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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Projetos de biorrefino para produção de diesel verde, combustíveis sintéticos e combustíveis sustentáveis de aviação (SAF, em inglês) estão na lista de prioridades para receber financiamento do BNDES e Finep na política Nova Indústria lançada pelo governo brasileiro nesta segunda (22/1).
Junto com hidrogênio de baixo carbono e tecnologias de captura de carbono, a produção de novos combustíveis é indicada na estratégia do governo Lula (PT) como caminho para substituir o consumo de combustíveis fósseis.
Faz parte do eixo 5 “Bioeconomia, descarbonização e transição e segurança energéticas para garantir os recursos para as gerações futuras”, cujas metas incluem reduzir 30% da emissão de CO2 por valor adicionado da indústria e ampliar em 50% a participação dos biocombustíveis na matriz de transportes.
Hoje, a indústria emite 107 milhões de toneladas de CO2 por trilhão de dólares adicionado. Já a participação de biocombustíveis na matriz está em 21,4%.
Mais do que descarbonizar a matriz, é um movimento econômico, que busca enfrentar a concorrência externa: Estados Unidos, China e União Europeia são grandes mercados que estão subsidiando a transição verde de suas indústrias.
Durante o lançamento da nova política industrial em Brasília, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, disse que o Brasil precisa aproveitar a janela de oportunidade que se abre com o deslocamento das cadeias de valor em direção aos insumos descarbonizados.
E defendeu a maior participação do Estado – como ocorre em países ricos – no financiamento da indústria verde.
Segundo Mercadante, a transição exige essa participação porque é mais caro investir na produção verde e, para disputar o mercado internacional, o setor privado precisa de competitividade.
O financiamento ocorrerá de duas formas:
- Não reembolsáveis: soluções tecnológicas para redução de emissões; desenvolvimento de biocombustíveis do futuro; geração de energias renováveis; minerais estratégicos; bioprodutos e bionsumos a partir de fontes renováveis.
- Reembolsáveis: bioprodutos e bioinsumos; captura de carbono; diesel verde; hidrogênio de baixo carbono; tecnologias de armazenamento de energia.
Demanda por novos combustíveis
Entre os dez maiores mercados globais para o transporte aéreo, o Brasil tenta aprovar no Congresso Nacional um projeto de lei para descarbonizar a aviação doméstica, com metas a partir de 2027, o que criará demanda para o SAF.
No entanto, o país ainda não produz esse tipo de combustível.
Petrobras e Acelen são duas empresas que já anunciaram planos de investir no biorrefino para atender a demanda nacional ou mesmo exportar – já que o mercado internacional está sedento pelo SAF.
É justamente neste cenário de oportunidades que a política lançada hoje tenta alavancar a produção nacional.
Estudo lançado no início do ano pelo Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e Fórum Econômico Mundial (WEF) aponta que a ausência de incentivos políticos e o custo do financiamento são duas das principais barreiras para o estabelecimento da indústria de SAF no Brasil.
De acordo com o documento (.pdf), considerando apenas resíduos do agro, o país tem matéria-prima suficiente para produzir 9 bilhões de litros por ano de biocombustível para aviação – o suficiente para atender a demanda doméstica, cortar 15% de emissões até 2030 e ainda exportar.
Cobrimos por aqui:
- BNDES de olho nos combustíveis sintéticos
- SAF precisará de incentivos para decolar no Brasil
- Hidrogênio limpo mais barato ajudará a conter custos na aviação
- Bahia planeja hub de combustíveis verdes para navios e aviões
Eletrificação e biocombustíveis na frota terrestre
A expectativa é que até 2030 o Brasil avance na produção de veículos elétricos e híbridos, “com ênfase nos combustíveis alternativos”.
Um dos principais instrumentos usado para atingir esse objetivo será o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), que prevê a redução de R$ 3 bilhões de impostos por ano para as empresas que se comprometam a investir em pesquisa e desenvolvimento e cumpram metas de eficiência energética.
Outros instrumentos são a Plataforma Nacional de Mobilidade Elétrica (PNME), que em 2024 vai trabalhar para desenvolver uma estratégia nacional de mobilidade sustentável, e os “corredores sustentáveis”, que preveem editais de concessão de rodovias com infraestrutura de recarga elétrica com conteúdo local.
Ao todo, o programa Nova Indústria Brasil espera destinar R$ 300 bilhões para financiamento do setor industrial no país, até 2026.
Os recursos serão, em maior parte, geridos pelo BNDES, que além do crédito, também prevê a participação acionária em empresas de segmentos estratégicos, como as de minerais críticos, baterias e veículos elétricos.
Mercadante afirma que o banco tem R$ 8 bilhões no orçamento para aquisições.
Curtas
Hidrogênio verde em Rondônia
Senai e governo estadual lançaram, na última semana, um projeto para mapear a cadeia produtiva de hidrogênio verde no estado. O Roadmap para o Desenvolvimento da Cadeia Produtiva de Hidrogênio Verde (H2V) em Rondônia busca fortalecer o ambiente regulatório, desenvolver uma plataforma tecnológica e identificar oportunidades de investimentos.
Foco em ESG
A BB Asset, do Banco do Brasil, e a JGP anunciaram na manhã desta segunda (22) a criação de uma nova gestora focada em investimentos sustentáveis. O objetivo é impulsionar o financiamento de projetos que atendam a critérios ESG (ambientais, sociais e de governança).
Financiamento para eficiência
O BNDES aprovou apoio financeiro de R$ 75 milhões à Comerc Energia para implantação de soluções de eficiência energética em dez empreendimentos nos setores industrial e de varejo, além de um edifício comercial. A expectativa é que os clientes da Comerc reduzam em até 79% o consumo de energia, economia estimada de até 66 GWh ao ano.
Parte dos recursos (R$ 27 milhões) serão viabilizados com recursos do Fundo Clima. A Comerc afirma que os projetos vão contribuir para evitar emissões de gases de efeito estufa de até 59 mil toneladas de CO2 equivalente.
Mudança climática no topo dos riscos
Empresários apontam questões relativas aos distúrbios do clima como principal risco para 2024, mostra uma pesquisa da Allianz Commercial. No ano passado, esse tema aparecia em oitavo lugar. Ainda no ranking, outro temor crescente ligado ao meio ambiente é com catástrofes naturais, incluindo enchentes e temperaturas extremas, que subiu do sexto para o quarto lugar.
Armazenamento de energia
A Equinor anunciou, nesta segunda-feira (22/1), que entrou em operação seu primeiro empreendimento de armazenamento de energia elétrica em escala comercial, no Reino Unido. O projeto Blandford Road tem capacidade nominal de 25 MW e pode armazenar até 50 MWh de eletricidade.