Diálogos da Transição

Climatechs buscam espaço em políticas industriais

Investimentos na fabricação de tecnologias limpas somaram cerca de US$ 200 bilhões em 2023

Climatechs buscam espaço em políticas industriais (Foto: Cadu Gomes/VPR)
Vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e ministra Marina Silva durante lançamento do Fórum Brasileiro de Climatechs em Brasília (Foto: Cadu Gomes/VPR)

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Editada por Nayara Machado
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Indústria verde, edifícios mais sustentáveis, expansão renovável e novos combustíveis estão entre os principais desafios para o mundo enfrentar a crise climática, mas também são uma grande oportunidade para as empresas de tecnologia que miram soluções de descarbonização.

Em 2023, os investimentos na fabricação de tecnologias limpas somaram cerca de US$ 200 bilhões em todo o mundo, um salto de mais de 70% em relação a 2022.

Com o mundo correndo para triplicar a capacidade renovável, a BloombergNEF estima  que o armazenamento de energia atingirá 411 gigawatts até 2030, um aumento de 15 vezes em relação à capacidade atual. Mas isso pode ser desacelerado por restrições da cadeia de suprimentos e acesso à rede – oportunidade para startups de softwares que facilitam o fluxo de energia na rede e hardwares que ajudam a gerenciar a demanda.

Na construção, algumas startups estão trabalhando para descarbonizar aço e concreto, enquanto outras estão criando novos materiais ou resgatando materiais que estavam no ostracismo, como madeira.

Já a nova geração de combustíveis tem atraído cada vez mais o interesse em inovações que olham para o aproveitamento de resíduos ou o uso de CO2 como insumo – com a conquista de parceiros importantes na indústria da aviação.

No Brasil, as empresas de tecnologias climáticas, também chamadas climatechs, estão em busca de espaço nas políticas de incentivo à descarbonização da indústria.

“O Brasil tem um potencial enorme para ser líder no combate às mudanças climáticas. Estamos desenvolvendo tecnologias transformacionais e queremos estabelecer o diálogo com as políticas públicas para garantir que elas reconheçam esse mercado emergente e potencializem o alcance dessas tecnologias”, resume Ana Capelhuchnik, diretora jurídica e sócia-fundadora da Lemon Energia.

No final de julho, a Lemon e outras nove empresas que se identificam como fornecedores de tecnologias com potencial de descarbonização lançaram o Fórum Brasileiro de Climatechs (FBC).

São empresas de diferentes portes e diversas áreas de atuação: uso do solo, cidades sustentáveis, eletromobilidade, energia.

O lançamento ocorreu durante reunião com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.

Um dos interesses do grupo é “estreitar laços com o governo”, diz Ana, na discussão de políticas como a Nova Indústria Brasil (NIB), que tem entre seus eixos a inovação e a sustentabilidade – e pode ajudar a impulsionar os fluxos de financiamento para as climatechs brasileiras.

Incentivos

Embora ainda não tenha apresentado uma agenda prioritária, algumas discussões no Congresso Nacional estão no radar das empresas que formam a coalizão.

A exemplo da reforma tributária. “Tem mecanismos de reforma tributária que podem afetar de maneira diversa empresas de tecnologia. A gente entende que é necessário discutir isso tendo em perspectiva o tipo de incentivo que a gente quer dar para tecnologias que façam combate a mudanças climáticas”, afirma a executiva em entrevista à epbr.

“Não temos uma proposta concreta do que, por exemplo, deveria ser estruturalmente alterado na reforma tributária, mas essa certamente é uma pauta comum entre as empresas do fórum”.

No caso da Lemon, que trabalha com energia solar por assinatura para pequenos e médios negócios, Ana aponta ainda o debate sobre a regulação da micro e minigeração distribuída.

“A Lemon acha fundamental que a regulação e a regulamentação incentivem o modelo de negócios que tornam a GD mais democrática. Um caminho, por exemplo, é a regulamentação do Open Energy, que é a possibilidade de compartilhamento de dados com a infraestrutura elétrica”.

