Biocombustíveis

Brasil ansioso pela primeira gota de SAF

Com potencial de produzir cerca de 12 bi de litros, país ainda precisa de estratégia para competir globalmente

Brasil ansioso pelo início da produção de combustíveis sustentáveis para aviação (SAF). Na imagem: Silvio Costa Filho (MPor) e Luciana Santos (MCTI) participam da inauguração da primeira usina brasileira de produção de hidrocarbonetos renováveis, em Foz do Iguaçu (PR), em 17/6/2024 (Foto: Vosmar Rosa/MPor)
Inauguração da primeira usina piloto de produção de hidrocarbonetos renováveis, em Itaipu, em Foz do Iguaçu (Foto: Vosmar Rosa/MPor)

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Diálogos da Transição

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Editada por Nayara Machado
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Com potencial de produzir cerca de 12 bilhões de litros de combustíveis sustentáveis para aviação (SAF, em inglês) – suficiente para demanda doméstica e exportação – o Brasil está ansioso pelo início da produção comercial, mas precisa de estratégia para competir no mercado internacional.

Na segunda (17/6), a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio do projeto H2Brasil, e o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás) inauguraram em Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), a primeira planta piloto do país de petróleo sintético que será direcionado para a produção laboratorial de SAF.

Serão utilizados até 50 Nm³/dia de biogás produzido na unidade de biodigestão da usina (UD Itaipu) como fonte de carbono para a produção dos hidrocarbonetos. Além disso, serão utilizados 53 Nm³/dia de hidrogênio verde do Núcleo de Pesquisa em Hidrogênio (Nuphi) do Parque Tecnológico Itaipu (PTI).

“Hoje foi um dia muito importante para todos nós, porque nós celebramos, com Itaipu, a criação desse Centro de Tecnologia de Produção do SAF. Esta foi a pedra fundamental e a partir daqui é o início de uma história, onde eu não tenho dúvida que o Brasil vai ser um dos grandes produtores mundiais desse combustível verde”, disse à agência epbr o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho.

Ele participou, na segunda, da abertura do Congresso da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis para Aviação (RBQAV), em Foz do Iguaçu. O encontro se estende até quarta (19).

“A gente tem dialogado com o mercado africano, com o mercado europeu, a gente tem conversado com outros países e todos já colocam o Brasil como uma grande janela de oportunidade para produção do SAF”, completou o ministro.

Mas para sair do piloto e ganhar escala para abastecer a aviação doméstica e internacional será preciso avançar em áreas como regulação, certificação e tributação.

O marco legal do setor está aguardando o parecer do relator no Senado ao PL do Combustível do Futuro, que traz um mandato de redução de emissões para as companhias nacionais a partir do uso de alternativas sustentáveis.

José Ricardo, coordenador de Bioindústria do Ministério da Indústria e Comércio (MDIC), alerta que o Brasil precisa cuidar para não repetir erros do passado e aproveitar a oportunidade que se abre agora para o mercado de aviação.

“Temos grande disponibilidade de biomassa e experiência na produção de biocombustíveis. Precisamos batalhar para ter competitividade no mercado internacional”, comentou nesta terça (18/6).

Ele defendeu instrumentos de apoio para a produção como mandato, incentivos fiscais e financeiros, financiamento, certificação, qualidade e logística.

“Tudo isso precisa ser facilitado para viabilizar o ambiente de investimento”.

Nova indústria

Embora o Brasil tenha vasta experiência na produção de etanol e biodiesel, o investimento em uma biorrefinaria para produção de SAF e diesel verde chega a ser cinco vezes superior ao de uma planta de biodiesel, estima a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio).

“Quando falamos de uma política para o bioquerosene, estamos falando de uma política econômica, de segurança energética, climática e de saúde”, comenta Donizete Tokarski, CEO da Ubrabio.

Para Tokarski, é preciso fortalecer a bioindústria para exportar produtos com valor agregado, ao invés de matéria prima in natura, e na política internacional, trabalhar para rever regras relacionadas ao uso da terra que ameaçam a aceitação da biomassa brasileira, especialmente o óleo de soja.

O executivo também cobrou celeridade na aprovação do Combustível do Futuro, visto como um primeiro passo para atrair investimentos neste novo setor. “Não podemos perder essa oportunidade”.

Brasil crucial

Para a fabricante de aeronaves Airbus, que pretende colocar no mercado aeronaves aptas a usar 100% SAF até 2030, o Brasil é crucial para que as estratégias globais de combustíveis sustentáveis se concretizem.

