Biocombustíveis

Caminhões da Vibra passam a usar diesel verde no Galeão

Distribuidora utilizará 10% de diesel verde somado ao percentual obrigatório de 10% de biodiesel no abastecimento da frota

Caminhões da BR Aviation (Vibra) passam a usar diesel verde no Galeão. Na imagem: Caminhão da BR Aviation abastecido com diesel verde para as operações no Aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão, no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)
15 veículos da BR Aviation serão abastecidos com diesel verde (Foto: Divulgação)

LUÍS CORREIA —  A Vibra iniciou, no último mês, o abastecimento da frota de caminhões com 10% de diesel verde (HVO) para as operações no Aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão, no Rio de Janeiro.

A Vibra opera o segmento de aviação por meio da BR Aviation, legado da privatização da BR Distribuidora, mediante acordo para licenciamento das marcas originais da Petrobras, sua antiga controladora.

Segundo a distribuidora, 15 veículos serão abastecidos com o conteúdo renovável, o que impedirá a emissão de 14 toneladas de gases de efeito estufa (GEE) por ano. Além de HVO, a frota circulará com os 10% de biodiesel (B10) obrigatórios por lei.

Com isso, a composição do combustível final passa a ser 20% renovável e 80% fóssil

A iniciativa é uma aposta para reduzir as emissões de CO2 nas atividades da BR Aviation, unidade de negócios para serviços de abastecimento de aeronaves e outras atividades no segmento aéreo da Vibra.

O diesel verde ou HVO (sigla em inglês para óleo vegetal hidrotratado) é produzido pelo processamento de óleos vegetais, sendo capaz de eliminar em quase 90% as emissões de dióxido de carbono (CO2), em comparação ao diesel fóssil.

O percentual equivale ao ciclo de vida de 100 árvores, tendo em vista que, em média, sete árvores captam cerca de uma tonelada de CO2 durante 20 anos.

Por ser menos poluente do que os combustíveis derivados de petróleo, o diesel verde vem sendo difundido comercialmente como promessa de fonte limpa para os meios de locomoção de difícil descarbonização, como os transportes de carga.

Como ainda não há previsão legal para uso do combustível no país, a iniciativa da Vibra é voluntária.

Após as avaliações da primeira fase no aeroporto do Galeão, a empresa quer expandir o uso para outras operações da companhia, de olho na inserção do diesel verde na matriz de combustíveis brasileira.

Com o compromisso de atingir o net zero até 2025 em suas atividades operacionais e também administrativas, a Vibra anunciou que será offtaker da primeira biorrefinaria dedicada à geração de HVO no Brasil.

Localizada em Manaus, a usina terá capacidade produtiva de 500 mil toneladas de combustível por ano. De acordo com a distribuidora, a planta, em ponto estratégico, poderá abastecer toda a região Norte do país.

Falta regulação

O diesel verde teve especificação aprovada pela ANP em março de 2021, mas a discussão de uma política para sua inserção na mistura com o diesel ainda corre em duas frentes.

No Congresso Nacional, um projeto de lei apresentado em 2021 pelo deputado Ricardo Barros (PP/PR), propõe o uso obrigatório do diesel verde, a partir de março de 2027, no percentual de 2% — sem interferir na mistura vigente de biodiesel.

Já o governo federal incluiu a agenda no programa Combustível do Futuro, no subcomitê dedicado a políticas para o ciclo diesel.

No final do ano passado, o político epbr, serviço exclusivo para assinantes, teve acesso às partes suprimidas do relatório do subcomitê com argumentos a favor da participação de renováveis em até 20% no ciclo diesel, com o aumento de um ponto percentual na mistura com o fóssil a partir de 2024.

A proposta era abrir espaço para o diesel verde e o coprocessado da Petrobras, dentro do mandato de biodiesel, mas sem estabelecer uma reserva para qualquer uma das rotas.

O estudo tentava demonstrar a viabilidade da mistura atingir 16% em 2024, 17% em 2025 e 18% em 2026. Em 2027, entraria em vigor um mandato de 20% de biocombustíveis, do qual 1% obrigatoriamente teria que ser diesel verde.

O relatório foi aprovado pelo GT no final de 2021. O documento, no entanto, ficou sob sigilo até novembro de 2022, quando foi publicado com cortes pelo governo junto com a decisão de manter em 10% a mistura de biodiesel no primeiro trimestre de 2023 (.pdf)

“O relatório publicado no site do MME foi submetido ao CNPE, sendo o único válido”, afirmou a pasta, em nota em dezembro.

Vale dizer que o setor de biodiesel tinha resistência a uma proposta desse tipo, mesmo com a elevação da mistura — defendem a solução dos dois mandatos. Temem a escala da Petrobras, combinada com a emissão de CBIOs pela companhia.