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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Com pouco mais de 1 terawatt de capacidade instalada global, a indústria eólica está seguindo trajetórias tecnológicas bem diferentes na China e no mundo ocidental.
Publicado no final de janeiro, relatório da Wood Mackenzie sobre as perspectivas para o setor em 2024 aponta que, enquanto o gigante asiático inunda os mercados doméstico e internacional com um número sem precedentes de novas turbinas, problemas de qualidade ameaçam a recuperação financeira dos fabricantes ocidentais, especialmente na Europa, obrigando-os a focar na padronização.
Interrupções na cadeia de suprimentos, tensões geopolíticas, pressões inflacionárias e atrasos na execução de projetos também têm desencorajado novos investimentos em inovação no Ocidente, listam os analistas.
Na China, a realidade é outra. Desde 2020, quando o governo anunciou o fim do subsídio Feed-in-Tariff (FIT), mais de 400 modelos diferentes de turbinas foram lançados por quase uma dúzia de fabricantes.
O país, que também domina a fabricação de painéis fotovoltaicos e veículos elétricos, lidera o mercado global quando o assunto é o tamanho médio das turbinas.
De acordo com a análise da Woodmac, as classificações médias de turbinas offshore na China ultrapassam a Europa em 2023, com 9,5 MW e 9,4 MW, respectivamente, enquanto nas terrestres, os chineses instalaram 5,4 MW ante 5,1 MW dos concorrentes ocidentais.
Em julho do ano passado, a maior turbina eólica offshore do mundo entrou em operação no parque Mingyang Yangjiang Qingzhou 4, no Mar do Sul da China. A turbina MySE 16-260 tem capacidade de geração de 16 megawatts (MW), e conta com um rotor de 260 metros de diâmetro.
Tendência é simplificar
Fora da China, os analistas acreditam que a tendência é a cadeia de suprimentos passar por uma simplificação para evitar grandes mudanças no design das turbinas, já que as inovações exigem escala para viabilidade comercial.
Eles explicam que muitos modelos novos foram introduzidos nos últimos cinco anos e ainda estão lutando para alcançar economias de escala em um mercado deprimido.
Mesmo prometendo redução de gastos substancial por serem mais eficientes, os equipamentos novos e maiores têm custos logísticos mais altos e exigem mais investimentos em suprimentos.
A cadeia de suprimentos é um fator crucial para os fabricantes. Mapeamento do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC, na sigla em inglês) espera instalações recordes nos mercados onshore e offshore até 2025, com 680 GW de nova capacidade prevista para 2027.
Mas alerta para a urgência de aumentar o investimento na cadeia de minerais críticos em todo o mundo, sob risco de rupturas que podem atrapalhar novas adições a partir de 2026.
Segundo o GWEC, tanto os EUA quanto a Europa provavelmente verão gargalos no fornecimento de turbinas e componentes já em 2025, como resultado da corrida verde das duas economias.
Ano da virada
Ainda de acordo com a Woodmac, após enfrentar uma contração de 11% em 2023, a eólica onshore está pronta para a recuperação em 2024.
A expectativa positiva é sustentada pelo recorde de encomendas e esforços políticos de governos para cumprir metas climáticas. Na conferência da ONU em dezembro do ano passado (COP28), quase 200 países concordaram com a ambição de triplicar a capacidade renovável global – o que significa 11 TW de fontes como eólica e solar.
O relatório indica crescimento expressivo na Espanha, Egito, Arábia Saudita e África do Sul.
Recuperação a caminho também para a eólica offshore, que enfrenta contratempos desde 2022. Um número recorde de licitações pode impulsionar novos projetos, conclui.
Cobrimos por aqui:
- Encomendas de turbinas eólicas batem recorde no primeiro semestre de 2023
- Transição energética vai esbarrar em escassez de minerais críticos até 2030
- Capacidade eólica offshore crescerá sete vezes até 2032, prevê Woodmac
- China concentrará mais de 80% da fabricação solar até 2026
Curtas
Mover depois do Carnaval
O governo federal tem pressa para aprovação da medida provisória que estabelece o programa de Mobilidade Verde e Inovação (Mover), lançado no fim de 2023, e que prevê mais de R$ 19 bilhões em incentivos fiscais para as empresas do setor. O vice-presidente e ministro, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou nesta quinta (8/2), que a regulamentação do programa deve começar logo após o Carnaval.
Nova Indústria
A Finep lançou 11 editais para empresas e institutos de ciência e tecnologia com propostas de inovação industrial. Dos R$ 2,18 bilhões disponíveis no Programa Finep Mais Inovação, R$ 750 milhões são destinados a quatro áreas que dialogam com a construção de uma indústria mais verde: mobilidade sustentável (R$ 150 milhões); energias renováveis (R$ 250 milhões); bioeconomia (R$ 250 milhões); e resíduos urbanos e industriais (R$ 80 milhões).
Estudo de transmissão
O Ministério de Minas e Energia (MME) publicou a programação de estudos de planejamento da transmissão elaborada pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para 2024. O objetivo é indicar novas instalações ou equipamentos para expansão do sistema elétrico. Serão 30 estudos em todas as regiões do Brasil, 11 deles começaram em 2023 e 19, iniciarão neste ano.
Mundo ultrapassa limiar de aquecimento
Cientistas disseram nesta quinta-feira (8/2) que o mundo ultrapassou um limiar de aquecimento importante ao longo de um ano inteiro pela primeira vez desde que há registo. De acordo com o Copernicus, a temperatura média global para o período de 12 meses até janeiro foi 1,52 °C acima da média pré-industrial de 1850-1900 e 0,64 graus acima da média de 1991-2020.
Depois do El Niño, La Niña
O Inmet prevê o enfraquecimento do fenômeno climático El Niño nos próximos meses e a possibilidade (50%) da ocorrência do La Niña no segundo semestre. Isso significa tempo frio e seco no Centro-Oeste brasileiro e elevados níveis de umidade no Sul, o que já acendeu alerta entre produtores rurais.