Diálogos da Transição

Canadá e Emirados Árabes embarcam em iniciativa para descarbonizar transporte marítimo

Lançada hoje (23/9), Iniciativa de Hubs Marítimos de Energia Limpa quer mobilizar governos em busca de incentivos à cadeia de combustíveis sustentáveis

Canadá e Emirados Árabes embarcam em iniciativa para Canadá e Emirados Árabes embarcam em iniciativa para reduzir emissões do transporte marítimo. Na imagem, terminal portuário com turbinas eólicas (Karsten Bergmann/Pixabay)
Iniciativa quer reduzir risco de investimento em combustíveis sustentáveis para cortar emissões do transporte marítimo (Karsten Bergmann/Pixabay)

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Editada por Nayara Machado
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Os governos do Canadá e dos Emirados Árabes Unidos anunciaram hoje (23/9) que serão os primeiros participantes de uma plataforma público-privada entre os setores de energia e marítimo para reduzir o risco de investimentos em combustíveis de baixo carbono para navios.

No final de junho, mais de 100 CEOs concordaram por unanimidade em criar uma plataforma internacional para desenvolvimento de hubs de abastecimento e corredores marítimos verdes.

Responsável por quase 90% do comércio mundial, o transporte marítimo contribui com cerca de 3% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e tem compromisso de cortar essas emissões pela metade até 2050.

Entre as soluções mais promissoras está a descarbonização do bunkercom adoção de hidrogênio, amônia ou metanol verdes.

O problema é que esses produtos ainda precisam de grandes investimentos para ganhar escala e, principalmente, competitividade — e urgente.

Um estudo do Boston Consulting Group (BCG) aponta que o setor precisa de US$ 2,4 trilhões em investimentos para zerar suas emissões e alcançar a principal meta do Acordo de Paris.

A maior parte — US$ 1,5 trilhão — será para desenvolver novos combustíveis e construir ou aprimorar instalações de refino, armazenamento e distribuição.

Com o lançamento oficial da Iniciativa de Hubs Marítimos de Energia Limpa hoje, a Câmara Internacional de Navegação (ICS) e a Associação Internacional de Portos e Portos (IAPH) vão iniciar uma mobilização de governos em busca de incentivos à produção, exportação e importação de combustíveis de baixo carbono.

A proposta é facilitar a troca de informações sobre políticas, programas e projetos de descarbonização para reduzir o risco de investimentos e acelerar a implantação comercial de tecnologias alternativas entre os países.

“Resolver o desafio da transição energética para o transporte marítimo requer soluções multissetoriais. Os portos têm um papel vital a desempenhar, não apenas como fornecedores de infraestrutura de bunkers, mas como novos centros de energia”, comenta Patrick Verhoeven, diretor Administrativo do IAPH.

Nawal AlHanaee, diretor do Departamento de Energia do Futuro do Ministério de Energia e Infraestrutura dos Emirados Árabes, conta que a expansão da economia de hidrogênio do país está em andamento com megaprojetos nos principais portos.

Um deles é a primeira planta de amônia renovável dos Emirados Árabes, para produção de 200 mil toneladas por ano no porto de Abu Dhabi, alimentada por uma fazenda solar de 800 MW. A amônia vai abastecer navios e também deve ser exportada.

“Isso, juntamente com outros empreendimentos de nossos portos, reforçará a posição dos Emirados Árabes Unidos como um importante centro marítimo competitivo”, comenta Nawal.

Iniciativas para cortar emissões na navegação avançam

Em novembro passado, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26), 22 países assinaram a Declaração de Clydebank com a ambição de apoiar corredores verdes, isto é, rotas de transporte com emissão zero entre dois portos.

De lá para cá, grandes empresas também têm anunciado parcerias e investimentos nesse sentido.

Maersk fechou em agosto uma parceria com a empresa chinesa de bioenergia Debo para fornecimento de 200 mil toneladas por ano de biometanol feito a partir de resíduos agrícolas. É a sétima da transportadora global com foco em bunker de baixo carbono.

Em abril, a trade agrícola Louis Dreyfus concluiu um teste de mistura de biocombustível com combustível naval. Foi a primeira vez que a companhia navegou usando 30% de biocombustível (B30). O teste foi feito em colaboração com a fabricante de navios Wisby Tanke, da Suécia.

Enquanto o Fórum Marítimo Global, BHP, Rio Tinto, Oldendorff Carriers Star Bulk Carriers assinaram uma carta de intenção para avaliar a criação de um corredor verde de minério de ferro entre a Austrália e o Leste da Ásia.

E a Yara International Azane Fuel Solutions firmaram um acordo comercial para estabelecer uma rede de bunkers à base de amônia verde na Escandinávia até 2024 — serão os primeiros terminais operacionais de combustível de amônia do mundo.

Por aqui, a aposta é no biobunker

Em dezembro passado, a multinacional dinamarquesa Bunker One anunciou uma parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) para estudar a viabilidade de adição de 7% de biodiesel ao óleo diesel marítimo. Os resultados devem ser divulgados ainda este ano.

Cobrimos por aqui: 

Mais ambição na aviação

Na próxima semana, começa a 41ª Assembleia Trienal da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO, em inglês) e a descarbonização também deve ganhar os holofotes. O setor tem meta de emissões líquidas zero de CO2 até 2050.

Nesta sexta, o Conselho Internacional de Aeroportos (ACI, em inglês) lançou um apelo aos países para que adotem um acordo ambiental ambicioso e estabeleçam uma estrutura regulatória clara para apoiar as mudanças, incluindo investimentos no desenvolvimento dos combustíveis sustentáveis de aviação (SAF).

“A adoção de um acordo ambiental na assembleia, totalmente alinhado com o Acordo de Paris e os próprios compromissos da indústria da aviação, demonstraria a liderança e o compromisso da ICAO e dos governos em tomar medidas ousadas para combater as mudanças climáticas”, diz Luis Felipe de Oliveira, diretor-geral da ACI.

A associação lançou em junho um roteiro para inserir aeroportos na rota dos combustíveis sustentáveis.

Eletrocombustíveis na Amazon

A multinacional de tecnologia anunciou esta semana que vai usará eletrocombustíveis em suas frotas de caminhões a partir de 2023. A expectativa com a mudança é reduzir as emissões de carbono em até cinco milhões de quilômetros rodados por ano.

Em parceria com a Infinium, organização de tecnologia de combustíveis renováveis, a Amazon vai adaptar os caminhões, antes abastecidos com diesel, para o eletrocombustível, uma alternativa feita a partir de resíduos carbono e energia renovável.

Caso tenha perdido…

— O que está em jogo na votação da MP 1118 Esta semana o antessala, programa semanal da agência epbr, discutiu as emendas para o setor elétrico na MP 1118, que deve ser votada pelo Senado na próxima semana.

Hidrogênio verde, mas nem tanto Produção de hidrogênio renovável sem requisito de adicionalidade pode levar ao consumo de eletricidade de fontes fósseis, escreve o jornalista Gabriel Chiappini

Uma mensagem do Programa PotencializEE:

Veja como o PotencializEE vai ajudar mais de 5.000 indústrias brasileiras a realizarem mais de mil diagnósticos energéticos e apoiar na implementação de 425 projetos, até 2024. Saiba mais