Opinião

Ativos verdes, um mercado em plena expansão

Emissão e comercialização podem movimentar até US$ 30 bilhões nos próximos cinco anos, impulsionadas por fatores como metas de descarbonização, escrevem Paulo Costa, José Mauro Coelho e Guilherme Mercês

Governo estuda aumentar mistura de etanol anidro na gasolina para 30%, diz Silveira. Usina São Martinho, produtora de açúcar e etanol em Pradópolis, São Paulo (Foto: Marco Aurélio Esparza/Wikimedia Commons)
Usina São Martinho, produtora de açúcar e etanol em Pradópolis, São Paulo (Foto: Marco Aurélio Esparza/Wikimedia Commons)

A emissão e a comercialização de ativos verdes têm crescido de forma acelerada no Brasil. Acredita-se que possa atingir entre US$ 20 bilhões e US$ 30 bilhões nos próximos cinco anos. Isso se dá por vários motivos, entre eles o engajamento das instituições financeiras brasileiras na distribuição de produtos e serviços que promovam práticas sustentáveis.

Como exemplos temos a constituição de fundos de investimento ESG e de fundos de impacto e empréstimos verdes, com a atração de capital para projetos ligados a energia renovável, gestão de resíduos e infraestrutura sustentável.

O comprometimento de algumas empresas brasileiras com metas de descarbonização é outro vetor de impulsionamento dos ativos verdes. Tais compromissos têm promovido a captação de recursos financeiros para tecnologias de redução de emissões e a compra de créditos de carbono.

A negociação de créditos de carbono, por sua vez, incentiva a preservação ambiental, o desenvolvimento da agricultura regenerativa e a expansão das energias renováveis.

Para que os créditos de carbono sejam emitidos, o projeto precisa ser estruturado em um padrão reconhecido internacionalmente, auditado por uma terceira parte e registrado na plataforma do padrão escolhido.

Os créditos de carbono não são apenas um mecanismo financeiro, mas um motor de inovação e transição para uma economia de baixo carbono. 

Os créditos de descarbonização (CBIOs) da Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) é um exemplo bem-sucedido de crédito de carbono.

As unidades produtoras de biocombustíveis passam por uma certificação dada por uma análise do ciclo de vida do produto, que premia as unidades de produção mais eficientes ao lhe conceder uma maior Nota de Eficiência Energética-Ambiental (Neea) e, consequentemente, maior quantidade de certificados para venda na B3 (Bolsa de Valores Brasileira).

Todos os CBIOs são fungíveis, emitidos pela contratação de uma instituição financeira escrituradora e, posteriormente, registrados, o que lhes conferem a máxima credibilidade.   

Os CBIOs têm promovido a recertificação de plantas de produção de biocombustíveis empenhadas em aprimorar seus processos para obter maior eficiência e, consequentemente maior Neea.

Nessa esteira, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem apoiado financeiramente projetos que visam a ampliação da eficiência energética-ambiental e a certificação de processos produtivos em unidades de biocombustíveis.

O Governo Federal tem criado, além dos CBIOs novos instrumentos financeiros, como as Cédulas de Produto Rural Verde (CPRs Verdes) e o Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro), que potencializam a captação de recursos financeiros e o pagamento pela prestação do serviço ambiental.

O Governo também tem realizado políticas públicas que fomentam a transição e a inclusão de novos biocombustíveis na matriz energética brasileira, como a Lei do Combustível do Futuro (Lei 14.993/2024).

Além da inovação regulatória, trazida pelo Banco Central do Brasil, que determina a inclusão de riscos ambientais e climáticos nas avaliações de risco financeiro dos bancos e a trazida pela Comissão de Valores Mobiliários, na Resolução CVM 175/22, que autoriza os fundos de investimento e as empresas de capital aberto a comprarem CBIOs e outros créditos de carbono. 

Além do etanol e do biodiesel, o cenário de transição energética tem oferecido novas oportunidades para outros biocombustíveis, como o biometano, que ganha destaque a partir de 2026.

A este biocombustível foi concedida a possibilidade de que o seu atributo ambiental possa ser negociado de forma separada da molécula. A Lei do Combustível do Futuro criou o Certificado de Garantia de Origem de Biometano (CGOB), que mensura e atesta a capacidade de descarbonização do biometano. 

As expectativas deste novo mercado têm levado unidades de gestão de resíduos e empresas do setor sucroenergético a anunciarem novos investimentos na purificação de biogás e na produção e comercialização de biometano.

Os agentes do setor de gás natural que primeiro entenderem como este novo mercado irá funcionar, como por exemplo: os impactos no preço, como o atributo ambiental será transacionado, o comportamento do consumidor livre e como mitigar riscos, sairão na frente.  

No campo do desenvolvimento tecnológico e inovação, startups têm desenvolvido ativos digitais lastreados em carbono com a tecnologia blockchain, que garantem a rastreabilidade e o acesso a pequenos investidores.

A oportunidade da distribuição de ativos verdes no varejo também tem atraído a atenção de grandes bancos e plataformas internacionais de negociação, além de uma reanálise da própria B3, que já disponibiliza o CBIO.

No âmbito dessa disputa pelo capital do investidor está a busca por credibilidade e o reconhecimento do mercado – credibilidade que cresce na medida que os ambientes de negociação passam a garantir a idoneidade dos ativos transacionados ao invés de apenas assegurar o controle de titularidade.

Em meio a esta diversidade de conhecimentos, startups e consultorias têm firmado parcerias para entregar valor na análise de investimentos que promovam a transição energética, no encontro de instrumentos de alavancagem em atividades de impacto, no escrutínio de ativos verdes e na análise dos impactos da transição energética na indústria do petróleo, gás natural e biocombustíveis. 

Este artigo expressa exclusivamente a posição dos autores e não necessariamente da instituição para a qual trabalham ou estão vinculados.


Paulo Costa é CEO da startup House Of Carbon.

José Mauro Coelho é sócio da consultoria Aurum Tank.

Guilherme Mercês é sócio da consultoria Aurum Tank.

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