newsletter
Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
[email protected]
Depois de cair para a 9ª posição no ranking de países emergentes com condições mais favoráveis aos investimentos em energias renováveis em 2022, o Brasil terminará o ano de 2023 como o quinto mais atrativo, de acordo com relatório Climatescope da BloombergNEF.
A Índia lidera a lista, seguida por China, Chile e Filipinas. O Climatescope analisa o progresso e a atratividade no setor de energia limpa em 110 economias. Juntos, esses países representam quase dois terços do total de adições de capacidade global de geração renovável em 2022 e 82% da população mundial.
“Nos últimos anos, o Brasil sempre esteve no Top 10. No ano passado, ele teve uma queda maior na pontuação e foi para o 9º lugar. Este ano voltou a recuperar”, conta Sofia Maia, chefe de pesquisa sobre Transição da BNEF.
Em entrevista à agência epbr, ela explica que para atrair investimentos, as economias emergentes precisam de um mercado de eletricidade bem estruturado, com uma série de políticas em vigor para apoiar suas metas de energia renovável.
“Os primeiros cinco países do Climatescope refletem isso claramente, e é por isso que todos permaneceram entre os 10 principais mercados nos últimos quatro anos”.
No caso da Índia, primeira colocada, a receita combina metas ambiciosas para substituir combustíveis fósseis, leilões de energia renovável e o crescente investimento em capacidade eólica e solar.
Por aqui, o avanço da geração própria de energia – que saltou de 8 GW no início de 2022 para 25 GW em novembro de 2023 – ajudou a melhorar a atratividade do mercado brasileiro, avalia Maia.
“O que fez o Brasil melhorar de nono para quinto lugar foi justamente porque a gente teve uma política de compensação de energia nos últimos anos que atraiu uma quantidade gigantesca de investimentos, até porque foi anunciado que ia finalizar alguns incentivos. Então, a gente viu um boom de investimentos em projetos de pequena escala”, comenta.
A pesquisa foi realizada entre maio e junho, considerando políticas para o setor de energia e barreiras que poderiam dificultar o investimento, as realizações do mercado e o potencial de expansão da capacidade renovável.
No quesito experiência, que avalia as realizações do mercado, Chile e Brasil têm as melhores pontuações, respectivamente, entre os cinco. Já o potencial de expansão do Brasil é o menor, o que ajudou a puxar a pontuação para baixo.
Na comparação Chile e Brasil, a especialista da BNEF aponta que o Chile tem metas mais ambiciosas: além de já ter cumprido a meta de renováveis prevista para 2025, o país latinoamericano têm um projeto para phase-out de plantas a carvão até 2040.
“Todo esse comprometimento que o Chile tem, ainda que o Brasil seja um país com uma matriz elétrica muito forte em renovável, grande parte da nossa matriz é proveniente de hidrelétricas”, observa.
Dos quase 197 GW instalados no Brasil, quase 52% são de fonte hidrelétrica, 24% termelétrica (geralmente, fóssil), 14% eólica e 5% solar fotovoltaico, de acordo com dados da Aneel.
Embora tenha atraído investimentos crescentes em geração eólica e solar, o país tem dado passos para expandir a matriz com térmicas a gás e manter usinas a carvão em funcionamento até 2050 com a aprovação de políticas nesse sentido.
Outros destaques do Climatescope:
- A China ficou em segundo lugar, mas continua sendo o maior mercado para implantação de energia limpa, com oportunidades de crescimento significativas no futuro próximo;
- O Chile, que estava em primeiro no ranking do ano passado, desta vez, ficou em terceiro lugar. Embora um mercado muito menor do que a Índia ou a China, tem políticas bem estruturadas que impulsionam o investimento;
- Filipinas, em quarto lugar, é a única economia a ter entrado recentemente entre os quatro primeiros, subindo seis posições em relação ao ano passado. Já realizou dois leilões de energia renovável, e tem estratégia ambiciosa para produção de energia eólica offshore.
