A eleição, hoje, do novo presidente do Senado é o primeiro teste do modelo de diálogo que o governo de Jair Bolsonaro quer pôr em prática com o Congresso.
Sem uma coalizão ampla de forças partidárias resguardando sua base aliada no Parlamento e com a manutenção do discurso eleitoral de zerar velhas práticas da política baseadas na troca de interesses entre Planalto e congressistas, o presidente aposta suas fichas na mobilização de apoio popular por meio, principalmente, das redes sociais.
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Apoiadores do presidente promovem desde dezembro uma ampla campanha nas redes sociais contra a eleição daquele que é o principal candidato à presidência do Senado, o veterano Renan Calheiros (MDB/AL). Com campanhas como #RenanNao e algumas variantes, buscam mobilizar a opinião pública e os colegas do senador alagoano.
A estratégia mobiliza ativistas de direita, como o cantor Lobão e os movimentos Vem Pra Rua e MBL, além de sites de notícia mais alinhados com o governo. Na manhã de hoje, dia da eleição, a hashtag #VotoAbertoSimRenanNão é o assunto mais comentado no Twitter no Brasil.
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A campanha é a primeira experiência prática da estratégia de governo de tentar superar o chamado presidencialismo de coalizão. Aliados do presidente, como o cientista político Paulo Kramer, definem a estratégia de forma simples.
“O presidente Jair Bolsonaro optou por queimar a ponte com o presidencialismo de coalizão. Portanto, precisa manter aceso o sentimento popular para pressionar o Congresso a apoiar a agenda do Poder Executivo”, diz Kramer, que assessorou a equipe de transição do novo governo.
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Oficialmente Bolsonaro ficou fora da disputa, como manda o figurino do Executivo para permitir a manutenção de boas relações entre os poderes – a última pessoa a tentar abertamente influenciar uma eleição no congresso a partir do Executivo foi Dilma Rousseff contra Eduardo Cunha e deu no que deu.
Mas os filhos do presidente mantiveram um discurso duro contra Renan enquanto puderam. As revelações do caso Queiroz, que atingiram Flávio Bolsonaro exigiram um recuo. Flávio estava escalado para ser a voz do presidente no Senado e a principal liderança do bolsonarismo na Casa. Hoje é um fantasma que estaria melhor escondido.
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No Senado, Renan foi o primeiro candidato a entrar em campanha, começou sua caminhada pra disputa em novembro, logo após a eleição presidencial, quando deu as primeiras entrevistas sobre o novo Congresso – e sobre o que pensa do novo governo.
O homem que já presidiu o Senado por quatro vezes apostou numa estratégia mais tradicional de campanha: foi atrás de seus pares em reuniões, ligações e conversas de corredor para pedir voto. A promessa é a que todo congressista gosta de ouvir: a independência da Casa em relação ao Executivo e a manutenção da diversidade de interesses dos parlamentares.
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Em quase três meses de campanha, Renan foi conquistando espaço sobre os adversários e acumulando desistências da corrida. Ontem conquistou a indicação do MDB em uma disputa interna, ganhando por sete votos a cinco da concorrente Simone Tebet (MDB/MS).
Não era um disputa simples. Tebet foi a líder da bancada do MDB até janeiro, é influente e era vista por emedebistas e senadores de outras siglas como um nome mais fácil para conquistar os votos de outros partidos na eleição de hoje. Mais que isso, Renan conquistou a indicação na disputa de voto aberto, exatamente a aposta dos apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais para evitar sua vitória.
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Hoje seu núcleo de apoio no MDB aposta em uma vitória já no primeiro turno, superando 41 votos entre os 81 senadores. O principal adversário de Renan é Davi Alcolumbre, senador do DEM pelo Amapá, turbinado por uma campanha tocada pelo ministro-chefe da Casa Civil, seu correligionário Onyx Lorenzoni.
Na noite de hoje veremos se a estratégia de fazer política com as redes sociais será capaz de desbancar as tradicionais articulações do Congresso. Esse é o primeiro teste. A prova de fogo será a reforma da previdência.