“Sem o Brasil, isso não vai dar certo”, disse o presidente da Airbus Brazil, Gilberto Peralta, em Foz do Iguaçu.

Na visão de Peralta, a grande questão é o país escolher se quer ser coadjuvante exportando matéria-prima e importando SAF, ou o ator principal, desenvolvendo indústria e gerando empregos e renda.

O mundo precisa de 490 milhões de toneladas de SAF para o net zero até 2050, o que significa investir de US$ 1,5 trilhão a US$ 4 trilhões nos próximos 30 anos, para implementar mais de mil unidades de produção. Hoje, há apenas 10 biorrefinarias de escala comercial e 69 aeroportos em todo o mundo com abastecimento do renovável, de acordo com a Anac.

“No etanol e no biodiesel, o mercado é nosso. No transporte aéreo, se em 2027 nós não tivermos [produzindo], as empresas aéreas vão voar da mesma maneira, elas vão buscar [o SAF] onde tiver”, pontua Rogério Benevides, diretor da Agência Nacional de Aviação Civil.

Ele observa que o consumo de querosene é uma despesa de bilhões para as companhias aéreas e que o custo de importar o produto de baixo carbono será repassado aos passageiros.

“Diferente de outros desenhos de negócios de combustíveis, este vai acontecer. Se nós, que temos capacidade produtiva não acompanharmos, seremos atropelados. A aviação não espera”, completa.

Cobrimos por aqui:

Curtas

Enquanto o SAF não vem…

A companhia aérea Gol e a distribuidora de combustíveis Vibra concluíram o primeiro acordo “book-and-claim” da América Latina para compensar emissões de carbono por meio de combustível de aviação sustentável na América Latina. A operação permite que companhias aéreas comprem créditos provenientes da utilização de SAF por outras empresas do setor, em uma estratégia para reduzir a pegadas de carbono enquanto o renovável ainda não está amplamente disponível. (Reuters)

Brasil tem recursos, mas falta demanda para renováveis

O diretor de Transição Energética da Petrobras, Maurício Tolmasquim, disse que o Brasil tem recursos e projetos para investimentos em energias renováveis, mas falta demanda por eletricidade. Durante o Energy Summit nesta terça (18/6), no Rio de Janeiro, Tolmasquim lembrou que a demanda será crucial para avançar na descarbonização da economia e que setores como a siderurgia podem reduzir as emissões por meio da eletrificação. Leia na epbr

Infraestrutura para captura de carbono

O CEO da Energisa, Ricardo Botelho, afirmou nesta terça-feira (18/6) que vê as distribuidoras de gás canalizado como prestadoras de soluções de infraestrutura mais amplas no futuro – associadas a novos negócios como como a Captura, Uso e Armazenamento de Carbono (CCUS). “A gente acha que o serviço de distribuição de gás também é um serviço de transporte de gás carbônico. Uma hora vai ser”, afirmou o executivo a jornalistas, após participar do Energy Summit.

MP 1212/2024

Aneel recebeu pedidos de 1.963 usinas de energia de fontes renováveis interessadas no enquadramento na Medida Provisória 1212/2024, editada em abril, que estendeu em mais 36 meses o prazo para que esses empreendimentos iniciem a operação comercial de todas as suas unidades geradoras e façam jus aos descontos nas TUST e TUSD. A maioria dos requerimentos é de usinas solares e corresponde a 65,3 GW de potência.

Lula defende petróleo

O governo vai chamar o Ibama e decidir sobre a exploração na Foz do Amazonas, admite Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente da República afirma que “Brasil tem governo” para decidir sobre abertura da fronteira para a Petrobras no offshore do Amapá. Entenda

Clima extremo

Os níveis de calor durante a Olimpíada de Paris podem representar riscos à saúde dos competidores, segundo o relatório Rings of Fire: Heat Risks at the 2024 Paris Olympics publicado nesta terça-feira (18) pela British Association for Sustainable Sport e Frontrunners. A organização que ajuda atletas a se envolverem em questões ambientais alerta que o aumento contínuo das temperaturas globais pode comprometer as futuras edições dos Jogos. (CNN)

Selo social

Os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), e do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT), assinaram, nesta terça (18/6), a portaria que permite a celebração de contratos a partir das novas regras do Selo Biocombustível Social. Pelo novo texto, ficou estabelecido o aumento do leque de opções de compras da agricultura familiar para produtores de biodiesel. Leia na epbr

A jornalista viajou a Foz do Iguaçu a convite do 3º Congresso da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis para Aviação.