Biocombustíveis

Bioeconomia pode adicionar US$ 284 bi à indústria brasileira até 2050

Trajetória depende, no entanto, de avanços na coordenação de políticas públicas, regulação do mercado de carbono e financiamento

Bioeconomia pode adicionar US$ 284 bi à indústria brasileira até 2050. Planta multifuncional de PolyTHF, da BASF (Foto: Divulgação)
A bioeconomia é capaz de desvincular aumento da produção e crescimento econômico do aumento das emissões (Foto: BASF /Divulgação)

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Diálogos da Transição

Editada por Nayara Machado
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Estudo da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI) identificou um potencial de US$ 284 bilhões/ano no faturamento industrial brasileiro até 2050 com a total implementação da bioeconomia na produção nacional.

Essa trajetória depende, no entanto, de pelo menos três movimentos políticos: coordenação de políticas públicas, regulação do mercado de carbono e financiamento.

Para a ABBI, o Brasil precisa consolidar uma “estratégia nacional de bioeconomia”, que considere as particularidades e vantagens competitivas regionais, as ambições climáticas e promova interação entre os diferentes setores econômicos.

A ideia é fomentar a oferta sustentável de biomassa e a instalação de biorrefinarias para produção de biocombustíveis — como diesel verde e combustível sustentável de aviação (SAF, em inglês) — além de bioprodutos de maior valor agregado, a exemplo do plástico verde.

O relatório traça três cenários para o Brasil até 2050, partindo das políticas atuais até um horizonte mais ambicioso.

A associação estima que o Brasil poderia exportar 8,2 milhões de toneladas de bioquímicos e 159 bilhões de litros de biocombustíveis, gerando receitas brutas de cerca de US$ 392 bilhões em 2050, inserindo tecnologias promissoras de biorrenováveis dentro das cadeias produtivas — no cenário Potencial da Bioeconomia.

O montante é US$ 147 bilhões superior ao observado no cenário Abaixo de 2°C e US$ 284 bilhões superior em relação ao cenário Políticas Correntes.

Vale dizer: para evitar eventos climáticos cada vez mais extremos e imprevisíveis, cientistas do IPCC alertam que o mundo precisa limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC até 2100, e estamos chegando a um ponto de não retorno

Além de uma estratégia nacional, alcançar esse potencial vai demandar altos investimentos. É aí que entram os mercados de carbono e políticas de financiamento.

“Muitas das tecnologias e dos bioprodutos necessários para o avanço da bioeconomia ainda não são competitivos em relação aos seus substitutos fósseis e necessitam de políticas e regulações que valorizem os seus benefícios ambientais”, explica o documento.

“Políticas públicas e financiamento que permitam o compartilhamento de riscos da inovação são essenciais. A bioeconomia se baseia no avanço de tecnologias com diferentes graus de maturidade, que dependem de investimentos públicos e privados de longo prazo, compartilhamento de riscos e direcionamento para os setores-chave bioeconomia”, completa.

O estudo também dá a solução para uma equação há muito usada como desculpa para colocar economia e meio ambiente como oponentes.

“A bioeconomia é capaz de desvincular aumento da produção e crescimento econômico do aumento das emissões. Na verdade, ela inverte a relação”, dizem os autores.

No cenário mais ambicioso, a maior parte da redução de emissões alcançadas no segmento vem da recuperação de cerca de 6 milhões de hectares de pastagens e da produção de biocombustíveis associados à captura e estocagem de carbono.

Entre os cenários Potencial da Bioeconomia e Abaixo de 2°C há uma redução de quase 550 milhões de toneladas de CO2e acumuladas no período entre 2010 e 2050. Veja na íntegra (.pdf)

Cobrimos por aqui:

Biogás de olho no mercado de SAF

A empresa de biotecnologia Geo está investindo R$ 15 milhões em uma planta-piloto para produção de combustível sustentável de aviação em unidades de geração de biogás no Paraná.

O projeto de demonstração terá capacidade de fabricação inicial de 660 litros por dia a partir dos resíduos de cana-de-açúcar. A rota utilizada pela Geo é a Fischer-Tropsch, onde o hidrogênio é produzido pelo vapor de biogás, não sendo necessária a fonte externa de hidrogênio verde (H2V) de eletrólise, tornando a rota menos dispendiosa em relação ao consumo energético. Leia na epbr

Por falar em SAF

A Real Força Aérea do Reino Unido (RAF) realizou o primeiro voo mundial utilizando 100% de combustível de resíduos em aeronave militar na última semana. O voo teste teve duração de 90 minutos e decolou da base aérea de Brize Norton, em Oxfordshire, na Inglaterra.

A aeronave modelo RAF Voyager, variante militar do Airbus A330, substituiu o querosene fóssil por SAF em ambos os motores. O uso de 100% do biocombustível no espaço aéreo britânico também é inédito.

Agrotóxicos no Senado

Com pedido de vista coletiva acatado, a votação do projeto que flexibiliza as regras de aprovação e comercialização de agrotóxicos pela Comissão de Agricultura (CRA) foi adiada. Em reunião nesta quinta-feira (23), o relator do PL 1.459/2022 e presidente do colegiado, senador Acir Gurgacz (PDT/RO), apresentou novo relatório e já marcou a deliberação para a próxima terça-feira (29/3). Agência Senado

Usinas do Norte com certificação verde

Os municípios de Amajari e Pacaraima, em Roraima, serão os primeiros do país a receber projetos de energia híbrida. As usinas serão construídas pela Xavantes, empresa controlada pelo Grupo OnCorp, em parceria com o Grupo Moura.

Os projetos consorciam geração térmica, energia solar fotovoltaica (FV) e sistemas de armazenamento de energia em baterias (BESS).

Segundo o diretor executivo da Oncorp, João Mattos, na estruturação do projeto, o  grupo percebeu que ele se enquadraria nos critérios ESG (ambiental, social e de governança), rotulagem que foi decisiva para obtenção do financiamento do Bradesco.

Para garantir o lastro ESG, a consultoria EY coordenou a captação de recursos do projeto, e a Nint fez a verificação. No período de cinco anos, é esperada uma redução no consumo de cerca de 17,5 milhões litros de combustível e 47 mil toneladas de CO2.

O selo verde da operação foi dado como “em transição” porque a energia ainda não é totalmente limpa.

Para aprofundar: Razões para investir na transição energética e na descarbonização Reduzir emissões de forma justa impõe também um desafio de comunicação às lideranças políticas, escreve Carlos Peixoto

Diálogos da COP 27 | Reveja as entrevistas feitas pela agência epbr com especialistas em clima e transição energética, agentes do mercado, indústria e sociedade civil durante a conferência.