Redução das emissões

Abren trabalha em projeto de lei para contratação de usinas a biogás para suprir potência ao sistema elétrico

Proposta vai criar primeiro certificado para emissões de metano do país

Yuri Schmitke, presidente da Abren (Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos), que representa o setor de resíduos (Foto Cortesia)
Yuri Schmitke é presidente da Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos — Abren (Foto Cortesia)

RIO — A Associação Brasileira de Energia de Resíduos (Abren) está trabalhando em uma proposta de projeto de lei para a contratação de usinas a biogás para suprir potência ao sistema elétrico. O Programa Nacional do Metano Zero vai criar um certificado de origem do biogás, de modo a valorizar os atributos da fonte.

A Abren propõe que as usinas a biogás sejam contratadas por meio de chamadas públicas pela Aneel, em volumes em linha com as metas do Plano Clima

A iniciativa também vai criar metas de estudos para os municípios avaliarem a viabilidade econômico-financeira da recuperação energética dos resíduos. 

A ideia é similar a uma emenda proposta pelo senador Wellington Fagundes (PL/MT) durante a tramitação do Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten) para a compra direta da energia elétrica gerada em usinas de recuperação de resíduos. A proposta, que não foi adiante, era que a contratação dos empreendimentos ocorreria por meio de licitações municipais.

Segundo o presidente da Abren, Yuri Schmitke, as usinas a biogás podem cumprir o papel de fornecer energia despachável ao sistema elétrico, de modo a colaborar para combater o déficit de potência causado pelas energias renováveis intermitentes, como a solar. 

“A ideia é criar um mecanismo em que o governo federal vai alocar a energia do biogás e da recuperação energética dentro da energia de reserva. E não vai ter impacto nas tarifas porque essa geração vai entrar como capacidade”, explica.

“A gente consegue utilizar o biogás como uma bateria, como uma estabilização de carga nos horários em que não há renováveis no sistema”, acrescenta. 

O executivo ressalta que o certificado de origem vai contribuir também para as metas nacionais de redução de emissões de metano, gás mais poluente que o carbono. 

O Acordo de Paris, do qual o Brasil é signatário, prevê uma redução de 30% nas emissões globais de metano até 2030. Além disso, o país também assinou o compromisso na COP 29 de reduzir emissões de resíduos orgânicos e o descarte em aterros. 

A maior parte das emissões de metano brasileiras vêm da agropecuária e de resíduos urbanos

A expectativa é que o certificado esteja alinhado às regras internacionais, para que possa ser comercializado também fora do país. 

“Isso vai potencializar o aproveitamento de biogás no Brasil”, afirma. 

Schmitke destaca que hoje o país aproveita apenas 3% do potencial de biogás que pode produzir. 

“O Brasil pode se tornar o maior produtor de biogás do mundo. E para isso acontecer, a gente vai precisar tanto da energia elétrica quanto do biometano. E ainda tem a questão das emissões evitadas”, diz. 

A expectativa da associação é que o projeto tenha apoio do governo federal, dado que segue a mesma linha de outras iniciativas de descarbonização, como o Paten e a Lei do Combustível do Futuro.

“Hoje a gente enterra todo o lixo sem fazer nenhum estudo. Então, é um projeto que está dentro da prioridade do governo federal, da descarbonização”, ressalta. 


Matéria atualizada em 15/04/2025 para esclarecer que a proposta prevê a criação de um certificado para o biogás, e não para o biometano.

Inscreva-se em nossas newsletters

Fique bem-informado sobre energia todos os dias