É possível que o lixo, antes um problema para a sociedade e o planeta, se converta em soluções sustentáveis? Sim, a partir de resíduos sólidos urbanos (RSU), com forte investimento em tecnologia e treinamento profissional, pode-se transformar um passivo ambiental em um ativo energético, com incontáveis benefícios ambientais e econômicos.
O biometano é um gás natural renovável proveniente da purificação do biogás – uma das fontes de energia renováveis mais promissoras no mercado de combustíveis, por sua versatilidade e capacidade de descarbonizar outras indústrias.
A geração de biogás, proveniente da biodigestão anaeróbica dos resíduos sólidos urbanos, caracteriza-se por uma boa estratégia de sustentabilidade e economia para o país, uma vez que a matéria orgânica necessária para produzi-lo está disponível por todo o território nacional.
O uso do biogás valoriza gases que seriam lançados na atmosfera, transformando-os em produtos de fonte renovável, mais acessíveis e menos impactantes que outras fontes de energia.
Versatilidade do biometano
Para que o biogás se torne biometano faz-se necessário uma sequência de etapas de processamento, iniciadas pelo pré-tratamento de gases como H2S, VOCs e Siloxanos e finalizadas pela purificação do metano, processo chamado de upgrading, que concentra o metano através de processos distintos, resultando em um produto muito semelhante ao gás natural.
Assim que o biogás é transformado em biometano, o mesmo pode ser injetado diretamente nas redes de gás, transportado por modais distintos (na forma de GNC ou GNL) ou ainda utilizado como combustível veicular, na forma de GNV.
O cenário de transição da matriz energética, que propõe uma remodelação no jeito de produzir e consumir energia, a fim de reduzir a dependência das fontes fósseis – extremamente poluentes, por meio da adoção de fontes limpas e renováveis – , tornou o biogás a menina dos olhos quando se fala em energia renovável. Por consequência, o biometano é parte da solução para o combustível do futuro.
Recentemente o Governo Federal lançou o Metano Zero, com expectativas de atingir os compromissos de redução da emissão de gás metano até 2030, mola propulsora para o biometano. A política abrange também a Portaria nº 65/2022 do Ministério de Minas e Energia, que inclui os projetos de biometano no Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (Reidi).
Substituição das importações de diesel
O Brasil importa 30% do diesel que consome. O biometano será capaz de mitigar essa necessidade de importação em dez anos, o que é de grande importância no que se refere à sustentabilidade e menos emissão de gás carbônico.
O país tem explorado apenas 3% da capacidade total de geração de biogás. O volume de gás natural renovável, hoje disponível, é inferior a um milhão de metros cúbicos por dia. Apesar de grande parte das plantas, 80%, estar concentrada no setor agropecuário, é o setor de saneamento que produz o maior volume de biogás, com 9% de representação em número de plantas, e 74% de produção de biogás.
Estudo da consultoria McKinsey destaca um potencial de mercado de US$ 7,7 bilhões para o biometano, graças à alta disponibilidade de matéria-prima, o que aponta o Brasil com chance de alcançar uma produção de 460 milhões de MMBTU – unidade de medida do consumo de gás natural – até 2030, cerca de 25% da demanda de gás natural doméstica.
Em uma análise macro, dados da União Nacional da Bioenergia, divulgados recentemente, mostram que 2022 terminou com boas notícias para o mercado de biogás, com uma considerável margem de crescimento.
Segundo números do Panorama do Biogás no Brasil 2021, do Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás), a produção de biogás também vem obtendo um crescimento exponencial nos últimos anos. De 2020 para 2021, o número de plantas de geração de biogás cresceu 16%, passando de 653 para 755. Mas ainda há muito a ser alcançado.
Protagonismo em negócios sustentáveis
Foi entendendo essa questão e vendo a grande oportunidade de um negócio sustentável que a Orizon Valorização de Resíduos criou a BioE, braço da companhia em energia renovável que tem o biometano como protagonista.
Hoje, produzimos biometano para UTE Paulínia Verde, em São Paulo, e temos um pipeline de pelo menos 10 novas plantas e investimentos superiores a R$ 1 bilhão nos próximos anos, sendo a BioE off taker do biogás nos ecoparques.
Na vanguarda da agenda de sustentabilidade urbana do país, acreditamos que a BioE contribuirá para que o país possa avançar na transição energética de baixo carbono através de uma matriz energética ainda mais diversificada e renovável.
Há, hoje, uma demanda de grandes players dos mais diversos setores da economia, pela substituição de combustíveis de origem fóssil pelo gás natural renovável.
Em conclusão, o mercado internacional está pujante e o nosso compromisso é apresentar alternativas sustentáveis. Um grande passo rumo a uma economia de baixo carbono, contribuindo para a redução de emissões na atmosfera e, consequentemente, apoiando a transição da matriz energética brasileira.
Jorge Rogério Elias é Diretor de Engenharia e Implantação da Orizon Valorização de Resíduos.
Este artigo expressa exclusivamente a posição do autor e não necessariamente da instituição para a qual trabalha ou está vinculado.
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