Diálogos da Transição

Brasil em vias de perder investimentos em eólicas offshore

Sem um arcabouço regulatório claro, investimentos estão parados e algumas empresas começam a realocar recursos

Na imagem: Turbina eólica do parque Vineyard Wind I, o maior parque eólico offshore dos EUA (Foto: Divulgação Iberdrola)
Vineyard Wind I, o maior parque eólico offshore dos EUA (Foto: Divulgação Iberdrola)

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Editada por Nayara Machado
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Até abril de 2024, o Brasil contava com pouco mais de 234 GW distribuídos em quase 100 parques eólicos offshore com pedidos de licenciamento no Ibama. Quase metade deles com sobreposição a algum outro na costa brasileira.

Esses projetos dependem de uma série de definições legais para se concretizarem e a longa espera por um marco regulatório já começa a desmotivar investidores – inclusive de outras indústrias correlacionadas.

Em entrevistas à agência epbr, agentes do mercado avaliam que a demora na aprovação do marco das eólicas offshore (PL 576/2021) pode gerar uma série de impactos negativos nas cadeias de suprimento e em outras indústrias que poderiam se beneficiar do desenvolvimento de projetos no país, como o hidrogênio verde.

Sem um arcabouço regulatório claro, investimentos estão parados e algumas empresas começam a realocar recursos humanos e financeiros, migrando para mercados com legislações mais avançadas.

É o caso da Copenhagen Offshore Partners (COP), que decidiu encerrar temporariamente suas atividades no Brasil, embora enxergue o país como um mercado estratégico.

O plano da COP no Brasil projeta investimentos de pelo menos US$ 6 bilhões no desenvolvimento de quatro parques eólicos em alto mar, com 7 GW.

Enquanto a definição política não vem, o grupo decidiu realocar seus recursos humanos para Taiwan e Filipinas. Leia na reportagem de Gabriel Chiappini

Emperrado no Senado

O marco das eólicas offshore está emperrado no Senado Federal, sob relatoria de Weverton Rocha (PDT/MA).

Falta uma definição do governo Lula (PT) sobre a permanência ou não das emendas inseridas durante a tramitação do projeto na Câmara – que vão desde prorrogação de usinas a carvão, demanda de interesse dos parlamentares da região Sul, à contratação compulsória de térmicas a gás e PCHs.

Relatado pelo deputado Zé Vitor (PL/MG), o texto passou com votos da base governista na Câmara. Modificou a lei de privatização da Eletrobras, com a substituição de parte da contratação obrigatória de térmicas pelas pequenas centrais hidrelétricas. Alterou, ainda, as diretrizes para os preços do gás natural, numa tentativa de viabilizar as usinas em regiões sem acesso ao gás natural.

O governo Lula é contra as emendas no projeto da Câmara, mas também envia sinais trocados ao Congresso Nacional.

Semana passada, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), taxou o projeto de “desastre tarifário”, em virtude das alterações feitas na Câmara. Entenda a discussão

410 GW em uma década

Nos próximos dez anos, o mundo deve instalar 410 GW de nova capacidade eólica offshore, segundo estimativas do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC, em inglês), alinhando a implantação dessa fonte com as metas globais de instalação de 380 GW até 2030.

A maior parte disso ocorrerá na virada da década, com dois terços instalados entre 2029 e 2033.

Brasil, Austrália, Japão, Coreia do Sul, Filipinas, Vietnã, Colômbia, Irlanda e Polônia, mercados relativamente novos para a eólica no mar, devem impulsionar a nova onda de instalações.

O GWEC observa, no entanto, que gargalos nas áreas de finanças, demanda e aquisições industriais, desenvolvimento da cadeia de suprimento, licenciamento, consenso social, desenvolvimento da força de trabalho e infraestruturas de rede precisam ser superados o quanto antes, ou esta expansão estará em risco.

Em 2023, a indústria eólica instalou 10,8 GW de nova capacidade offshore, o segundo maior número de instalações anuais, elevando o total global para 75,2 GW.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Fracking no governo Lula

O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, reagiu ao avanço de legislações estaduais sobre a proibição da exploração de gás natural via fraturamento hidráulico (fracking). Condenada por ambientalistas, a prática é alvo do agronegócio, que teme concorrência com recursos hídricos e risco de contaminação em áreas de produção agropecuária.

Segundo Silveira, os projetos de lei nos estados podem trazer grandes prejuízos financeiros e energéticos para o país e ressaltou que a técnica é amplamente difundida em outros países, como o Canadá, Argentina e Estados Unidos, de quem o Brasil importa gás de fracking.

Incentivo a gás na frota pesada é vetado

O presidente Lula (PT) vetou estímulos ao uso de gás natural na frota pesada, incluído no Programa Nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover). A lei foi publicada nesta sexta (28/6) no Diário Oficial da União. Os vetos atenderam recomendações tanto do Ministério da Fazenda quanto do MDIC.

Painéis solares no MCMV

O presidente Lula (PT) e o ministros de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira (PSD), e das Cidades, Jader Filho (MDB), assinaram, nesta sexta-feira (28/6), a destinação de R$ 3 bilhões para instalação de painéis solares em unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida (MCMV). O decreto foi assinado durante evento em Belo Horizonte (MG). São recursos do Orçamento Geral da União.

Consumidor desconsidera impacto ambiental

Levantamento da EPE com mais de 3 mil consumidores em 15 cidades brasileiras mostra que o fator ambiental ainda não é levado em consideração no momento do abastecimento dos veículos flex fuel pela grande maioria, embora etanol e GNV sejam citados como os combustíveis que prejudicam menos o meio ambiente. Veja detalhes

Biodiesel e agricultura familiar

O governo federal publicou no Diário Oficial da União desta sexta (28/6) a portaria que atualiza definições e critérios a serem seguidos por produtores de biodiesel em seus contratos com a agricultura familiar e, assim, poderem pedir enquadramento nos benefícios fiscais do Selo Biocombustível Social.

Armazenamento de CO2

A Petrobras estima que o Brasil é capaz de estocar anualmente 250 milhões de toneladas de carbono em aquíferos salinos ao longo de 50 anos. O volume corresponde a cinco vezes as emissões anuais das operações da estatal, que são de cerca de 50 milhões de toneladas. Segundo o diretor executivo de Transição Energética da companhia, Maurício Tolmasquim, a intenção da petroleira é capturar as próprias emissões e oferecer o serviço a outras indústrias. Leia na epbr

Para a agenda

O T20, grupo de engajamento do G20 que reúne líderes de 121 think tanks nacionais e internacionais, realiza Conferência na sede do BNDES no Rio de Janeiro, dias 2 e 3 de julho. O evento terá a presença também de representantes dos setores público e privado e sociedade civil para debater e propor soluções para temas como combate à fome e às desigualdades, transição energética, transformação digital e reforma da governança global. Haverá transmissão ao vivo