RIO – A cerimônia de lançamento das obras na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Ipojuca (PE), nesta quinta (18/1) e com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), marca o retorno dos investimentos pesados da Petrobras no segmento e da busca pela autossuficiência, dessa vez no abastecimento de combustíveis.
A principal entrega é concluir o segundo trem da refinaria, a metade do projeto que foi engavetada com as crises pós-2014, nas primeiras gestões petistas, e agravadas pelos crimes investigados na Lava Jato. Está prevista para 2027.
No governo de Jair Bolsonaro, a empresa fracassou na tentativa de vender a refinaria.
Antes, a Petrobras estima que será possível ampliar em 30% a capacidade de refino com investimentos nas unidades existentes.
Em nota divulgada hoje, o presidente da companhia, Jean Paul Prates, afirmou que a estatal projeta um aumento de 40% na capacidade total da produção de diesel no país nos próximos anos.
Ressaltou que os investimentos “poderão contribuir, de forma rentável, para tornar o país autossuficiente na produção de combustíveis, reduzindo a demanda por importação”. Hoje, o Brasil importa cerca de um terço do diesel que consome.
A estimativa de Prates leva em consideração os projetos de adequação e aprimoramento do parque de refino. O plano de negócios da Petrobras para os anos de 2024 a 2028 prevê US$ 17 bilhões em investimentos para as áreas de refino, comercialização e logística.
A conclusão do segundo trem da Rnest é o único projeto de capacidade nova de refino previsto no plano, além das revitalizações das unidades existentes. Após a conclusão, a refinaria pernambucana vai ter capacidade de processamento de 260 mil barris/dia de petróleo.
Hoje, a Rnest tem capacidade para produzir 100 mil barris/dia e responde por cerca de 6% da produção nacional de diesel. Com o segundo trem, a previsão é que a refinaria pernambucana passe a responder por cerca de 10% de todo o diesel produzido no Brasil, afirmou o gerente-geral da Rnest, Márcio Maia, em entrevista coletiva na tarde desta quarta (17).
“Essa obra vai acrescentar 13 milhões de litros de diesel por dia à capacidade de produção e vai contribuir para a autossuficiência do país em diesel”, acrescentou a gerente executiva de projetos de desenvolvimento da produção, Mariana Cavassin, que também participou da entrevista.
Amanhã vai ser realizada a cerimônia de retomada dos investimentos, com a presença do presidente Lula, Prates, além de representantes da Casa Civil e do Ministério de Minas e Energia (MME), segundo o Planalto.
O ministro Alexandre Silveira está em Davos, na Suíça, na comitiva brasileira do Fórum Econômico Mundial.
Também será lançada pela estatal uma iniciativa de capacitação profissional, o programa Autonomia e Renda. A previsão é de que as obras na refinaria pernambucana gerem 30 mil empregos diretos e indiretos, com pico em 2025.
A iniciativa faz parte de um esforço do governo federal para evitar falta de mão de obra na execução do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), do qual a Rnest faz parte.
“Com a Rnest, vamos ter uma capacidade de refino muito maior do [que] hoje, mas também gerar emprego ao longo da sua construção e depois da sua manutenção. Então, nós temos que estar preparados e preparar os brasileiros para conseguir aproveitar essas oportunidades”, disse o secretário adjunto de articulação e monitoramento de políticas sociais da Casa Civil, Rogério da Veiga, durante a coletiva nesta tarde.
Retomada em três etapas
A retomada da Rnest será dividida em três etapas. Na primeira fase, que já está em andamento, vai ocorrer a conclusão da unidade de abatimento de emissões (Snox), responsável por converter o óxido de enxofre e óxido de nitrogênio em produtos comerciais. A previsão é de entrada em operação em 2024.
Já na segunda fase, que deve entrar em operação em 2025, está previsto o revamp do primeiro trem. Adequações nas unidades de destilação atmosférica e coqueamento devem ampliar a capacidade da refinaria para processar 130 mil barris/dia de petróleo.
A terceira etapa é a conclusão do trem 2. O início das obras está previsto para o segundo semestre de 2024, com o início da partida em 2027.
“Como estamos falando de várias unidades em um sistema muito complexo, vamos ter entregas parciais. Então, assim que as unidades mais simples da refinaria forem concluídas, elas passam a operar e depois, gradativamente, até 2028, entregamos as demais unidades”, explicou Cavassin na tarde de hoje.
Investimento total deve ser divulgado em fevereiro
O investimento total no projeto da Rnest ainda não foi divulgado, devido ao andamento da licitação para as obras. O recebimento das propostas técnicas e econômicas está previsto para fevereiro. Depois dessa etapa, a companhia deve divulgar os valores, segundo Cavassin.
A refinaria pernambucana recebeu US$ 18 bilhões em investimentos até o momento em que teve as obras paralisadas, no contexto das investigações da Operação Lava Jato.
Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), o custo da refinaria teve um aumento de mais de oito vezes desde a concepção, em 2005. Segundo um relatório publicado pelo órgão em 2021, o aumento nos custos ocorreu por “ampliações e redesenhos não suportados tecnicamente, antecipações de investimentos e cancelamentos”.