RIO – A discussão sobre o perfil de emissões de metano no Brasil confronta duas associações relacionadas ao aproveitamento energético de resíduos sólidos urbanos (RSU) no país.
De um lado, a Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (Abren), que defende a incineração do lixo para produção de energia. Do outro, a Associação Brasileira do Biogás e do Biometano (Abiogás).
A gestão de resíduos é um problema histórico das cidades brasileiras e, nesse momento de reformas setoriais – decisões políticas sobre estímulos aos mercados – a Abren contestou o perfil de emissões de metano no Brasil e fez críticas a uma emenda no projeto do mercado de carbono, que pode beneficiar a recuperação de biogás.
É uma defesa para preservar a incineração para geração de energia no planejamento do país.
A presidente da Abiogás, Renata Isfer, disse, em entrevista à agência epbr, que “o estudo não tem rigor científico. São conceitos, teses e estudos equivocados”.
Os dados utilizados pela Abren são de comparações feitas em aterros sanitários no Brasil, de dezembro de 2022 a julho de 2023, usando imagens de satélite da Nasa e GHG SAT.
Segundo a Abren, os aterros sanitários responderiam por 45% das emissões no país, e, mesmo com captura de biogás, deixariam escapar 50% do metano para a atmosfera.
Margem de erro superior a 90%
Segundo Isfer, a margem de erro média de todos os registros foi de 50%, com algumas chegando a valores superiores a 90%, considerando as emissões de metano de apenas quatro locais no Brasil.
“São fotos feitas em momentos específicos, não há uma média diária, além de não considerar o Brasil inteiro”, afirma a executiva.
A conclusão veio após a Abiogás consultar a MDC, referência na produção de biometano, que contratou os serviços de uma empresa que fornece os dados de satélites relativos às emissões de metano em aterros sanitários, analisando 197 registros de emissões.
Ainda assim, a Abiogás e a MDC decidiram analisar estes dados sob a ótica comparativa entre aterros que possuem captura de biogás para aproveitamento energético (biometano ou energia elétrica).
“O que nós fizemos foi comparar as emissões dos aterros que fazem tratamento do biogás, e descobrimos que eles emitem cinco vezes menos metano que os aterros que não fazem esse tratamento”, ressalta Isfer.
Disputa pela energia do lixo
A discussão sobre as emissões de metano nos aterros importa, pois as associações disputam qual seria o melhor destino dado aos resíduos sólidos urbanos para aproveitamento energético, e qual das soluções traria maior benefício ambiental.
“A incineração faz muito sentido em algumas situações. Mas não faz sentido, por exemplo, incinerar resíduos orgânicos, que são melhor aproveitados para o biogás e para produção de fertilizantes”, avalia Renata Isfer.
“Além disso, existem materiais que podem ser reciclados. Eles devem ser reciclados e não incinerados”, completa a presidente da Abiogás.
Para Renata, outro ponto a favor do biogás é a viabilidade econômica, uma vez que a incineração demanda altos investimentos.
“O biogás é bem mais barato que a incineração. As prefeituras não conseguem dinheiro nem para aterros sanitários, imagina investir em usinas de incineração”, pontua.
Na visão da Abren, apenas a incineração combinada à biodigestão poderia resolver o problema do lixo no Brasil e evitar as emissões, fazendo com que o país cumpra o acordo global de redução de metano, do qual é signatário.
“Biodigestão é uma boa solução. Agora, pra você resolver o problema, tem que ser casado com a combustão”, disse o presidente da Abren, Yuri Schmitke, em entrevista dada à agência epbr em dezembro.
Nela, o executivo defendeu que, para o Brasil alcançar suas metas de redução de metano, seriam necessárias 120 usinas de Waste to energy via incineração, havendo viabilidade técnica para implementação dessas plantas em 28 regiões metropolitanas do país, com mais de um milhão de habitantes, o que representa 47% do lixo urbano.