Política de biocombustíveis

Comitê RenovaBio define cronograma para metas de descarbonização até 2035

Enquanto governo avança com novas regras e multas para distribuidoras, setor critica "intervenção sem racionalidade técnica" no programa de biocombustíveis

Reunião do Comitê da Política Nacional de Biocombustíveis (Comitê RenovaBio), em 23 de abril de 2025 (Foto Tauan Alencar/MME)
Reunião do Comitê da Política Nacional de Biocombustíveis (Comitê RenovaBio), em 23 de abril de 2025 (Foto Tauan Alencar/MME)

JUIZ DE FORA — O Comitê da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) realizou nesta quarta-feira (23/4) sua primeira reunião de 2025 para avaliar o cumprimento das metas atuais e preparar as novas diretrizes de redução de emissões para o 8º Ciclo (2026-2035). O grupo, ligado ao Ministério de Minas e Energia (MME), analisou o mercado de créditos de carbono (CBIOs) e iniciou a regulamentação de novas regras de fiscalização, segundo a pasta em nota.

Em 2024, o programa superou sua meta anual, com 42 milhões de CBIOs emitidos — acima também dos 40,9 milhões previstos para este ano, apontou o MME durante apresentação técnica.

Novas regras e multas

O comitê avançou na discussão sobre o decreto nº 12.437/2025, regulamentado na semana passada (17/4), que ampliou as penas para distribuidoras inadimplentes com as metas individuais do RenovaBio e por descumprimento da mistura obrigatória de biodiesel.

Entre as punições mais rigorosas estão a suspensão das atividades de importação e comercialização de combustíveis, aplicação de multas que podem alcançar R$ 500 milhões e o encaminhamento obrigatório dos casos de descumprimento ao Ibama, Ministério Público Federal (MPF) e Advocacia-Geral da União (AGU) para as devidas providências.

“O RenovaBio é um instrumento estratégico para a transição energética brasileira. A atuação do comitê garante o alinhamento institucional necessário para a definição das metas com base em critérios técnicos e previsibilidade para o mercado”, afirmou o diretor de Biocombustíveis do MME, Marlon Arraes, durante a reunião.

Também participaram a Agência Nacional do Petróleo Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e ministérios envolvidos na política de biocombustíveis.

A reunião discutiu principalmente três pontos: avaliação do desempenho do mercado dos Créditos de Descarbonização (CBIOs), a elaboração da agenda de trabalho para o ano e o planejamento do cronograma que definirá as novas metas do programa.

O cronograma para as metas do próximo ciclo (2026-2035) será definido nos próximos meses, em meio ao debate sobre o equilíbrio entre fiscalização e operação do mercado.

Controvérsias

Enquanto o comitê discutia a implementação das metas, a Associação Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (ANDC) criticou publicamente as novas regras de fiscalização e afirmou que decreto “reforça o cenário de instabilidade e de intervenção administrativa desprovida de racionalidade técnico-normativa”.

A regulamentação prevê a proibição de vendas a distribuidoras inadimplentes, teto de R$ 500 milhões para multas, além da inclusão em lista pública de infratores.

A entidade contesta principalmente a vedação de vendas a empresas com pendências anteriores a 2025.

Desde 2020, a ANP abriu 172 processos e outros 61 entraram na fila em janeiro, envolvendo a aquisição frustrada de 22 milhões de CBIOs. Os casos saltaram de 35 no primeiro ano do programa para mais de 50 a partir de 2022. As multas somam R$ 344 milhões, dos quais R$ 2,2 milhões foram quitados ou parcelados.

O controle e a aplicação das medidas caberá à agência.

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