Biocombustíveis

Biodiesel e Diesel R da Petrobras são ofertas complementares de biocombustíveis

Biocombustíveis são opção a densidade e portabilidade dos combustíveis fósseis. Diesel R da Petrobras pode elevar papel de destaque do Brasil no setor, escreve Marcelo Gauto

Biodiesel e Diesel R da Petrobras são ofertas complementares de biocombustíveis. Na imagem: testes de produção de diesel verde da Petrobras (diesel R5) na Repar (Foto: Divulgação/Agência Petrobras)
Testes de produção de diesel verde da Petrobras (diesel R5) na Repar (Foto: Divulgação/Agência Petrobras)

O segmento de transporte pesado, que engloba caminhões de longo curso, navios e aviões, é um dos ditos difíceis de se descarbonizar. Isso porque a maioria das alternativas tecnológicas existentes é proibitivamente cara ou não está madura o suficiente para desempenhar um papel significativo na redução das emissões de carbono no momento.

Para este segmento, a opção pronta para competir com a densidade e portabilidade dos combustíveis fósseis se encontra hoje nos biocombustíveis. E o Brasil que já é destaque nesta rota, pode ser ainda mais com a chegada do Diesel R da Petrobras.

A tradição em biocombustíveis

Os números não deixam dúvidas sobre a liderança do Brasil no segmento de biocombustíveis. Em termos absolutos, é o segundo maior produtor mundial, atrás apenas dos Estados Unidos (Figura 1). O país tem longa tradição na produção e uso de etanol e desde 2008 tem o biodiesel como contribuinte no ciclo diesel.

Na Figura 1, a lista dos dez maiores produtores de biocombustíveis do mundo em 2021 (Fonte: elaboração própria, a partir de BP Statistical Review, 2022)
Figura 1 – Dez maiores produtores de biocombustíveis do mundo em 2021 (Fonte: elaboração própria, a partir de BP Statistical Review, 2022)

A chegada do Diesel R

O Diesel R é hoje produzido no país exclusivamente na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária (PR), através do coprocessamento de óleo vegetal com diesel mineral na etapa de hidrotratamento (hidrogenação catalítica).

No coprocessamento, a carga renovável é misturada em linha com o diesel de petróleo para obtenção de um combustível com menor pegada de carbono (Figura 2). O percentual de conteúdo renovável depende da quantidade de óleo vegetal coprocessado.

Na configuração Diesel R5, por exemplo, garante-se que o diesel final produzido contém 5% de conteúdo renovável, sendo este arranjo justamente o utilizado no primeiro lote comercial produzido pela Petrobras em setembro de 2022.

O valor do “R”, que faz alusão ao conteúdo renovável, pode ser maior, a própria Repar tem licença da ANP para produção de Diesel até a configuração R10. O projeto da Repar é o pioneiro no Brasil, de outros que estão a caminho.

O coprocessamento de cargas renováveis em refinarias de petróleo não é invenção Tupiniquim, já vem sendo utilizado por grandes empresas de óleo e gás no mundo.

Figura 2 – Esquema do coprocessamento utilizado na obtenção do Diesel R (Fonte: elaboração própria)
Figura 2 – Esquema do coprocessamento utilizado na obtenção do Diesel R (Fonte: elaboração própria)

Há previsão de se expandir a produção de Diesel R obtido por coprocessamento para outras refinarias: RPBC (SP), Replan (SP) e Reduc (RJ), além de uma expansão da capacidade de produção da própria Repar.

No total, estima-se que a soma destes projetos atinja a capacidade de produção de aproximadamente 8,9 bilhões de litros por ano Diesel R na configuração R5.

A planta dedicada da Petrobras

Além dos projetos de coprocessamento relatados, está previsto o investimento da Petrobras em uma planta dedicada de biorrefino em Cubatão (SP), junto da RPBC, cuja carga será exclusivamente de matérias primas sustentáveis.

É uma planta com capacidade estimada de 790 mil toneladas por ano. Lá serão produzidos Diesel R100, conhecido como Diesel Verde ou HVO (hydrotreated vegetable oil), BioJet, um combustível de aviação sustentável (SAF), entre outros bioprodutos (Figura 3).

