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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 26/11/21
Apresentada por
Editada por Nayara Machado
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Enquanto países ricos correm para investir em hidrogênio verde (H2V) ao redor do mundo para substituir energia fóssil, especialmente o carvão, o Nordeste brasileiro se prepara para receber os primeiros projetos para produção e exportação do combustível.
A matemática parece simples… a região conta com alto potencial para geração de energia renovável — eólica e solar — e seus portos estão geograficamente melhor localizados em relação aos principais mercados da Europa.
O Porto do Pecém, no Ceará, por exemplo, já conta com mais de uma dezena de memorandos de entendimento de empresas interessadas no hub de hidrogênio do complexo.
E há novas interessadas, como a TotalEnergies, que está em fase de negociação com o governo do estado.
Além do Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia, Pernambuco e Piauí também possuem memorandos de entendimento com a iniciativa privada para possível produção de H2V.
Uma parceria entre a Nexway, empresa de eficiência energética da Comerc, e a Casa dos Ventos pretende desenvolver projetos de US$ 4 bilhões no CE, BA, PI e PE. A proposta vai além da exportação e mira também as indústrias locais — uma espécie de geração distribuída de hidrogênio verde.
O primeiro projeto do grupo a sair do papel será no Piauí, começando como uma planta piloto. As empresas firmaram um memorando de entendimento com o estado na COP26, no início do mês.
“Nos quatro estados que estamos estudando, os projetos são para exportação. São projetos de 4 bilhões de dólares cada, até 2030″, disse Marcel Haratz, CEO da Nexway, à epbr.
…mas fechar a conta não será tão simples assim. Os gargalos para que o hidrogênio verde ganhe escala vão desde regulação — ainda inexistente no Brasil — até desafios logísticos e de estímulo da demanda.
Hoje, o hidrogênio verde, produzido a partir da eletrólise com energia renovável, é o tipo mais caro de H2.
Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), a lacuna de custo entre o hidrogênio de combustíveis fósseis e o de baixo carbono é uma barreira que precisa de estímulos de políticas públicas para ser superada.
Dependendo dos preços regionais do gás, o custo nivelado da produção de hidrogênio cinza (a partir do gás natural) varia de US$ 0,5 a US$ 1,7 por kg.
No caso do hidrogênio azul (gás natural com uso de tecnologias de captura, armazenamento e uso de carbono — CCUS), o custo aumenta para cerca de US$ 1 a US$ 2 por kg.
O uso de eletricidade renovável para produzir hidrogênio verde eleva para US$ 3 a US$ 8 por kg.
Segundo a IEA, há um espaço significativo para cortar custos de produção com o ganho da escala e inovação, o que poderia levar o H2V a custar para US$ 1,3 por kg até 2030 em regiões com recursos renováveis abundantes.
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No Brasil, o Ministério de Minas e Energia (MME) se prepara para lançar, no início do ano que vem, sua estratégia do hidrogênio. A pasta lançou em meados deste ano o Plano Nacional de Hidrogênio, onde deixa claro que não pretende dar estímulo a uma rota específica.
O discurso do governo brasileiro também é resistente a incentivos financeiros para atrair investimentos nesse novo setor. A gestão de Jair Bolsonaro dá sinais de estar mais preocupada em viabilizar novas usinas a carvão, como a recente inclusão do fóssil no Repetro e no Reif, regimes fiscais do setor de petróleo e de fertilizantes.
Incentivar a economia do H2V pode ser uma resposta para a chamada transição justa.
Por enquanto, a economia do hidrogênio continua pequena e fortemente baseada no gás natural, mas isso pode mudar significativamente nas próximas décadas.
A Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA, em inglês) estima que o investimento em eletrolisadores e outras infraestruturas de hidrogênio verde poderia criar cerca de 2 milhões de empregos em todo o mundo entre 2030 e 2050.
Um estudo focado nos Estados Unidos projeta que, até 2030, a economia do hidrogênio poderia gerar US$ 140 bilhões em receitas por ano, com 700 mil empregos ao longo da cadeia de valor, expandindo para US$ 750 bilhões e 3,4 milhões de empregos até 2050.
Combustível do Futuro prorrogado. O governo estendeu até 26 de junho de 2022 o prazo para finalização do Comitê Técnico Combustível do Futuro. Criado para apresentar propostas de regulação para diferentes combustíveis — entre eles o hidrogênio — o comitê tinha prazo previsto até dezembro. Veja a portaria do CNPE
Política para bioquerosene sancionada. A criação do Programa Nacional de Bioquerosene foi sancionada ontem (25) por Jair Bolsonaro (sem partido). O objetivo é envolver universidades, agências reguladoras e empresas em uma política de promoção tecnológica para o setor. Faz parte do Combustível do Futuro.
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