O Brasil precisa de uma política pública para estruturar e incentivar o desenvolvimento de tecnologias de armazenamento de energia, afirmaram especialistas durante a terceira temporada do evento virtual Diálogos da Transição 2023, promovido pela epbr (veja a íntegra acima).
Estocar energia elétrica é essencial para controlar as variações de fontes de energia que geram de forma intermitente, como solar e eólica. Atualmente, no Brasil, essa regulação tem sido feita com os reservatórios hidrelétricos, mas o crescimento exponencial das outras renováveis cria desafios tecnológicos e operacionais, relacionados a variação de potência e a sua entrada no Sistema Interligado Nacional (SIN).
O desenvolvimento e adoção de novas tecnologias de armazenamento em larga escala no país, no entanto, depende de um impulso governamental, segundo os especialistas.
“Acredito que o Brasil tem condições de ter esse papel de protagonista nesse quesito, mas é uma política de Estado isso. Desde a cadeia produtiva até lá na academia, formação de recursos humanos e manutenção desse recurso humano no Brasil. Hoje, o conhecimento técnico foge do Brasil às vezes para outro país e você vê o brasileiro trabalhando lá na Europa, produzindo tecnologia para a gente comprar de volta”, afirmou o professor de Engenharia Elétrica da Coppe/UFRJ, Robson Dias.
Para Renato Guimarães, coordenador de Planejamento da Expansão e Estudos da ISA CTEEP, nos últimos anos se observa um estreitamento entre academia e indústria, para justamente tentar manter o desenvolvimento da tecnologia no Brasil e até exportá-la.
“É muito importante essa relação entre academia e indústria para manter, reter talentos, reter capacidade intelectual e fomentar o desenvolvimento da tecnologia nacional”, disse o executivo.
Regulação deve acompanhar desenvolvimento tecnológico
Guimarães também destacou a importância de a regulamentação do mercado se manter a par dos avanços tecnológicos.
A Aneel tem se movimentado, mas precisamos ser mais rápidos, as coisas já estão acontecendo, e precisamos que a regulação avance também com velocidade”, afirma o coordenador na ISA CTEEP.
Este ano, a companhia de transmissão inaugurou o primeiro projeto de armazenamento de energia elétrica com baterias de larga escala no Brasil. Os sistemas de baterias têm 30 MW de potência, são capazes de entregar energia de 60 MWh por duas horas e atuam nos momentos de pico de consumo do litoral sul paulista, durante o verão, como um reforço à rede elétrica.
Luiz Fontenele, que atua na Petrobras, na área de geração de energia elétrica, com foco em geração fotovoltaica, também chama a atenção para que a regulação acompanhe o rápido desenvolvimento tecnológico imposto pela transição energética.
“A Aneel tem tentado se antecipar justamente nesses movimentos em que não só o sistema elétrico, o mundo como um está experimentando. Então, nessas chamadas de P&D estratégica, ela observa as tendências no mundo (…) Assim como foi a fotovoltaica, assim como está sendo o armazenamento de energia, assim como está sendo com o hidrogênio, para que essa transição não nos pegue de surpresa, não seja de forma abrupta, e a gente tem a capacidade técnica para fazer uma transição segura”, diz.
Minerais estratégicos e produção de baterias
O executivo da ISA CTEEP ainda comentou sobre a oportunidade que o Brasil possui na exploração de minerais estratégicos, a exemplo do lítio, para produção de baterias nacionais, impulsionando a cadeia doméstica de suprimentos.
“Já observamos no país um movimento da indústria de começar a montar as baterias no país, mas ainda importando a célula de lítio da China. Olhando para o Brasil, nós temos reservas de lítio identificadas em Minas Gerais. Temos que aproveitar essas reservas para também produzir nacionalmente as próprias células. Seria um ganho para o país em termos de posicionamento político, mas também de redução de custo”, disse Guimarães.
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