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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Com potencial de produzir cerca de 12 bilhões de litros de combustíveis sustentáveis para aviação (SAF, em inglês) – suficiente para demanda doméstica e exportação – o Brasil está ansioso pelo início da produção comercial, mas precisa de estratégia para competir no mercado internacional.
Na segunda (17/6), a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio do projeto H2Brasil, e o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás) inauguraram em Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), a primeira planta piloto do país de petróleo sintético que será direcionado para a produção laboratorial de SAF.
Serão utilizados até 50 Nm³/dia de biogás produzido na unidade de biodigestão da usina (UD Itaipu) como fonte de carbono para a produção dos hidrocarbonetos. Além disso, serão utilizados 53 Nm³/dia de hidrogênio verde do Núcleo de Pesquisa em Hidrogênio (Nuphi) do Parque Tecnológico Itaipu (PTI).
“Hoje foi um dia muito importante para todos nós, porque nós celebramos, com Itaipu, a criação desse Centro de Tecnologia de Produção do SAF. Esta foi a pedra fundamental e a partir daqui é o início de uma história, onde eu não tenho dúvida que o Brasil vai ser um dos grandes produtores mundiais desse combustível verde”, disse à agência epbr o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho.
Ele participou, na segunda, da abertura do Congresso da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis para Aviação (RBQAV), em Foz do Iguaçu. O encontro se estende até quarta (19).
“A gente tem dialogado com o mercado africano, com o mercado europeu, a gente tem conversado com outros países e todos já colocam o Brasil como uma grande janela de oportunidade para produção do SAF”, completou o ministro.
Mas para sair do piloto e ganhar escala para abastecer a aviação doméstica e internacional será preciso avançar em áreas como regulação, certificação e tributação.
O marco legal do setor está aguardando o parecer do relator no Senado ao PL do Combustível do Futuro, que traz um mandato de redução de emissões para as companhias nacionais a partir do uso de alternativas sustentáveis.
José Ricardo, coordenador de Bioindústria do Ministério da Indústria e Comércio (MDIC), alerta que o Brasil precisa cuidar para não repetir erros do passado e aproveitar a oportunidade que se abre agora para o mercado de aviação.
“Temos grande disponibilidade de biomassa e experiência na produção de biocombustíveis. Precisamos batalhar para ter competitividade no mercado internacional”, comentou nesta terça (18/6).
Ele defendeu instrumentos de apoio para a produção como mandato, incentivos fiscais e financeiros, financiamento, certificação, qualidade e logística.
“Tudo isso precisa ser facilitado para viabilizar o ambiente de investimento”.
Nova indústria
Embora o Brasil tenha vasta experiência na produção de etanol e biodiesel, o investimento em uma biorrefinaria para produção de SAF e diesel verde chega a ser cinco vezes superior ao de uma planta de biodiesel, estima a União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio).
“Quando falamos de uma política para o bioquerosene, estamos falando de uma política econômica, de segurança energética, climática e de saúde”, comenta Donizete Tokarski, CEO da Ubrabio.
Para Tokarski, é preciso fortalecer a bioindústria para exportar produtos com valor agregado, ao invés de matéria prima in natura, e na política internacional, trabalhar para rever regras relacionadas ao uso da terra que ameaçam a aceitação da biomassa brasileira, especialmente o óleo de soja.
O executivo também cobrou celeridade na aprovação do Combustível do Futuro, visto como um primeiro passo para atrair investimentos neste novo setor. “Não podemos perder essa oportunidade”.
Brasil crucial
Para a fabricante de aeronaves Airbus, que pretende colocar no mercado aeronaves aptas a usar 100% SAF até 2030, o Brasil é crucial para que as estratégias globais de combustíveis sustentáveis se concretizem.
“Sem o Brasil, isso não vai dar certo”, disse o presidente da Airbus Brazil, Gilberto Peralta, em Foz do Iguaçu.
Na visão de Peralta, a grande questão é o país escolher se quer ser coadjuvante exportando matéria-prima e importando SAF, ou o ator principal, desenvolvendo indústria e gerando empregos e renda.
O mundo precisa de 490 milhões de toneladas de SAF para o net zero até 2050, o que significa investir de US$ 1,5 trilhão a US$ 4 trilhões nos próximos 30 anos, para implementar mais de mil unidades de produção. Hoje, há apenas 10 biorrefinarias de escala comercial e 69 aeroportos em todo o mundo com abastecimento do renovável, de acordo com a Anac.
