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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Relatório Política Climática por Inteiro 2023, publicado pelo Instituto Talanoa, nesta segunda (27/11), conclui que o Brasil está longe de cumprir com os compromissos climáticos firmados no Acordo de Paris.
Divulgado às vésperas da COP28, a principal conferência climática da ONU, o levantamento das políticas climáticas nacionais e setoriais identificou 17 avanços firmes, oito avanços iniciais, 15 áreas sem progresso e uma área com retrocesso.
Segundo os especialistas, controle do desmatamento na Amazônia e criação do mercado regulado de carbono são as áreas que mais avançaram em termos de políticas de redução de emissões.
As duas ganharam bastante atenção neste primeiro ano de governo Lula (PT) por um motivo: são o caminho mais rápido para levar o Brasil à neutralidade climática.
E os resultados já começam a aparecer: no caso do controle do desmatamento, os alertas na Amazônia caíram 50% nos primeiros dez meses do ano.
Mas colocar todos os ovos em uma cesta (ou duas) não é suficiente, observa o Talanoa.
“Os desafios para o país cumprir o compromisso estabelecido para 2025, quando sediará a COP30, são imensos. E não se limitam a reduzir as emissões de GEE a 1,32 bilhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente (GtCO2e), por si só um desafio bem grande, mesmo sem aumentarmos a ambição”, destaca o documento (.pdf).
Nem agro, nem energia
O Brasil chegará a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, para a COP28, dividido entre dois lobbies, pelo menos: agro versus óleo e gás.
De um lado, o agronegócio que tomou conta da pauta verde no Executivo e Legislativo, com a bandeira dos biocombustíveis, hidrogênio de biomassa e biorrefino entre as soluções para descarbonizar a economia e estabelecer uma nova indústria. Leia-se substituir o consumo de energia fóssil.
Do outro, a indústria de óleo e gás tenta se posicionar no debate da transição, também de olho no mercado de hidrogênio (gás natural com captura de carbono e, em alguns casos, eletrólise com renováveis) e na longevidade de seus negócios.
Na análise do Talanoa, as políticas climáticas para os dois grupos precisam ganhar mais força.
“Agro e energia são as duas áreas onde não estamos vendo uma construção tão forte de políticas ainda. Tem coisas acontecendo, como Combustível do Futuro, discussões sobre hidrogênio, eólicas offshore, Plano Safra. Acho que esses dois são a bola da vez agora para a sociedade colocar energia e conseguir avançar”, comentou Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, durante live de apresentação do estudo.
Na agropecuária, o plano de redução das emissões em curso prevê diminuir, até 2030, o equivalente ao que o setor lança em 20 meses na atmosfera.
No setor de energia, a crítica reside na contradição de o Brasil propagandear a renovabilidade invejável de sua matriz enquanto defende novas fronteiras de exploração de petróleo.
Unterstell observa ainda que todos os setores precisam entrar em uma rota de descarbonização profunda, rápida e completa até metade do século.
“Quando o Brasil se compromete com neutralidade climática até 2050, de certa maneira, eliminou aquele pensamento que perdurou por décadas de que ‘primeiro a gente resolve o desmatamento, depois vai cuidar dos outros setores’. Isso não existe mais”.
Cobrimos por aqui:
- Brasil precisa cortar desmatamento pela metade para cumprir NDC até 2025
- Ambientalistas brasileiros propõem cronograma para eliminar combustíveis fósseis
- Maior consumo de gasolina e diesel eleva emissões do transporte no Brasil
- Agricultura e florestas serão chave para descarbonizar América Latina
‘A hora da verdade para o O&G’
Também nesta segunda, a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) publicou um relatório mostrando que a indústria de petróleo tem sido “uma força marginal, na melhor das hipóteses” na transição para emissões líquidas zero no mix energético.
Apesar de fornecer mais de metade do suprimento global de energia e empregar quase 12 milhões de trabalhadores em todo o mundo, os investimentos do O&G em renováveis representaram apenas 1% do que foi aportado mundialmente para isso.
Para a IEA, a indústria pode adotar uma abordagem mais responsável e contribuir positivamente para a nova economia energética e a COP28, em Dubai, é “a hora da verdade” para o setor, que precisa cortar 60% das suas emissões até 2030 para se alinhar com 1,5°C.
“As empresas também precisam mudar drasticamente a forma como alocam os seus recursos financeiros. Em 2022, os investimentos em energia limpa representaram apenas 2,5% do total das despesas de capital da indústria. Os produtores que procuram alinhar-se com os objetivos do Acordo de Paris precisarão de destinar 50% das despesas de capital a projetos de energia limpa até 2030”, diz.
Curtas
Em busca de acordos… para o petróleo
Os Emirados Árabes Unidos planejam usar o seu papel como anfitrião das negociações climáticas da ONU como uma oportunidade para fechar acordos de petróleo e gás, apurou a BBC. Documentos informativos vazados revelam planos para discutir acordos de combustíveis fósseis com 15 nações.
Cooperação Brasil-França para minerais críticos
O Serviço Geológico do Brasil (SGB) e o órgão de Assuntos Internacionais do Serviço Geológico Francês (BRGM) firmaram cooperação para projetos na área de minerais críticos para transição energética (considerados de alta relevância, mas que sofrem restrição, como lítio e cobalto).
O acordo também prevê desenvolvimentos relacionados ao uso do urânio e armazenamento geológico de CO2 em aquíferos salinos profundos. O Brasil já tem parcerias com mais de 20 países, entre eles Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Japão. As informações são da Agência Brasil.
27 bilhões de euros para energia
A Itália aprovou nesta segunda um decreto para aumentar sua segurança energética e produção de energia renovável, com o ministro da transição ecológica dizendo que o pacote deverá gerar 27,4 bilhões de euros em investimentos, relata a Reuters.
Baterias mais baratas
Os preços das baterias de íon-lítio voltaram à trajetória de declínio, após um ano de aumentos sem precedentes em 2022, mostra pesquisa da BloombergNEF. Os preços médios atingiram um novo mínimo recorde de US$ 139/kWh, queda de 14% em relação ao ano passado. Matérias-primas ficaram mais baratas devido ao crescimento significativo na capacidade de produção em toda a cadeia de valor. Entretanto, a procura pode ter ficado aquém das expectativas da indústria.
Super El Niño
As águas do Oceano Pacífico atingiram o maior patamar de aquecimento desde 2016, de acordo com o relatório mais recente da NOAA, divulgado nesta segunda-feira (27/11). O relatório aponta que o Niño 3.4 registrou alta de 2,1°C.