A adoção de tecnologias de captura de carbono pode render até US$ 20 bilhões por ano às empresas brasileiras nos próximos anos, ao mesmo tempo em que ajuda setores intensivos em energia a cumprir seus compromissos climáticos, segundo cálculos da CCS Brasil.
No mundo, a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) tem mapeado 47 projetos em operação, com uma capacidade anunciada que varia de 74 a 82 milhões de toneladas de CO2 (MtCO2) capturados por ano, no total.
Os anúncios estão em alta: mais de 200 novas instalações são planejadas para entrar em operação até 2030, capturando mais de 220 milhões de toneladas CO2/ano. Em 2022, foram 159 novos projetos anunciados.
Conforme a tecnologia ganha mercado, uma sopa de letrinhas começa a aparecer cada vez mais no noticiário CCS, CCUS, BECCS e DACCS. Mas, afinal, qual a diferença?
CCS: captura para armazenamento de carbono
CCS é uma sigla em inglês para captura e armazenamento de carbono. Significa que uma empresa que investe em um projeto de CCS vai capturar e armazenar permanentemente aquele carbono.
É o caso, por exemplo, do Northern Lights, no Mar do Norte, que vai transportar o carbono capturado da fábrica de amônia e fertilizantes da Yara na Holanda para armazenamento permanentemente na plataforma continental na costa da Noruega.
Também no Mar do Norte, o consórcio Greensand inaugurou no início de março seu projeto de captura e armazenamento com a primeira injeção de CO2 em um campo de petróleo esgotado em águas dinamarquesas.
Aqui no Brasil, a Petrobras estuda implantar um hub CCS para oferecer o serviço a indústrias e vai começar por um projeto piloto no terminal de Cabiúnas, em Macaé (RJ), uma das bases da principal província petrolífera do país.
O CO2 pode ser armazenado ou em aquíferos de água salgada – impróprias para consumo humano – ou em campos depletados de petróleo, sempre a uma distância mínima de mil metros da superfície.
CCUS: captura com utilização do carbono
Outra possibilidade é a utilização (a letra “U” do CCUS). A IEA mapeia 35 instalações comerciais aplicando CCUS em processos industriais, transformação de combustíveis e geração de energia.
Cerca de 230 milhões de toneladas CO2 são usadas por ano, principalmente na indústria de fertilizantes para fabricação de uréia (~130 Mt) e para recuperação avançada de petróleo (~80 Mt).
E a transição energética está abrindo novos caminhos, com os combustíveis sintéticos baseados em CO2 e o hidrogênio azul.
A ExxonMobil está desenvolvendo no Texas, EUA, um empreendimento do tipo, para capturar cerca de 7 milhões de toneladas de CO2 por ano e gerar cerca de 28,3 milhões de metros cúbicos de hidrogênio por dia.
Por enquanto, é a maior planta de hidrogênio de baixo carbono do mundo, com início previsto para 2027-2028.
BECCS: captura pela rota da bioenergia
Já o BECCS vem de bioenergia com CCS e pode resultar em um sistema negativo em carbono. Usinas de etanol nos Estados Unidos e Reino Unido já investem na solução.
Uma das vantagens é que o processo de fermentação para produzir etanol permite o resgate de um CO2 com 98% de pureza para armazenamento. No Brasil, associações do setor calculam que a cada tonelada de milho é possível capturar 320 kg de CO2
Em Decatur, Illinois (EUA), o BECCS é aplicado em dois projetos da Archer Daniels Midland (ADM). Mais de 3,5 milhões de toneladas de CO2 foram armazenadas a mais de 2 km de profundidade desde 2011.
Esses projetos estão servindo de base para a expansão das redes ou hubs de captura e armazenamento de carbono, especialmente na parte central dos Estados Unidos, conta Sallie Greenberg, pesquisadora da Universidade de Illinois.
Por aqui, a produtora de etanol de milho FS Agrisolutions está investindo R$ 350 milhões em um sistema para capturar, comprimir e transportar o CO2 emitido pela fábrica de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, até um local de armazenamento subterrâneo.
O projeto está em fase de confirmação geológica. Para isso, é preciso perfurar um poço de estudos de dois quilômetros de profundidade, o que deve ser feito em meados deste ano.
DACCS: remoção de carbono do ar
Há ainda a captura direta do ar (DACCS, em inglês). Em julho do ano passado, sete companhias aéreas e a fabricante europeia de aeronaves Airbus anunciaram que vão explorar oportunidades de “um fornecimento futuro de créditos de remoção de carbono da tecnologia de captura direta do ar”.
O grupo formado por Air Canada, Air France-KLM, easyJet, International Airlines Group, LATAM Airlines, Lufthansa e Virgin Atlantic, além da Airbus, vê na tecnologia um complemento a outras soluções de descarbonização, como o combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês), cobrindo as emissões remanescentes que não podem ser eliminadas diretamente.
A tecnologia envolve a filtragem e a remoção das emissões de CO2 diretamente do ar usando ventiladores de alta potência. Uma vez removido do ar, o CO2 é armazenado de forma permanente em reservatórios geológicos.
Com edição de Nayara Machado