newsletter
APRESENTADA POR
Editada por André Ramalho
[email protected]
PIPELINE Edge começa a importar gás boliviano. Importações do país vizinho, por traders privados no Brasil, têm se mostrado mais frequentes em 2024. Mas ainda falta clareza sobre a disponibilidade de gás para esses agentes.
TCU alerta para déficit de pessoal na ANP. PetroReconcavo prepara UPGN própria. ANP libera oferta de capacidade firme da NTS. MSGás e Necta estudam parceria para corredores azuis e mais. Confira:
ABRIU A JANELA?
A Edge (Compass) começou a importar, este ano, gás natural da Bolívia para balancear o seu portfólio. É mais uma comercializadora privada brasileira a buscar molécula no país vizinho, que enfrenta problemas estruturais para manter estável a sua capacidade de exportação.
Nos últimos anos, as janelas de oportunidade de aquisição de gás boliviano se mostraram escassas para os comercializadores privados – que, em sua maioria, assinaram contratos flexíveis de suprimento, na modalidade interruptível, sujeitos a episódios de sobra de gás.
A importação da Bolívia por esses agentes, contudo, tornou-se mais frequente em 2024, ancorada em dois principais atores: MGás e Edge. As empresas possuem abordagens diferentes:
A Edge tem se mantido ativa nas compras nos últimos dois meses, para complementar (pelo menos nesse primeiro momento) a demanda da Comgás.
Como antecipado pelo político epbr, serviço de assinatura exclusivo para empresas (teste grátis por 7 dias), a comercializadora tem firmado contratos diários com a TBG, para injetar o gás importado na malha. A capacidade contratada foi de 140 mil a 170 mil m3/dia em março e subiu para 210 mil m³/dia na 1ª quinzena de abril.
A empresa enfrenta atrasos na obtenção da licença de operação do Terminal de Regaseificação de São Paulo e busca alternativas para abastecer o mercado paulista. Diz que está desenvolvendo um portfólio diversificado de fontes de suprimento de gás e biometano e que tem como objetivo “ser pioneira” e oferecer “soluções em gás eficientes” aos seus clientes.
Já a MGás mira, em especial, o mercado livre. A chegada da companhia, uma joint venture entre a Macaw Energies e Mercurio Trading, mudou o perfil das importações este ano.
A empresa assinou um contrato firme com os bolivianos para 2024 – uma condição da qual só a Petrobras desfrutava até então – e vem gradualmente aumentando as vendas. Em abril, atingiu uma importação de 600 mil m3/dia.
Mas o quão, de fato, está aberta a janela de importação para traders privados?
RELAÇÃO TRIANGULAR
A equação tem três importantes variáveis: do lado da oferta, como evoluirá a produção boliviana. E do lado da demanda, qual será o comportamento da Argentina e também da Petrobras, como principal compradora da YPFB e agente dominante no mercado brasileiro.
No fim de 2023, a Petrobras e YPFB assinaram um aditivo contratual que flexibilizou os compromissos firmes e as penalidades – em especial para o lado boliviano, que enfrentou dificuldades para garantir os volumes contratados nos últimos anos, sobretudo no inverno.
Havia a expectativa de que essa flexibilização abrisse espaço para os traders privados. De fato, MGás e Edge entraram no jogo nesse contexto.
Em abril, porém, a Petrobras assinou com a estatal argentina Enarsa um acordo não vinculante para estudos e parcerias. Uma aproximação que mira as oportunidades de importação de Vaca Muerta no futuro, mas que lança dúvidas sobre a dinâmica do mercado de gás do Cone Sul no curto prazo.
O acordo inclui a coordenação de ações para garantir o fornecimento de gás para a Argentina no inverno. A Petrobras diz que não haverá impacto no abastecimento nacional, nem custo adicional para ela, mas não é clara quanto aos efeitos sobre a importação de gás boliviano. Nos últimos invernos, vale lembrar, a YPFB deslocou parte do gás consumido pelo Brasil para a Argentina.
Questionada se o acordo com a Enarsa significará uma redução nos volumes importados da Bolívia, a Petrobras preferiu não comentar. Respondeu que está “constantemente avaliando oportunidades comerciais que atendam seus interesses e os compromissos com seus clientes, mas que não comenta sobre condições comerciais estabelecidas em contratos que são disciplinados por cláusulas de confidencialidade”.
Com o crescimento da produção interna na Argentina, havia a expectativa de que o país declarasse independência da importação de gás da Bolívia no inverno de 2024 – e que a YPFB direcionasse volumes maiores para comercializadores privados no Brasil este ano.
A situação na Argentina, porém, mudou com o atraso na licitação das obras de reversão do fluxo do Gasoduto Norte – que levará gás de Vaca Muerta à região Norte da Argentina e que garantirá a autossuficiência da Bolívia.
COBERTOR CURTO
Em 2020, a Petrobras reduziu os volumes contratados com a boliviana YPFB, de 30 milhões de m3/dia para 20 milhões de m3/dia. Era um dos compromissos assumidos pela petroleira brasileira com o Cade, para a abertura do mercado de gás.
Desde então, comercializadores privados se lançaram em busca de contratos de suprimento no país vizinho.
