Biocombustíveis

Brasil vai precisar de metas mais agressivas para SAF no futuro, diz executivo da Honeywell

País tem potencial de ser importante player no mercado de biorrefino, avalia o diretor de Vendas para a América Latina Leon Melli

Brasil vai precisar de metas mais agressivas para SAF no futuro, diz Leon Melli [na imagem], diretor de Vendas da Honeywell Energy & Sustainability Solutions para a América Latina (Foto: Divulgação)
Leon Melli, diretor de Vendas da Honeywell Energy & Sustainability Solutions para a América Latina (Foto: Divulgação)

RIO – O Brasil vai precisar adotar mandatos mais agressivos no futuro para os combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, em inglês), em comparação aos que estão sendo discutidos hoje no projeto de lei do Combustível do Futuro (PL 528/2020), defende o diretor de Vendas da Honeywell Energy & Sustainability Solutions para a América Latina, Leon Melli.

Segundo o executivo, as metas previstas no PL em discussão no Senado são importantes para ajudar a formar um mercado para o SAF no Brasil e para viabilizar os primeiros investimentos, mas demandarão revisão no longo prazo. 

“Como no passado aconteceu com o etanol e com o biodiesel, esse tipo de mandato é fundamental para que se comece a formar um mercado. Neste momento, é fundamental que se replique essa fórmula de sucesso”, disse em entrevista à agência epbr, durante o Fórum Net Zero no Rio de Janeiro. 

O projeto de lei prevê que a partir de 2027 as companhias aéreas em operação no país terão que reduzir as emissões de carbono em 1% a partir de 2027, percentual que vai aumentar para 10% até 2037. 

Hoje, o Brasil consome cerca de 110 mil barris/dia de querosene de aviação (QAV). Para cumprir o mandato de descarbonização, será necessário substituir parcelas do combustível fóssil, o que levará a uma demanda inicial de SAF estimada em mil barris por dia. 

“São valores ainda modestos comparado com outras regiões do mundo. Mas, sem dúvida, é um passo inicial bastante importante para que a gente consiga ajudar a fomentar essa indústria e formar esse mercado”, diz Melli. 

A expectativa é que parte do volume produzido no Brasil seja exportado, mas o diretor da Honeywell ressalta que vai ser importante que o país dê o exemplo com o fomento ao mercado nacional. 

“Com a consolidação dos mandatos e os apoios necessários, somado ao cenário brasileiro de disponibilidade abundante de matérias-primas, nós acreditamos muito que o Brasil vai conseguir se consolidar como um player muito relevante dentro desse mercado”. 

Fornecedor global

Projeções mostram que a demanda mundial será de pelo menos 400 mil barris/dia de SAF até 2030 para que as companhias aéreas cumpram as metas de descarbonização estabelecidas pelo Corsia

“O mercado global de biocombustíveis vai precisar de mais adição de capacidade”, afirma Melli. 

Já existem três projetos de produção de SAF anunciados no país. A Petrobras tem iniciativas para instalar plantas de biorrefino dedicadas à produção de SAF e diesel 100% renovável na Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), em São Paulo, e no Polo Gaslub, no Rio de Janeiro, que serão concluídas após 2028.

A previsão é que o projeto na RPBC tenha capacidade de produzir 15 mil barris/dia de bioquerosene, enquanto o Polo Gaslub deve entregar 19 mil barris/dia.

Já a Acelen anunciou uma unidade na Bahia com capacidade para cerca de 20 mil barris/dia. 

Para atrair mais investimentos, Melli ressalta que o Brasil vai precisar fazer um “dever de casa”, que vai além do estabelecimento dos mandatos.

“O que a gente precisa é que os empresários tenham as condições necessárias do ponto de vista fiscal, de suporte de investimentos e de estruturação de projetos para que seja possível cumprir com essas metas agora claramente estabelecidas”, defende.  

Aproveitar refinarias existentes torna biorefino mais competitivo

O diretor da Honeywell observa ainda que o aproveitamento da infraestrutura existente de refinarias fósseis em projetos de biorefino dá mais competitividade à produção de combustíveis menos poluentes. 

Plantas de biorefino podem fazer uso, por exemplo, de parques de tancagem, salas de controle, sistemas de proteção a incêndios e mecanismos de tratamento de água e de resíduos já instalados em refinarias tradicionais. 

“Boa parte desses ativos podem ser aproveitados e convertidos para o novo propósito, reduzindo bastante o custo desses projetos, que são intensivos em capital por natureza”, explica. 

Isso é importante sobretudo num contexto em que o país tem necessidade de maiores investimentos em infraestrutura. 

Um dos grandes desafios que o Brasil vai enfrentar nos próximos anos é o gargalo logístico para atender à crescente demanda por combustíveis no país, incluindo os biocombustíveis, mas também os fósseis, aponta o diretor. 

Ele lembra que também é possível aproveitar equipamentos do processo produtivo fóssil para a produção de combustíveis menos poluentes, com a tecnologia de produção por hidrotratamento (Hefa), que ocorre por meio do hidroprocessamento de óleos, gorduras e ácidos grátis. É um processo similar ao usado pela Petrobras para o coprocessado na Refinaria Presidente Vargas (Repar), no Paraná. 

“Esse é um processo que já ocorre hoje em virtualmente todas as refinarias, só que o que hoje se hidrotrata são as correntes fósseis”, explicou. 

Para casos em que a carga a ser processada tem maior teor de fontes renováveis, no entanto, faz mais sentido a construção de uma unidade de processamento dedicada. É o caso do projeto de biorefino da Acelen na Bahia, baseado na macaúba.