RIO — A CDGN, subsidiária do grupo MDC que atua na comercialização de gás natural comprimido (GNC), assinou contrato com a boliviana YPFB para importação de até 4 milhões de m³/dia do país vizinho. O objetivo da empresa brasileira é vender o insumo no mercado livre.
O acordo foi celebrado na modalidade interruptível, que prevê a interrupção ou reativação dos envios diante da disponibilidade de molécula por parte do supridor. Esse tipo de instrumento contratual atende principalmente clientes com flexibilidade de demanda.
O contrato vai até o final de 2023. A CDGN abastecerá, prioritariamente, clientes das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, atendidos pelo Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) — que tem capacidade de 30 milhões de m³/dia e opera com ociosidade.
Em nota, a MDC informou que o acordo com a YPFB “amplia sua atuação no mercado de gás, acrescentando um novo modal de comercialização à sua operação”.
Atualmente, a CDGN possui capacidade instalada de mais de 350 mil m³/dia no transporte e venda de GNC. E possui autorização da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para atuar como comercializador.
Empresas se aproximam da Bolívia
Este não é o primeiro contrato do tipo celebrado pela YPFB com a iniciativa privada no Brasil.
Em março, a estatal boliviana fechou um acordo de dois anos para venda de até 2,2 milhões de m³/dia na modalidade interruptível para a Tradener.
A comercializadora concluiu, em junho, um projeto-piloto para fornecimento de gás natural boliviano à Compagas, distribuidora de gás canalizado do Paraná. Durante dez dias, a Tradener entregou 10 mil m³/dia à concessionária.
Testado o modelo, a comercializadora vai em busca de novos contratos no mercado livre para o gás importado.
A aproximação da YPFB com a iniciativa privada acontece num momento de tensão no relacionamento entre a estatal boliviana e a Petrobras (sua principal cliente) após o corte parcial no fornecimento de gás firme ao Brasil.
Relembre: A Bolívia reduziu em 30% o envio de gás à Petrobras, a partir de maio, depois de se comprometer a aumentar as exportações para a Argentina até setembro. O volume vendido aos argentinos subiu de uma média de 8 milhões a 10 milhões de m³/dia para 14 milhões de m³/dia. Recorrer ao gás boliviano foi, para a Argentina, uma alternativa aos elevados preços do GNL no mercado internacional. Para a Bolívia, significa uma receita extra, já que o preço pago pela Petrobras é mais baixo que o cobrado dos argentinos no acordo recém-fechado
A YPFB pede a revisão dos preços pagos pelo gás boliviano, previstos na revisão contratual de 2020 — assinada durante o governo interino de Jeanine Áñez, após a renúncia de Evo Morales.
Para recordar e aprofundar:
- Como acordo Bolívia-Argentina afeta mercado de gás natural no Brasil
- Bolsonaro põe em xeque papel da Petrobras, após corte de gás da Bolívia
- Preço do gás para Petrobras foi fechado por “governo golpista”, diz ministro boliviano
- Bolívia não vê “complô socialista” em corte de gás natural ao Brasil
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Além da Tradener e a MDC, as empresas TotalEnergies Brasil e a Compass também buscam se aproximar da Bolívia. As duas companhias assinaram, em maio, um acordo de intenções com a YPFB, para estudar uma aliança para comercialização do gás importado da Bolívia no mercado brasileiro.