Blueshift, CDGN, Delta e Tradener são algumas das empresas que conseguiram firmar contratos interruptíveis na Bolívia, mirando a oferta de produtos flexíveis para térmicas e indústrias no incipiente mercado livre.
As importações nessa modalidade, porém, nunca deslancharam para além de alguns testes de mercado. Traders consultados pela agência epbr elencam os motivos.
Nos contratos interruptíveis, em geral, as importações são confirmadas de véspera. Uma gestão contratual que, por si só, não é trivial e que se soma a fatores como:
- o desenvolvimento do mercado livre não amadureceu como o esperado;
- nem todos os estados do Centro-Sul avançaram com suas regulações;
- e falta disponibilidade de grandes volumes de gás na Bolívia.
A percepção, entre comercializadores, é que o acesso ao transporte não é um gargalo. Há capacidade disponível no Gasbol.
Mas não há gás para todos importarem ao mesmo tempo. Como a oferta boliviana está curta, ao cabo, garante molécula quem apresentar melhor preço.
E aí competir com a Petrobras — que tem contrato firme com a YPFB, mas que também recorre a cargas extras e sinaliza a intenção de recuperar participação de mercado — pode ser uma missão dura…
BOLÍVIA PROMETE DIVULGAR RESERVAS
As importações de gás boliviano pela Petrobras caem ano a ano, frente ao declínio boliviano: de uma média de 20 milhões de m3/dia em 2021, foram para 17 milhões de m3/dia em 2022, 16 milhões de m3/dia em 2023 e 15 milhões de m3/dia no 1º trimestre deste ano.
A redução dos investimentos em exploração na Bolívia, ao longo de anos, cobra o seu preço hoje: o país vive dificuldades de repor reservas e, em 2023, a Wood Mackenzie chegou a estimar que o Brasil pode não dispor mais de gás boliviano ao fim da década.
A atual gestão da YPFB conduz desde 2021 um plano para aumentar as reservas – cujos dados não são publicados pela empresa desde 2018.
Esta semana, a estatal boliviana informou que tem em mãos a certificação de reservas de 2022 e 2023, mas que está corroborando os dados antes de publicá-los.
A oposição ao governo de Luís Arce ameaça processar o governo por descumprir a lei que exige a certificação anual das reservas do país.
Arce, aliás, voltou a dizer esta semana que o gás do país se esgotou, ao justificar a carência de investimentos sociais de seu governo.
A YPFB, por sua vez, alega que, apesar do declínio, a produção atual, de 40 milhões de m3/dia, é suficiente para abastecer o mercado interno (de 12 a 13 milhões de m3/dia) e permitir “saldos amplos para exportação”.
GÁS NA SEMANA
TCU alerta para déficit de pessoal na ANP. O Tribunal de Contas da União classificou como grave o quadro agência e alertou o governo federal sobre os impactos do problema no desenvolvimento do mercado de gás. Entenda
PetroReconcavo prepara UPGN própria. Com a suspensão das negociações para fusão com a 3R Petroleum, a empresa assinou um memorando de entendimentos com a Enerflex, para estudar a viabilidade técnico-econômica de uma unidade de processamento de gás natural no RN. Leia na epbr
NTS. ANP aprovou o contrato master da Nova Transportadora do Sudeste e liberou a empresa a realizar contratação na modalidade firme (contratos anuais de 2024 a 2028) pelo rito simplificado.
Corredores azuis. MSGás e Necta estudam uma parceria para desenvolver rotas para abastecimento de veículos a gás natural e biometano nos principais eixos rodoviários que cortam MS e o Noroeste de SP. Para aprofundar
Revisão tarifária no PR. A Agepar, agência reguladora estadual, realiza no dia 20 de maio audiência pública para debater detalhes da 1ª Revisão Tarifária Periódica da Compagas, para o ciclo tarifário 2024-2029.
Hidrogênio. O H2 verde (produzido com energia renovável) já é competitivo em comparação ao cinza (produzido com gás natural), disse o CEO da White Martins, Gilney Bastos, em entrevista à agência epbr. Leia na epbr
Fertilizantes. Petrobras postergou pela terceira vez o início do contrato de tolling com a Unigel para produção de fertilizantes na Bahia e em Sergipe, segundo o colunista Lauro Jardim, de O Globo. Em fevereiro, a área técnica do TCU apontou falhas na governança da estatal e distorções nos cálculos que justificaram a assinatura do contrato. A companhia nega irregularidades.
Menos gás. A entrega de gás nacional da Petrobras, no 1º trimestre, caiu 2 milhões de m³/dia em relação ao trimestre anterior. Fruto da intervenção programada na Rota 1 em março, que foi compensada com importação de gás da Bolívia e de GNL.
– Já a produção nacional de gás natural caiu 3,1% em março, ante fevereiro, para 143,98 milhões de m3/dia, informou a ANP. Na comparação anual, houve uma elevação de 3,9%.
Opinião: O momento do biometano: potenciais e desafios Biometano emerge como chave para a transição, mas desafios logísticos e regulatórios são barreiras ao potencial de crescimento, avaliam Eduardo Dodsworth Tranjan, Alexandre Montoni e Gabriel de Andrade Cavalcanti