuidoras ganham mais três meses para comprovar o cumprimento de suas metas.

As distribuidoras acusam os produtores de biocombustíveis de represar os créditos, para provocar inflação do CBIO.

Já os produtores tentam reverter a decisão. No Congresso, há um projeto de decreto legislativo para sustar o decreto.

Corte de tributos tira competitividade de etanol

Após a implementação do teto do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) nos estados e a isenção dos impostos federais sobre o preço dos combustíveis, o mercado de biocombustíveis sofreu baixa frente ao crescimento nas vendas de combustíveis do Ciclo Otto.

A fixação da alíquota em 17% a 18% pela Lei Complementar n° 194/2022, sancionada em julho, incidiu na redução no preço dos combustíveis e favoreceu paridade acima de 70% em grande parte do Centro-Sul.

Como resultado, a demanda por combustíveis fósseis apresentou resultados positivos no primeiro semestre deste ano e deve permanecer estável na segunda metade, estima StoneX.

Os números da consultoria também sugerem queda de 0,7% no consumo de etanol em relação ao ano anterior.