Vale ressaltar que tanto o Diesel R coprocessado quanto o Diesel Verde da futura planta dedicada são ditos drop-in, isto é, podem ser utilizados em qualquer proporção de mistura com o diesel fóssil sem exigir quaisquer mudanças dos motores ou infraestrutura existente associada ao ciclo diesel.

Na Figura 3, o esquema de produção de uma planta dedicada de Diesel R100 e SAF com percentuais de produção estimados pela Petrobras (Fonte: elaboração própria, a partir de Petrobras, 2022)

Figura 3 – Esquema de produção de uma planta dedicada de Diesel R100 e SAF com percentuais de produção estimados pela Petrobras (Fonte: elaboração própria, a partir de Petrobras, 2022)

Diesel R não afetará a liderança do biodiesel no país

Como dito anteriormente, o Brasil conta com percentual de mistura obrigatória de biodiesel ao diesel fóssil desde 2008, quando o B2 — mistura de 2% de biodiesel ao diesel — passou a participar da matriz energética, em desdobramento à Lei 11.097/05. De lá para cá, tanto o mercado diesel quanto o teor de mistura obrigatória cresceram, de maneira que o consumo de biodiesel no país superou os 6,5 bilhões de litros em 2021 (Figura 4).

Figura 4 – Produção anual de Biodiesel no Brasil desde 2005 (Fonte: elaboração própria, a partir de dados ANP, 2022)
Figura 4 – Produção anual de Biodiesel no Brasil desde 2005 (Fonte: elaboração própria, a partir de dados ANP, 2022)

Mensurando a parcela renovável do Diesel R de todos os projetos de coprocessamento colocados nos Plano de Negócios e gestão 2023-2027 da Petrobras, a produção máxima estimada seria de 0,45 bilhão de litros/ano no horizonte do plano, uma fração aproximada de 6,5% do volume de biodiesel produzido no país em 2021.

Mesmo quando se considera a estimativa da Planta Dedicada de biorrefino, o volume não chega perto do atual tamanho do mercado interno de biodiesel, que tem perspectivas de crescimento pelo aumento do percentual obrigatório de mistura.

Além disso, é importante frisar que o Diesel R não deve ser encarado como uma “ameaça” ao biodiesel, levando-se em consideração o tamanho do desafio que se tem pela frente para descarbonização do segmento de transportes pesados no Brasil e no mundo. É um esforço conjunto.

O desafio da descarbonização

O Diesel R é um desenvolvimento voluntário da Petrobras, um passo à frente, que demonstra interesse genuíno da companhia com o desenvolvimento sustentável e intenção real de contribuição na transição energética.

Por óbvio, espera-se que, em breve, a parcela renovável do Diesel R, obtido por coprocessamento, seja reconhecida pela ANP como biocombustível e uma rota elegível a participar do Renovabio, para emissão de CBIOs, os créditos de descarbonização, dentro dos ritos do programa.

O desafio da descarbonização dos segmentos “pesados” exigirá um esforço maior comparativo aos demais setores que trilham a transição energética, sendo ainda mais imperativo a multiplicidade de soluções e rotas tecnológicas, operando em ambiente competitivo.

O Brasil, referência mundial na produção de biocombustíveis, dá um passo à frente com a chegada do Diesel R e, em breve, dará um ainda maior com o Diesel Renovável, ambos biocombustíveis drop-in, somando-se essas alternativas ao exitoso histórico que tem com etanol e biodiesel.

As externalidades positivas serão aumentadas, a cadeia agro fortalecida e mais um importante passo está sendo dado na caminhada do difícil, mas não impossível, Net Zero. É o Brasil maior, com Diesel R e Biodiesel. Avante!

Do mesmo autor:

Referências

ANP. Dados Estatísticos. Disponível em: <gov.br/anp/pt-br/centrais-de-conteudo/dados-estatisticos>. Acessado em novembro de 2022.

BP. BP Statistical Review of world energy. Disponível em: <bp.com/en/global/corporate/energy-economics/statistical-review-of-world-energy.html>. Acessado em novembro de 2022.

PETROBRAS. Plano Estratégico. Disponível em: <petrobras.com.br/pt/quem-somos/plano-estrategico>. Acessado em dezembro de 2022.

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