José Mauro Coelho renunciou à presidência da Petrobras na manhã desta segunda-feira (20/6). O diretor de exploração e produção, Fernando Borges, assume o comando da estatal de forma interina, até que Caio Paes de Andrade seja efetivado no cargo.
Coelho se despede após ficar 68 dias na chefia da estatal. Ele também deixa a posição que ocupava no conselho de administração da companhia.
O executivo havia sido demitido no dia 23 de maio, 40 dias após tomar posse do cargo, mas continuou comandando a empresa enquanto a efetivação de seu substituto — Caio Paes de Andrade — ainda aguarda os trâmites internos da companhia.
Nessa cobertura sobre preços e Petrobras:
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José Mauro renuncia sob pressão
José Mauro Coelho vinha sendo pressionado a renunciar nas últimas semanas. A situação dele ficou insustentável após a estatal anunciar um novo reajuste dos combustíveis, na sexta-feira (17/6).
O aumento de 14,25% no preço do diesel e de 5,2% na gasolina, nas refinarias, promete corroer a redução dos preços que o governo prometeu com o pacote de corte de impostos anunciado por Jair Bolsonaro (PL) na semana passada.
Na própria sexta, após o anúncio do reajuste, o presidente da Câmara, Arthur Lira, afirmou, nas redes sociais, que Coelho praticava em sua gestão um “ato de terrorismo corporativo”. E pediu a renúncia imediata do executivo.
Na véspera, durante live semanal, na quinta-feira, Bolsonaro já havia dito que esperava, até o fim desta semana, conseguir trocar o comando da estatal. Segundo o presidente da República, um eventual aumento dos preços da Petrobras, naquele momento, “seria um interesse político [por parte da administração da estatal] em atingir o governo federal”.
Bolsonaro tem reclamado da demora para a efetivação de Caio Paes de Andrade na presidência da petroleira.
“Está complicado, porque é uma burocracia enorme… E o conselho [de administração da Petrobras] não quer se reunir para decidir a troca do presidente”, disse, na quinta.
Antes de assumir o comando da estatal, Andrade precisa ser eleito conselheiro de administração da Petrobras, em assembleia de acionistas. O encontro, porém, ainda não foi convocado pelo CA da estatal, que aguarda a checagem, pelos órgãos de controle da empresa, dos indicados da União ao colegiado.
Andrade será o quarto presidente a assumir a estatal em pouco mais de um ano, desde abril de 2021. Em dois meses, Jair Bolsonaro demitiu dois presidentes da Petrobras e exonerou o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, em meio às insatisfações com reajustes dos preços da estatal.
Antes da demissão de Coelho, o economista Roberto Castello Branco (2019-2021) e o general Joaquim Silva e Luna (2021-2022) também saíram, após crises envolvendo reajustes dos combustíveis.
Da ascensão à queda, 40 dias
José Mauro Coelho caiu em desgraça no Planalto após o reajuste de 8,8% dos preços do diesel promovido pela estatal no dia 10 de maio — dias após Jair Bolsonaro (PL) apelar para que a petroleira mantivesse os preços do diesel congelados até o fim da crise internacional que provocou uma disparada dos preços dos combustíveis.
Logo após esse episódio, o ministro Bento Albuquerque caiu e a permanência de José Mauro Coelho se tornou incerta.
Pressionado a segurar os reajustes, Coelho passou boa parte de seu curto mandato na Petrobras defendendo a necessidade de se praticar preços de mercado, para garantir a segurança do abastecimento no país.
Na interlocução com o governo, a petroleira vinha alegando que o risco de a companhia sofrer um processo anticoncorrencial, atualmente, é “materialmente maior”, devido à redução da fatia de mercado da empresa nos últimos anos. E alertou sobre a possibilidade de faltar diesel no mercado brasileiro, no segundo semestre, devido:
- ao aumento sazonal da demanda mundial no segundo semestre — e, no Brasil, agravada pelo escoamento mais intenso da safra das commodities agrícolas;
- à menor disponibilidade de exportações russas pelo prolongamento e agravamento de sanções econômicas ao país após a invasão da Ucrânia;
- e às eventuais indisponibilidades de refinarias nos Estados Unidos e Caribe, diante da proximidade da temporada de furacões, de junho a novembro.
Sob a gestão de Coelho, a Petrobras defendeu, nos bastidores, a adoção de benefícios direcionados (transferências diretas a públicos de interesse, como o vale-combustível) como solução para atenuar os impactos da inflação dos combustíveis.