Com tarifas ao México, Trump dá mais um passo para interromper rali no petróleo

Terminal Ilha Guaíba
Créditos: Márcio Dantas Valença/ Vale

De gestores de fundos em Connecticut, que detêm posições milionárias de compra em contratos de petróleo, a poderosos ministros de energia no Oriente Médio, responsáveis pela oferta de bilhões de barris de petróleo dos seus países, a pergunta mais importante neste momento deve ser: “Qual será o próximo passo de Donald Trump para arruinar meus planos mais bem concebidos?”.

Simplesmente tuitando sobre suas expectativas de preços mais baixos para o petróleo, o presidente dos EUA se tornou o transtorno maior para o rali do petróleo neste ano. Inicialmente venerado por suas sanções contra o Irã e a Venezuela, que ajudaram a garantir ganhos robustos para o petróleo, Trump é agora uma pessoa temida por touros do petróleo de todos os tipos.

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Embora esteja mais convicto do que nunca sobre as sanções à Venezuela, os movimentos mais conciliatórios em relação ao Irã nos últimos dias e o tom cada vez mais beligerante sobre o comércio com a China têm sido uma dose dupla de dor tanto para os países produtores quanto para os defensores da alta no petróleo, que sempre saem perdendo quando os preços caem. Da mesma forma, tanto o West Texas Intermediate norte-americano quanto o britânico Brent devem ter uma desvalorização de 10% ou mais em maio, sua pior queda desde novembro, devido em grande parte às ações de Trump.

Trump não para de presentear os ursos do petróleo

Com sua decisão, na quinta-feira, de impor uma tarifa de 5% sobre todos os produtos importados do México a partir de 10 de junho e de “aumentar gradativamente” essa taxa para 25% até a interrupção do fluxo de imigrantes ilegais pela fronteira, o comandante-chefe dos Estados Unidos reforçou a noção de que nunca vai parar de presentear os ursos do petróleo.

Há uma boa razão para que muitos tenham essa sensação, independente das tendências nacionalistas de Trump. Os rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano registraram novas mínimas, juntamente com a inversão das curvas na sexta-feira, um sinal de alerta de recessão, após o último ataque do presidente ao México que, na visão de analistas, tem potencial para “torpedear” o acordo comercial EUA-México-Canadá que ele tanto lutou para fechar no ano passado, em substituição ao acordo da Área de Livre Comércio da América do Norte.

Uma recessão mundial nunca é um bom cenário para o petróleo, commodity que literalmente move o mundo. Para piorar as coisas, o Índice PMI da China, um indicador industrial extremamente importante, veio muito abaixo do esperado na sexta-feira. A China, por sua parte, está pronta para restringir a exportação de minerais preciosos de terras-raras, usados em tudo, desde celulares até equipamentos militares, para que os EUA “sintam” um pouco da sua dor.

Além das disputas comerciais com a China e o México, o governo Trump também retirou a Índia – outra economia gigante, com mais de um bilhão de consumidores – do Sistema Generalizado de Preferências dos EUA, que oferece acesso favorável a produtos de países em desenvolvimento. Essa decisão é um “fato consumado”, que Washington afirma que não vai reconsiderar, apesar do seu desejo de fazer mais negócios com o governo de Narendra Modi, reeleito este mês como primeiro-ministro do país, em uma vitória acachapante.

Ataques ao petróleo em um dos períodos de demanda mais fraca antes do verão nos EUA

De volta ao petróleo. Trump está atacando um mercado que, surpreendentemente, está tendo um dos seus períodos de demanda pré-verão mais fracos nos EUA. Essa é uma época do ano geralmente muito boa para o consumo de gasolina e os preços do petróleo de maneira geral. Na quinta-feira, pela terceira semana consecutiva, o governo dos EUA divulgou um conjunto de dados baixistas sobre o petróleo. Embora tenha ocorrido uma redução de estoque de quase 300.000 barris de petróleo desta vez, em comparação com os acúmulos inesperados de 5 milhões de barris nas duas semanas anteriores, a queda foi de apenas um terço do nível esperado.

As margens das refinarias de gasolina em cerca de 30% abaixo dos níveis registrados há um ano foram identificadas como um razão para a pouca retirada de petróleo entre as refinarias às vésperas do verão nos EUA. Em uma escala maior, no entanto, a hostilidade de Trump contra países que já foram um dia os melhores aliados comerciais dos EUA está acabando lenta e decisivamente com o rali do petróleo, de acordo com observadores veteranos do mercado. “As tarifas de Trump sobre o México mostram que ‘nenhum país está a salvo’”, afirmou a Bloomberg na manchete de uma matéria sobre o ouro na quinta-feira, que poderia muito bem ter sido escrita para o petróleo. Não se pode negar que o WTI e o Brent ainda apresentam uma valorização de cerca de 20% ou mais neste ano. Mas não é possível dizer onde o mercado estará até o fim de junho, se esse sentimento baixista persistir.

O mais importante é: Trump adora petróleo barato, isso não é segredo para ninguém. Nós, do Investing.com, acreditamos que poucas coisas importam mais ao presidente do que manter os preços do petróleo – e, por extensão, os preços do combustível nas bombas dos EUA – nos menores patamares possíveis até sua campanha de reeleição em novembro de 2020. Ainda há um longo caminho pela frente, mas ele tentará fazer isso – essa é a nossa convicção.

Usando o escritório da Casa Branca para conseguir petróleo barato

O problema para os produtores de petróleo e os touros do mercado é que Trump está usando a bandeira do interesse nacional em múltiplos conflitos comerciais para conseguir petróleo barato.

John Kilduff, sócio fundador do hedge fund de energia Again Capital, de Nova York, tem mais de duas décadas de experiência tanto como analista quanto como tradernesse mercado e resumiu a situação da seguinte forma:

“Trump está basicamente usando o gabinete da presidência dos Estados Unidos para lançar diversas ações unilaterais para conseguir o que quer.”

“Você pode argumentar que isso é moralmente errado. Mas, por lei, ele está agindo no legítimo interesse dos EUA para garantir o ‘melhor negócio’ ao país, seja lá o que isso queira dizer.”

“O mais interessante é que já faz algumas semanas que ele não solta nenhum tuíte sobre o petróleo, ao mesmo tempo em que toma todas essa ações, ou seja, você não pode acusá-lo de derrubar intencionalmente o mercado. Ele e seus apoiadores reagirão com desprezo se tais acusações forem feitas, dizendo que seus grandes esforços estão sendo menosprezados. Ou ele pode simplesmente dar de ombros e dizer que tudo isso não passa de uma ‘boa’ coincidência, já que é conhecido por dizer que os preços altos do petróleo não são bons para o mundo.”

“Os touros do petróleo não têm outra alternativa a não ser ranger os dentes e ver até que ponto ele vai.”