“No etanol e no biodiesel, o mercado é nosso. No transporte aéreo, se em 2027 nós não tivermos [produzindo], as empresas aéreas vão voar da mesma maneira, elas vão buscar [o SAF] onde tiver”, pontua Rogério Benevides, diretor da Agência Nacional de Aviação Civil.
Ele observa que o consumo de querosene é uma despesa de bilhões para as companhias aéreas e que o custo de importar o produto de baixo carbono será repassado aos passageiros.
“Diferente de outros desenhos de negócios de combustíveis, este vai acontecer. Se nós, que temos capacidade produtiva não acompanharmos, seremos atropelados. A aviação não espera”, completa.
Cobrimos por aqui:
- Políticas de incentivo e corrida verde impulsionam mercado de SAF
- Aviação tem urgência na aprovação de marco legal para combustíveis sustentáveis
- Airbus e TotalEnergies firmam acordo de fornecimento de SAF na Europa
- Combustível do Futuro quer incentivar nova indústria e Petrobras não precisa de mandato, diz ministro
Curtas
Enquanto o SAF não vem…
A companhia aérea Gol e a distribuidora de combustíveis Vibra concluíram o primeiro acordo “book-and-claim” da América Latina para compensar emissões de carbono por meio de combustível de aviação sustentável na América Latina. A operação permite que companhias aéreas comprem créditos provenientes da utilização de SAF por outras empresas do setor, em uma estratégia para reduzir a pegadas de carbono enquanto o renovável ainda não está amplamente disponível. (Reuters)
Brasil tem recursos, mas falta demanda para renováveis
O diretor de Transição Energética da Petrobras, Maurício Tolmasquim, disse que o Brasil tem recursos e projetos para investimentos em energias renováveis, mas falta demanda por eletricidade. Durante o Energy Summit nesta terça (18/6), no Rio de Janeiro, Tolmasquim lembrou que a demanda será crucial para avançar na descarbonização da economia e que setores como a siderurgia podem reduzir as emissões por meio da eletrificação. Leia na epbr
Infraestrutura para captura de carbono
O CEO da Energisa, Ricardo Botelho, afirmou nesta terça-feira (18/6) que vê as distribuidoras de gás canalizado como prestadoras de soluções de infraestrutura mais amplas no futuro – associadas a novos negócios como como a Captura, Uso e Armazenamento de Carbono (CCUS). “A gente acha que o serviço de distribuição de gás também é um serviço de transporte de gás carbônico. Uma hora vai ser”, afirmou o executivo a jornalistas, após participar do Energy Summit.
MP 1212/2024
A Aneel recebeu pedidos de 1.963 usinas de energia de fontes renováveis interessadas no enquadramento na Medida Provisória 1212/2024, editada em abril, que estendeu em mais 36 meses o prazo para que esses empreendimentos iniciem a operação comercial de todas as suas unidades geradoras e façam jus aos descontos nas TUST e TUSD. A maioria dos requerimentos é de usinas solares e corresponde a 65,3 GW de potência.
Lula defende petróleo
O governo vai chamar o Ibama e decidir sobre a exploração na Foz do Amazonas, admite Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente da República afirma que “Brasil tem governo” para decidir sobre abertura da fronteira para a Petrobras no offshore do Amapá. Entenda
Clima extremo
Os níveis de calor durante a Olimpíada de Paris podem representar riscos à saúde dos competidores, segundo o relatório Rings of Fire: Heat Risks at the 2024 Paris Olympics publicado nesta terça-feira (18) pela British Association for Sustainable Sport e Frontrunners. A organização que ajuda atletas a se envolverem em questões ambientais alerta que o aumento contínuo das temperaturas globais pode comprometer as futuras edições dos Jogos. (CNN)
Selo social
Os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), e do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT), assinaram, nesta terça (18/6), a portaria que permite a celebração de contratos a partir das novas regras do Selo Biocombustível Social. Pelo novo texto, ficou estabelecido o aumento do leque de opções de compras da agricultura familiar para produtores de biodiesel. Leia na epbr
A jornalista viajou a Foz do Iguaçu a convite do 3º Congresso da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis para Aviação.
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