Biocombustíveis

Fracasso da venda direta de etanol x soluções para gasolina e diesel

Observar a dinâmica do mercado de combustíveis é essencial para buscar medidas efetivas para os objetivos definidos, escreve Marcus D’Elia

Fracasso da venda direta de etanol x soluções para gasolina e diesel. Na imagem, bomba de abastecimento de combustível
Apenas postos “bandeira branca” e fisicamente próximos de usinas compram diretamente, pois para os mais distantes, essa logística é inviável. (Foto: Agência Brasil)

Os resultados da venda direta de etanol das usinas aos postos de combustíveis são um material interessante para um estudo de caso do setor. Assim como as medidas atualmente em discussão sobre a gasolina e o diesel, os objetivos eram ampliar a concorrência e permitir a redução de preços ao consumidor.

Porém, os dados divulgados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), coletados de novembro de 2021 a fevereiro de 2022, mostram que a permissão da venda direta foi inócua. O volume de etanol movimentado não foi significativo — apenas 15,4 milhões de litros, o que corresponde a menos de 1% do consumo nacional — e não foi possível mensurar o efeito sobre os preços.

Esses resultados foram previstos por estudos da Leggio Consultoria e é importante conhecer seus motivos.

As distribuidoras de combustíveis movimentam grandes volumes de uma só vez e, por isso, utilizam dutos e ferrovias, reduzindo assim os custos de transporte por metro cúbico. Em outros casos, são utilizados veículos de grande volume que têm uma produtividade alta tanto no transporte quanto na carga e descarga de produto.

Entraves à venda direta de etanol

Quando um posto compra etanol diretamente de um fabricante, é necessário usar caminhões de menor tamanho para transportar volumes pequenos, levando a custos maiores. Dessa forma, a almejada redução no preço final não acontece.

Outro ponto importante que explica a venda direta ser irrelevante é a localização geográfica das usinas, situadas nas regiões produtoras de cana e longe dos centros consumidores. Apenas postos “bandeira branca” e fisicamente próximos de usinas compram diretamente, pois para os mais distantes, essa logística é inviável. Ou seja, poucos postos estão aptos a comprar etanol diretamente dos fabricantes.

Há ainda um fator de mercado: os preços do combustível nas bombas tendem a se equiparar dentro de uma mesma área de influência, principalmente em um mercado de commodity. Assim, ainda que haja uma redução no custo final, essa não é repassada para o consumidor.

Investimento em infraestrutura

Observar a dinâmica do mercado de combustíveis é essencial para buscar medidas efetivas para os objetivos definidos, como acontece agora com a discussão sobre o preço da gasolina e do diesel. Algumas das sugestões em discussão nas últimas semanas tendem a ser inócuas ou gerar o efeito contrário.

É o caso, por exemplo:

  • da criação do fundo de compensação proposto no PL 1472/2021, que não tem capacidade de absorver grandes oscilações no preço do petróleo;
  • da alteração da política de preço de paridade internacional, pois em um mercado de commodity vai gerar um desequilíbrio na Petrobras e causar desabastecimento interno;
  • e da ampliação da capacidade de refino, que é pouco atraente num cenário de substituição energética.

Uma das soluções mais eficazes para aumentar a concorrência e reduzir o preço final dos derivados de petróleo é investir em infraestrutura, com a construção de novas rotas de movimentação de granel líquido. Dessa forma, será possível modificar diferentes parcelas que compõem o preço final, como os preços de aquisição e de movimentação.

Por isso, o foco das entidades governamentais deve ser atrair capital para o setor, viabilizando investimentos que o poder público não consegue realizar neste momento.

Marcus D’Elia é sócio-diretor da Leggio Consultoria, especializada em O&G e Infraestrutura. A consultoria tem como cliente empresas do setor de petróleo e energia.