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Brasil precisa agir rápido para não perder oportunidade do hidrogênio verde, diz Vestas

Definir regras para eólica offshore é fundamental para competir no cenário global do combustível renovável, diz Gabriel Pontes, gerente sênior de Vendas da Vestas

O Brasil precisa definir rapidamente as regras para eólica offshore para não perder a oportunidade de se tornar um grande exportador de hidrogênio verde, afirmou Gabriel Pontes, gerente sênior de Vendas da Vestas. O executivo deu uma entrevista à epbr enquanto participava da Brazil Windpower, em São Paulo (veja a íntegra acima).

“Nós estamos inseridos num debate de transição energética que é uma necessidade global. O Brasil pode ser um fenômeno na exportação de uma molécula verde ou mesmo de outros subprodutos importantes com baixa agregação de carbono, mas, para que isso aconteça, nós precisamos nos mexer agora. Caso contrário, a gente pode perder uma oportunidade muito importante”, disse Gabriel Pontes.

A Câmara dos Deputados discute atualmente o projeto de lei 576/2021, que trata da geração eólica offshore. Nesta terça-feira (12/9), o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que está articulando pela aprovação da proposta e que espera um resultado positivo ainda este ano.

O marco legal é necessário para destravar a cessão das áreas offshore e os investimentos no Brasil. Atualmente, o país tem 189 GW de projetos em licenciamento, que aguardam uma definição.

O mesmo acontece com o hidrogênio, que ainda não tem um marco regulatório.

“A gente tem aí, na verdade, uma oportunidade muito importante, mas precisamos nos movimentar rápido, os agentes reguladores, legisladores, precisam se movimentar rápido para trazer, justamente, essa clareza jurídica, porque isso, certamente, vai trazer uma consequência em termos de demanda, vai trazer uma demanda e investimento para o nosso país com volumes bastante expressivos.”

Hidrogênio verde e eólica offshore

Pontes afirma que o hidrogênio verde é essencial para desenvolver a eólica offshore no Brasil.

“O hidrogênio verde é fundamental. E por ser uma demanda global e o Brasil sendo um agente bastante protagonista na produção dessa molécula, a gente entende que, de fato, isso pode alavancar um crescimento bastante significativo.”

Segundo Gabriel, o Brasil tem potencial para ser um dos líderes mundiais em hidrogênio verde por conta da competitividade do país na área renovável.

“O Brasil tem esse DNA, essa propensão renovável. E essa propensão não é da boca para fora. Hoje, quando você compara o custo da produção do hidrogênio verde entre os diversos países, isso não sou eu que estou dizendo, você tem algumas métricas importantes, em especial o relatório da Bloomberg New Energy Finance, mostrando que hoje o Brasil tem um dos menores, se não o menor custo por quilo de produção do hidrogênio verde.”

Fracasso de leilões estrangeiros

O executivo da Vestas afirmou que a alta nos custos da geração eólica offshore não está sendo acompanhada pelo preço da energia, o que explica o baixo desempenho dos últimos leilões, no Mar do Norte e no Golfo do México, além de discussões sobre a viabilidade de projetos nos EUA.

“O que a gente vem vendo na cadeia é que os custos têm crescido ao cubo, enquanto os preços e custos de eletricidade vêm crescendo ao quadrado”, diz.

Ele afirma que é possível extrair lições para o Brasil a partir dos leilões estrangeiros.

“A primeira lição que nós não devemos repetir é que a gente pense (…) não só pelos aspectos quantitativos, mas também pelos seus aspectos qualitativos. O que significa que os atributos e as externalidades positivas sejam valoradas e nós não entremos numa corrida do mínimo, apenas pelo mínimo. Porque isso, de fato, vai fazer com que os atores econômicos e os agentes econômicos não busquem necessariamente esse investimento ou busquem de maneira mais retraída.”

A Vestas é uma das maiores fabricantes de turbinas eólicas offshore do mundo, com mais de 1.600 unidades instaladas, em 48 projetos, com 9 GW de capacidade.

Outro fator é o tempo de maturação dos projetos, da cessão da área até a entrada em operação da usina. Segundo ele, hoje esse prazo é muito longo e deixa os empreendimentos mais vulneráveis à flutuações de custos e preços.

“Hoje, a média, globalmente, a gente está falando de nove anos, é preciso encurtar, porque imagina você tomando uma decisão que vai demandar nove anos, tendo que estabelecer o preço agora. É muito difícil, em especial dada a volatilidade que nós observamos mundialmente, através da crise de commodities, da própria crise mundial sanitária. Então, é muito importante que a gente tenha isso em mente, ou seja, é uma lição. Diminua um pouco os prazos.”