Investimentos concentrados
Dos 110 mercados emergentes, 102 estabeleceram metas de energia renovável e 74 instalaram pelo menos 1 MW de energia solar só no ano passado – um número recorde.
O relatório observa que o ritmo das instalações está acelerando entre os emergentes, que instalaram 222 GW de energia eólica e solar em 2022, cerca de 23% que em 2021.
No entanto, esses investimentos estão concentrados. Apenas 15 dos mercados analisados (excluindo a China) respondem por 87% da atração de capital para projetos renováveis, com destaque para Brasil, Índia e África do Sul que, juntos, captaram metade dos US$ 80 bilhões aplicados nos emergentes.
Cobrimos por aqui:
- América Latina tem 319 GW em renováveis anunciadas até 2030; Brasil lidera
- Ambientalistas brasileiros propõem cronograma para eliminar combustíveis fósseis
- China concentrará mais de 80% da fabricação solar até 2026
- Geradores e distribuidoras se unem às indústrias contra contratação obrigatória de térmicas e PCHs
Curtas
Hidrogênio em gasodutos
O Reino Unido anunciou que está disposto a avançar com os planos de injeção de até 20% de hidrogênio de baixo carbono, via eletrólise ou gás natural com CCS, na malha de gasodutos da Grã-Bretanha, que inclui Inglaterra, País de Gales e Escócia e Irlanda do Norte.
A decisão foi comunicada após uma consulta pública que recebeu contribuições até o final de outubro. Adoção de medidas para injeção futura ainda depende, no entanto, da conclusão de estudos de segurança.
Carvão até 2050
A Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM) segue confiante na aprovação da extensão dos contratos das usinas a carvão até 2050 no Congresso Nacional. A medida está incluída nas emendas do projeto de lei das eólicas offshore (PL 11247/2018) e mais duas iniciativas seguem no radar: o PL 4051/2023 de Bibo Nunes (PL/RS), na Câmara, e o pedido do senador Paulo Paim (PT/RS) para debater o tema em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos.
Empresas adiam net zero
Estudo global desenvolvido pela EY aponta uma desaceleração na evolução dos negócios segundo 520 Chief Sustainability Officers (CSOs) de 23 países, o que está refletindo também nos esforços para a redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE).
A pesquisa constata uma diminuição no número médio de ações que as empresas realizaram como parte da agenda climática e um aumento de 14 anos no ‘ano-meta’ para atingir as ambições climáticas, passando de 2036 para 2050.
Emissões de escopo 3 são um desafio
Outra conclusão da EY é que as empresas estão enfrentando dificuldades para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono, do Escopo 3, que são todas aquelas que dependem da mobilização da cadeia de suprimentos. As empresas que já publicaram análises do Escopo 3 afirmaram que essas emissões podem representar em média 75% do total gerado por suas operações.
Porto descarbonizado
O Porto Sudeste, no Rio de Janeiro, anunciou nesta quarta (20/12) a meta de reduzir em 50,4% as emissões de GEE de escopos 1 e 2 das suas operações até 2033 em relação ao ano base 2021, além de contratar uma ferramenta para mensurar emissões de escopo 3. As metas seguem o Estudo de Riscos Climáticos apresentado no primeiro semestre.
Guia para SAF
O Tesouro dos Estados Unidos divulgou, na última semana, as orientações sobre o Crédito de Combustível de Aviação Sustentável (SAF) estabelecido pela Lei de Redução da Inflação (IRA). O crédito incentiva a produção de SAF que alcance uma redução de emissões de gases de efeito estufa ao longo do ciclo de vida de, pelo menos, 50% em comparação com o similar de petróleo.
Produtores de SAF são elegíveis para um crédito fiscal de US$ 1,25 a US$ 1,75 por galão. De acordo com a orientação, vários combustíveis serão qualificáveis, incluindo diesel verde, biocombustíveis avançados e biocombustível celulósico aprovados pela agência ambiental sob o Renewable Fuel Standard (RFS).