RIO — A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apresentou, nesta quinta (25/4), estudo demonstrando que o Brasil tem o potencial de receber investimentos anuais da ordem de R$ 2 bilhões até 2050, em projetos de captura, armazenamento e utilização de carbono (CCUS).
O caderno Captura, Armazenamento e Utilização de Carbono no Brasil: Contribuições para a Seleção de Áreas de Interesse aponta que a atividade é uma peça-chave para a neutralidade climática, combinada à produção de hidrogênio de baixo carbono, e até mesmo para emissões líquidas negativas, quando associada com a produção de etanol, por exemplo.
Na avaliação da EPE, o CCUS tem que fazer parte da estratégia brasileira no planejamento energético.
Entre as principais interessadas estão indústrias de energia, cimento, aço, e biocombustíveis, com concentração maior na região Sudeste (52%), seguida de Nordeste (19%), Centro-Oeste (15%), Sul (10%) e Norte (4%).
“O armazenamento geológico de carbono é essencial para a redução das emissões em setores onde a descarbonização ainda é inviável, como cimento, aço, ferro e petroquímica”, explica a pesquisadora da EPE Nathália Castro.
O estudo identificou áreas geologicamente propícias para o armazenamento de carbono em todo o Brasil, com destaque para as regiões de Campos, Santos, Sergipe-Alagoas, Recôncavo e Tucano Sul, quando se fala em reservatórios depletados de óleo e gás. Além da Bacia de São Francisco.
No entanto, aponta a ausência de informações detalhadas sobre reservatórios salinos, que não foram incluídos no estudo.
A pesquisa também destacou a relevância das regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil, especialmente quando associadas ao setor de bioenergia, na implementação de tecnologia BECCS (Sistemas de Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono, na sigla em inglês).
Castro lembrou o potencial das bacias do Parnaíba (Maranhão) e do Paraná (do Mato Grosso ao Paraná), que pode ser ainda maior nas próximas atualizações do estudo, a partir de diversos levantamentos sobre a mineralização de CO2 que estão em andamento.
Sobrevida ao óleo e gás
A atividade de CCUS é uma das principais apostas do setor de óleo e gás para continuar com suas atividades mesmo em meio a um cenário de redução das emissões de carbono para limitar o aquecimento do planeta.
Na quarta (24/4), a EPE apresentou outro estudo apontando a demanda nacional de derivados de petróleo de modo crescente, acima de 3 milhões boe/d, em 2050 em todas trajetórias avaliadas.
Caso Brasil faça uma opção pelo fim da exploração de novas reservas de óleo e gás, as perdas entre 2032 e 2055 podem chegar a R$ 3,7 trilhões em arrecadação de impostos (R$ 824 bi) e royalties (R$ 2,91 tri) e com uma redução de R$ 167,4 bilhões no Fundo Social do Pré-Sal no período de 2024 a 2055. Além de cerca de R$ 5 trilhões entre 2031 e 2050 com recursos não descobertos.