Energia Eólica

Brasil precisa fazer escolhas entre fósseis e economia verde, afirma CEO da GWEC

Para executivo de associação que representa a indústria eólica no mundo, Brasil deve reavaliar incentivos

Brasil precisa escolher entre combustíveis fósseis e economia verde, afirma Ben Backwell, CEO do Global Wind Energy Council (GWEC), em entrevista ao TotalEnergies Studio durante a Brazil Offshore Wind Summit, no Rio, em 26/3/2024 (Foto: Victor Curi/epbr)
Ben Backwell, CEO do Global Wind Energy Council (GWEC), durante entrevista no TotalEnergies Studio, produzido pela epbr na Brazil Offshore Wind Summit no Rio de Janeiro (Foto: Victor Curi/epbr)

RIO – O CEO do Global Wind Energy Council (GWEC), Ben Backwell, avalia que o Brasil precisa definir objetivos claros de descarbonização e apoio è economia verde para dar sinais ao mercado, e consequentemente destravar investimentos em transição energética.

“O Brasil tem que decidir qual vai ser a economia do futuro”, afirmou Backwell ao TotalEnergies Studio, produzido pela agência epbr na Brazil Offshore Wind Summit no Rio, na última terça (26/3). Veja a íntegra acima.

“A economia do futuro vai ser uma economia verde, de produtos verdes, de tecnologias novas e não de energias à base de combustíveis fósseis. E acho que é importante que as pessoas incorporem isso em todas as ações que estamos tomando agora”.

O executivo acredita que o país deve reavaliar incentivos à cadeia de combustíveis fósseis, e aproveitar a janela de oportunidades e as vantagens que possui, por exemplo, no desenvolvimento de parques eólicos offshore e na indústria de hidrogênio verde.

“O Brasil não pode dizer que vai ser, de um lado, uma superpotência de hidrogênio verde e seguir fazendo hidrogênio cinza, sem ter uma meta. Falar que vai ser uma grande potência de eólicas offshore e, ao mesmo tempo, estar apoiando outros setores que retiram mercado e requerem subsídios”, defendeu Backwell na abertura do evento.

Ele aponta que o governo deve dar sinais claros ao mercado, uma vez que os projetos, tanto de hidrogênio, como de eólicas offshore, levam cerca de uma década para serem desenvolvidos.

“Estamos em uma indústria onde as decisões de planificação, os investimentos, por vezes, levam um tempo, as escolhas que se fazem hoje realmente são as que a gente vai ver daqui a dez anos”, disse.

Marco regulatório e leilão

Apesar da falta de clareza do governo, o CEO da GWEC disse estar confiante com a aprovação do marco regulatório das eólicas offshore, o PL que está aguardando votação do Senado, após sofrer uma série de alterações na Câmara dos Deputados.

“Estou muito confiante. Estava semana passada em Brasília com o vice-presidente, Geraldo Alckmin. Fui visitar vários senadores no Senado e também gente do bloco parlamentar. Eu acho que a lei, o que todos me contaram, vai sair em um período relativamente curto. espero que até o final de abril já esteja aprovada a lei”, pontuou Backwell.

O executivo também chamou a atenção para o momento posterior à aprovação da lei, em que serão determinadas as regulamentações e o processo de leilão de cessão de área em alto mar para implementação dos projetos offshore.

Na avaliação de Backwell, o modelo dos leilões deve incluir requisitos além de econômicos, ou para evitar valores demasiadamente elevados, o que poderia comprometer a viabilidade dos projetos, a exemplo do que ocorreu na Alemanha e Estados Unidos.

“Não adianta fazer um leilão para levantar vários bilhões de dólares, se depois esses projetos não se realizarem (…) O valor dos projetos não está no leilão. Os governos estão aprendendo isso também”.

Potencial para nova indústria

Para Backwell, o desenvolvimento de projetos de eólicas offshore no Brasil trazem para o país uma possibilidade gigantesca de desenvolver uma cadeia industrial relacionada ao setor.

Ele destaca um estudo da GWEC que aponta um estrangulamento na cadeia de suprimentos nos EUA e Europa , onde haverá “bastante restrição no fornecimento de produtos necessários”, o que abre espaço para o Brasil exportar alguns insumos e equipamentos.

“Não vai ter capacidade suficiente. E aí também é uma oportunidade muito grande para o Brasil. É questão de, primeiro, impulsar o desenvolvimento da indústria e, segundo, assegurar que as condições estão aí para que a cadeia produtiva da eólica possa exportar também, não somente para o mercado local”.

O potencial vai além de turbinas e alcança componentes, torres e as diversas matérias primas que integram a cadeia de suprimentos eólica.

“Tem certas áreas onde tem um grau de concentração muito grande. Os metais estratégicos ou críticos são uma área importante. O Brasil tem esse setor de mineração muito importante e também pode produzir de uma forma muito sustentável”, completou.

Cobertura do TotalEnergies Studio, produzido pela epbr na Brazil Offshore Wind Summit 2024