Diálogos da Transição

Captura de CO2 deve chegar a 440 Mtpa em 2034, mas abaixo da demanda

Estimativa é que cerca de 640 Mtpa de capacidade de CCS sejam necessárias para atender demanda da indústria

TotalEnergies, Petronas e Mitsui avaliam projeto de armazenamento de carbono na Malásia. Na imagem: Plataforma de petróleo para exploração offshore (Foto: Anita Stachurski/Pixabay)
Indústria de óleo e gás é principal interessada na tecnologia de CCS (Foto: Anita Stachurski/Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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Levantamento da Wood Mackenzie sobre o desenvolvimento do mercado de captura, armazenamento e uso de carbono (CCUS) no mundo estima que, até 2034, haverá uma capacidade instalada para capturar 440 milhões de toneladas ano (Mtpa), quase 10 vezes a capacidade atual, mas abaixo do que se espera de demanda.

A estimativa é que o potencial de demanda global para captura de carbono seja de 546 Mtpa até 2034 e que cerca de 640 Mtpa de capacidade sejam necessárias para atendê-la.

A adoção da tecnologia é uma aposta da indústria de óleo e gás e outros setores intensivos em emissões como cimento, químicos e aço para mitigar seu impacto sobre o clima.

Mas há uma série de questões a serem enfrentadas: precisa ser viável economicamente, encarada como solução intermediária e ter infraestrutura para armazenar ou transformar o CO2 capturado em produtos de valor agregado.

De acordo com a Woodmac, dos projetos já anunciados e esperados para avançar para a fase de desenvolvimento, 71% estão na América do Norte e Europa.

“Incentivos governamentais, como a Lei de Redução da Inflação dos EUA (IRA, em inglês), modelos de negócios do Reino Unido, o Crédito Fiscal de Investimento do Canadá e o esquema SDE++ dos Países Baixos estão movendo projetos em direção à decisão final de investimento (FID)”, pontua o relatório.

Também é esperado um impulso adicional para projetos europeus devido à recém anunciada Estratégia Industrial de Gestão de Carbono da UE.

Oportunidade de US$ 200 bi

A Woodmac aponta que há uma oportunidade global de US$ 196 bilhões na próxima década – com o apoio governamental ao CCUS em países-chave (EUA, Canadá, Reino Unido, Dinamarca e Austrália) somando US$ 80 bilhões.

Mas para que os projetos ganhem escala, grandes emissores devem ser motivados a descarbonizar, a tecnologia deve ser econômica e eficiente, e uma opção viável para utilização ou armazenamento deve estar disponível, listam os analistas.

Dos quase US$ 200 bilhões projetados, US$ 143 bilhões são investimentos de risco: quase metade desse valor está associada à captura de CO2, com US$ 53 bilhões para transporte e US$ 43 bilhões para armazenamento. Cerca de 70% do investimento será na América do Norte e na Europa.

“O ritmo esperado de implantação da CCUS será impulsionado pelo nível de regulamentação e apoio em diferentes países. Os EUA e o Canadá têm mecanismos robustos de regulamentação e financiamento para impulsionar o desenvolvimento e a implementação, assim como a União Europeia e o Reino Unido”, observa Hetal Gandhi, chefe de CCUS da Woodmac para Ásia Pacífico (APAC).

Os EUA lideram o financiamento com uma participação de 50% do total, seguidos pelo Reino Unido com 33% e Canadá com 10%.

Na APAC, Gandhi avalia que embora o ímpeto regulatório seja forte na Austrália, Japão, Coreia do Sul e Indonésia, são necessários incentivos governamentais para acelerar o desenvolvimento dos projetos.

“Em contraste, o desenvolvimento na China, Índia, América Latina, Oriente Médio e África é limitado pela falta de políticas firmes, estruturas regulatórias e apoio financeiro”, completa.

Etanol com CCS no Brasil

Por aqui, um estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), publicado em junho, indica que regiões do interior de São Paulo, Mato Grosso do Sul e algumas áreas do Paraná com forte presença da cadeia produtiva de biocombustíveis coincidem com as áreas com maior potencial para CCS em reservatórios salinos.

O país, no entanto, conhece pouco seu subsolo.

Para a EPE, é preciso avançar nos estudos de locais para estocar o CO2, e ajudar o mundo em sua desafiadora missão de capturar 435 milhões de toneladas até 2030 e mais de 1 gigatonelada por ano até 2050, para alcançar as metas do Acordo de Paris.

Ainda de acordo com a instituição, o Brasil poderia receber investimentos anuais da ordem de R$ 2 bilhões até 2050, em projetos do tipo, incluindo tanto a bioenergia como combustíveis fósseis e outras indústrias intensivas.

Entre as principais interessadas estão indústrias de energia, cimento, aço, e biocombustíveis, com concentração maior na região Sudeste (52%), seguida de Nordeste (19%), Centro-Oeste (15%), Sul (10%) e Norte (4%).

Cobrimos por aqui:

Curtas

Chamada para captura direta

A Repsol Sinopec lançou uma chamada aberta para startups, universidades e instituições de pesquisa que queiram colaborar com o Projeto DAC.SI – para soluções de captura direta de CO2 do ar. Objetivo é o desenvolvimento de materiais de última geração para adsorção de CO2. As melhores soluções serão testadas no laboratório de PUCRS e a melhor solução ainda poderá ser utilizada para testes em escala de campo. O Repsol Sinopec Tech Challenge recebe inscrições até 22 de agosto.

Energia na Amazônia Legal

O Comitê Gestor do Pró-Amazônia Legal (CGPAL), do Ministério de Minas e Energia, aprovou diretrizes para apresentação, seleção e execução dos projetos que serão beneficiados pelo Pró-Amazônia Legal. Agora, o ministério vai elaborar o edital de chamamento público do Programa de Redução Estrutural de Custos de Geração de Energia na Amazônia Legal e de Navegabilidade do Rio Madeira e do Rio Tocantins. Leia na epbr

Clima e biodiversidade nas escolas

A partir de 2025, as escolas brasileiras deverão trabalhar em sala de aula os temas mudanças do clima e proteção da biodiversidade. A diretriz é estabelecida pela Lei 14.926/24, sancionada por Lula (PT) na quarta (17). A nova legislação modifica a Política Nacional de Educação Ambiental acrescentando o estudo desses assuntos entre os seus objetivos. Leia na epbr

Eólica na Paraíba

A EDF Renewables Brasil anunciou nesta quinta (18/7) a entrada em operação comercial plena da fase 2 do Parque Eólico Serra do Seridó, localizado nos municípios de Junco do Seridó, Santa Luzia, Salgadinho e Assunção. Com as fases 1 e 2, Serra do Seridó soma 480 MW de capacidade instalada — o maior complexo eólico da EDF Renewables na América do Sul e o sexto maior do Brasil.

Benefício para térmicas a gás

O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL), sancionou a lei 10.456/2024, que isenta as usinas termelétricas de ICMS na compra de gás natural, inclusive liquefeito (GNL), a partir da criação de um regime tributário específico para o setor no estado. O projeto foi aprovado pela Alerj em junho, a partir de uma proposta do governo. Veja detalhes

Operações renováveis

A Porto do Açu Operações, empresa do Grupo Prumo responsável pela administração do complexo portuário do Açu, no Norte Fluminense, recebeu a certificação I-REC, que comprova o uso de energia 100% limpa em sua cadeia de produção. O certificado obtido por meio da Comerc Energia atesta o uso de 1.711 MWh de energia limpa em 2023.