BRASÍLIA — O Santander concedeu um novo financiamento de R$ 40 milhões vinculado a compromissos ESG (sigla em inglês para aspectos ambientais, sociais e de governança) à produtora brasileira de biodiesel BSBIOS.
Entre os compromissos está o aumento da participação de gorduras animais, um subproduto do abate, como matéria-prima na produção de biodiesel.
Esta é a segunda operação do tipo entre Santander e BSBIOS este ano — a primeira, em julho, foi de R$ 60 milhões.
A operação foi estruturada como um Sustainability Linked Loan. Neste modelo, o banco oferece um incentivo ao cliente (redução da taxa de juros da operação) mediante cumprimento de metas para indicadores ambientais, sociais ou de governança preestabelecidos em contrato.
Segundo a companhia, os R$ 100 milhões estão sendo investidos no aperfeiçoamento das operações.
As contrapartidas incluem a ampliação do projeto social de coleta de óleo de cozinha usado, em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, e a implantação do Programa Crédito de Fornecedor Sustentável 2SC, com desenvolvimento sustentável da cadeia de fornecimento e bônus de crédito de carbono.
Erasmo Carlos Battistella, presidente da BSBIOS, explica que o programa busca construir uma cadeia de fornecimento de matéria-prima sustentável para a produção de biocombustíveis, capaz de atender as demandas dos mercados interno e externo.
É uma forma de responder, por exemplo, a questionamentos externos sobre o impacto da produção de bioenergia sobre os recursos naturais e a produção de alimentos.
“Para nós é muito importante ter o Santander seguindo em conjunto com este programa, pois fortalece a crença de que somos, no Brasil, exemplo de produção de matérias-primas e de biocombustíveis com sustentabilidade”, comenta Battistella.
Além de duas unidades produtivas no país, uma em Passo Fundo (RS) e outra em Marialva (PR), a BSBIOS também conta com uma unidade de produção na Suíça e está construindo uma biorrefinaria no Paraguai, com previsão de produzir diesel verde e combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês) a partir de 2025.
Investimento em resíduos
No financiamento divulgado esta semana, a BSBIOS se compromete a ampliar o volume de gorduras animais como matéria-prima do biodiesel e à geração de créditos de descarbonização do RenovaBio (CBIOs) oriunda de fornecedores participantes do Programa 2SC.
A iniciativa 2SC oferece benefícios financeiros e incentivos ESG aos fornecedores de matéria-prima, além de capacitação em parceria com o Sebrae.
Na primeira operação, de julho, o compromisso estava vinculado à ampliação de uma programa de recolhimento de óleo de cozinha usado de estabelecimentos comerciais e de residências, em parceria com a Cooperativa Amigos do Meio Ambiente (Coama), que atua com recicladores.
Produção em queda
A produção de biodiesel no Brasil recuou 14% no primeiro semestre e deve fechar o ano em 6,3 bilhões de litros, um pouco abaixo dos 6,7 bi em 2021. A queda é consequência do corte na mistura obrigatória com o diesel, que deveria ser de 14% este ano, explicam os produtores.
Até junho de 2022, último mês com dados disponíveis da ANP, o volume de vendas de biodiesel foi de 2,9 bilhões de litros. No acumulado do mesmo período do ano passado, o volume comercializado foi de 3,4 bilhões de litros.
A redução da mistura obrigatória de 14% para 10% deve tirar do mercado este ano cerca de 2,5 bilhões de litros de biodiesel. Volume que terá que ser compensado com importações de diesel de petróleo.
De acordo com a Abiove, que representa a indústria de óleo vegetais, o Brasil despendeu U$S 6,6 bilhões em importação de óleo diesel entre janeiro e setembro de 2022.
Para 2023, a associação calcula que a retomada no cronograma de mistura, com B14 em janeiro e fevereiro e B15 a partir de março, a demanda pelo produto renovável seria da ordem de 9,9 bilhões de litros.