Relatório do Boston Consulting Group (BCG) estima que o Brasil pode atender 15% da demanda de transporte marítimo global com biocombustíveis até 2050 e atrair investimento de US$ 90 bilhões.
Segundo maior produtor de etanol e biodiesel do mundo, o país pode alavancar sua liderança em biocombustíveis para atender às exigências da estrutura regulatória do IMO Net Zero, mecanismo da Organização Marítima Internacional para atingir emissões líquidas zero no transporte marítimo até meados da década.
O mecanismo foi aprovado em abril de 2025 e passará por uma rodada final de votações em outubro. A expectativa é que entre em vigor a partir de 2028.
“Com as embarcações necessitando reduzir drasticamente a intensidade de suas emissões de gases de efeito estufa (GEE), com penalidades que variam de US$ 100 a US$ 380 por tonelada de CO2e para o não cumprimento, haverá uma crescente demanda por combustíveis marítimos de baixa emissão”, aponta Arthur Ramos, diretor executivo e sócio do BCG.
“Neste cenário, os biocombustíveis brasileiros, como o biodiesel e etanol, oferecem alternativas de rápida implementação, competitivas em custo e escaláveis, cujo aumento da oferta será apoiado na restauração de terras degradadas”, afirma.
De acordo com o relatório do BCG, o biodiesel brasileiro (B100) apresenta um custo de abatimento de US$ 220-230/tCO2e em portos brasileiros e US$ 280-300/tCO2e em portos como Roterdã e Cingapura, ambos significativamente menores que as penalidades da IMO.
Da mesma forma, o etanol brasileiro mostra custos de abatimento de US$ 205-210/tCO2e em portos brasileiros e US$ 265-275/tCO2e em portos globais, reforçando sua atratividade econômica.
“Esta vantagem pode gerar uma redução de aproximadamente 170 milhões de toneladas de CO2e por ano e atender a 15% da demanda de energia do transporte marítimo até 2050″, calcula Ramos.
A estimativa é de uma oportunidade de investimento em cerca de US$ 90 bilhões especificamente para a cadeia de valor de biocombustíveis marítimos.
No entanto, o relatório aponta que a consolidação do arcabouço regulatório da IMO, a efetividade de mecanismos de incentivo claros (com a IMO visando finalizar as recompensas até março de 2027) e os avanços tecnológicos, especialmente para motores a metanol compatíveis com etanol, são cruciais.
Recuperação de terras degradadas
O estudo também destaca o potencial brasileiro na produção de biocombustíveis para a restauração de terras degradadas.
Como líder global em agricultura regenerativa, com até 100 milhões de hectares dedicados à integração lavoura-pecuária-floresta e plantio direto, o país pode dedicar cerca de 25 milhões de hectares para culturas que permitam utilização com biocombustíveis, em adição à promoção do reflorestamento e aumento da produção de alimentos.
Para o BCG, a implementação de corredores verdes e a recuperação de pastagens degradadas também podem contribuir para desbloquear a escala da produção de biocombustíveis e fortalecer ainda mais a liderança brasileira.