Energia

Eneva vê sinergia nas aquisições da Celse e campos maduros na Bahia

Empresa vê sinergia entre terminal de GNL de Sergipe com produção em terra na Bahia, alvo de interesse da companhia

Planta da Eneva com trabalhadores conversando (Foto: Divulgação/Eneva)
(Foto: Divulgação/Eneva)

RIO — A Eneva acredita que a compra da Centrais Elétricas de Sergipe Participações S.A (Celsepar) permitirá à empresa compor um mix de gás nacional e importado, de diferentes origens e preços, e assim alavancar os planos da companhia de se consolidar como uma comercializadora de gás natural.

A aquisição garante acesso da Eneva à infraestrutura de importação de gás natural liquefeito (GNL). A negociação não inclui a aquisição do terminal de Sergipe em si, mas o navio de regaseificação (FSRU) continuará afretado à empresa até 2044.

Ao apresentar os detalhes do negócio com a Celse a investidores, nesta quinta-feira (2/6), a Eneva citou que a FSRU tem 15 milhões de m³/dia de capacidade ociosa para ser utilizada na monetização da carteira de projetos de expansão da companhia — tanto na comercialização de gás quanto na geração de energia.

Para aprofundar:

O diretor de novos negócios, marketing e comercialização de gás e energia da Eneva, Marcelo Lopes, afirmou que o GNL importado em Sergipe guarda sinergia com o futuro cluster de produção da Petrobras em águas profundas no estado; e com o polo Bahia Terra, conjunto de campos maduros colocados à venda pela estatal nas bacias do Recôncavo e Tucano e que desperta o interesse da Eneva. A empresa apresentou uma oferta pelo ativo em consórcio com a PetroReconcavo.

“Não há obrigação [no contrato de importação de GNL com a Ocean LNG] de usarmos apenas o GNL para desenvolvermos nosso pipeline de novos projetos. O contrato é referente ao suprimento de gás à térmica existente. Vamos poder explorar oportunidade de gás nacional a partir do projeto SEAL [Sergipe-Alagoas, da Petrobras]. E vamos poder avaliar, sim, oportunidades que viermos a desenvolver no Polo Bahia Terra ou até outras fontes de importação. Há bastante flexibilidade e liberdade”, afirmou Lopes, durante teleconferência com investidores.

O mix da Eneva

Segundo Lopes, o terminal de GNL de Sergipe dá escala à capacidade de comercialização de gás da empresa. Por outro lado, o gás nacional tende a ser mais barato. A companhia acredita que o mix entre as diferentes fontes de suprimento permitirá à empresa compor um preço médio mais equilibrado.

“Isso [o mix] amplifica oportunidades de venda para atingirmos mais clientes a preços mais competitivos do que se só tivéssemos o GNL”, disse.

Com a aquisição da Celse, a Eneva passa a contar com três clusters de gás: os complexos de Parnaíba (MA) e Azulão (AM), focados na produção em terra em sistemas isolados da malha nacional de gasodutos; e Sergipe — que será integrada à rede da Transportadora Associada de gás (TAG) a partir de 2024.

Além disso, a  nova unidade de processamento de gás natural (UPGN) da Petrobras, em Sergipe, deve ser construída próxima ao terminal de GNL — o que abre perspectivas de acesso à molécula do gás offshore local.

Novas termelétricas

A Eneva espera ofertar os novos projetos de termelétricas a gás natural, a serem incorporados com a aquisição da Celsepar, nos leilões de energia já a partir do fim de 2022. A empresa prevê concluir a compra do ativo, junto à New Fortress Energy e Ebrasil, no quarto trimestre.

Pelo acordo, de R$ 6,1 bilhões (mais dívidas de R$ 4,1 bilhões), a Eneva assume a termelétrica Porto de Sergipe (1,593 GW), em Barra dos Coqueiros (SE), e uma carteira adicional de 3,2 GW de projetos de expansão adjacentes à usina.

O diretor financeiro da companhia, Marcelo Habibe, afirmou que a carteira adicional é composta por cinco projetos, com capacidades diferentes.

Segundo ele, isso dá uma “flexibilidade interessante”, para que a Eneva cadastre ora projetos maiores, ora projetos menores, de acordo as perspectivas de demanda das licitações.

Lopes explicou que os novos projetos no Sergipe devem ficar de fora dos leilões de contratação compulsória de termelétricas a gás — exigência prevista na lei que aprovou a privatização da Eletrobras. “Pela forma como foi definida a lei, Sergipe não é um dos estados previstos para receber o leilão”, comentou.

Habibe acredita que, como os custos do terminal de GNL de Sergipe são remunerados pela térmica Porto de Sergipe I, a perspectiva é que os novos projetos termelétricos adjacentes à usina sejam competitivos.

“Os próximos projetos vão pegar carona, isso traz competitividade para novos projetos”, disse.