Diferenciar biomassa de fósseis

Também membro do FBC, a Combio produz e fornece vapor renovável para indústrias de mineração, papel e celulose, biocombustíveis e alimentos e bebidas, entre outras – mas esbarra em dificuldades na hora de captar financiamento para os projetos.

“O BNDES lançou várias vezes linhas de energias renováveis, e sempre quando a gente ia lá, o programa tinha lá energia elétrica, e a gente é energia térmica. Então, várias vezes a gente não conseguiu captar, só porque, na hora de escrever o programa, alguém esqueceu de botar a térmica a biomassa”, conta Roberto Véras, sócio e diretor de sustentabilidade da Combio.

A expectativa agora, com o fórum, é melhorar essa articulação para dar mais visibilidade a soluções que não estão no mainstream e buscar diferenciação em relação aos fósseis para um mercado com potencial de atrair mais de R$ 100 bilhões ao longo das próximas décadas, diz Véras.

“Aqui em São Paulo, para colocar uma caldeira a óleo ou a gás, é exatamente a mesma dificuldade que para colocar uma caldeira a biomassa. Na questão tributária, o nosso vapor é cheio em todas as alíquotas. Até hoje, a gente vem navegando sem capital barato exclusivo. São questões que poderiam e deveriam ser simplificadas quando você está falando de descarbonização, transição energética”.

Mesmo sem apoio, a estimativa da Combio é evitar a emissão de 800 mil toneladas de CO2 na atmosfera em 2024 com suas caldeiras a biomassa.

Teste de resiliência

No mundo, a participação da tecnologia climática no capital do mercado privado e nos subsídios estatais aumentou para 11,4% no terceiro trimestre de 2023, acompanhando uma taxa anual de 10% no ano ao longo de uma década, mostra um levantamento da PwC publicado no final do ano passado.

Apesar do apetite de financiadores iniciantes, a consultoria observa que para investidores em empreendimentos de tecnologia climática, os últimos dois anos foram um “teste de determinação e adaptabilidade” diante de turbulências geopolíticas, inflação e aumento das taxas de juros.

No ano passado, o investimento total em capital de risco e capital privado caiu 50,2% em relação a 2022, atingindo US$ 638 bilhões, enquanto o financiamento de startups de tecnologia climática caiu 40,5% no mesmo período, levando a um patamar observado cinco anos atrás.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Sem selo de integridade

O Conselho de Integridade para o Mercado Voluntário de Carbono (ICVCM, sigla em inglês) anunciou, nesta terça (6/8), que os créditos de carbono emitidos sob metodologias de energia renovável existentes não poderão usar seu selo de alta integridade. Segundo a organização independente de governança, essas metodologias cobrem aproximadamente 236 milhões de créditos não aposentados, o que representa 32% do mercado voluntário de carbono. Leia na epbr

BP compra Bunge

A Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (SG/Cade) aprovou, sem restrições, a compra de 50% das ações da BP Bunge Bioenergia pela bp, atual sócia na produtora de biocombustíveis. A operação é avaliada em US$ 1,4 bilhão.

MP 1.212/2024

A Aneel aprovou 601 pedidos de prorrogação para entrada em operação comercial de usinas com descontos nas Tarifas de Uso do Sistema de Transmissão ou Distribuição (TUST/TUSD). Os empreendimentos estão espalhados por 10 estados e têm uma potência de 25,5 gigawatts (GW). Os agentes terão 3 anos para iniciar atividades.

Mover

A medida provisória 1.249/2024 editada por Lula na última sexta (2/8) permite a importação direta de autopeças não produzidas no Brasil. O texto, que altera o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), foi publicado no Diário Oficial da União de segunda-feira (5). A legislação obriga a empresa interessada na importação a investir no Brasil 2% do valor aduaneiro em projetos de PD&I. (Agência Câmara)