Diálogos da Transição

Brasil acordou para transporte público eletrificado?

Eletra inaugura fábrica de ônibus elétricos no ABC paulista; BNDES anuncia R$ 5 bi para projetos de infraestrutura da COP30 em Belém

Brasil acordou para transporte público eletrificado? Na imagem: Presidente Lula (PT) cumprimenta a presidente da Eletra, Milena Braga Romano, durante inauguração de fábrica em São Paulo (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
Presidente Lula (PT) cumprimenta a presidente da Eletra, Milena Braga Romano, durante inauguração de fábrica em São Paulo (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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Editada por Nayara Machado
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A brasileira Eletra está investindo R$ 150 milhões para lançar seis novos modelos de ônibus elétricos, o maior portfólio desse tipo de veículo no país.

Nesta sexta (2/6), a empresa inaugurou uma fábrica em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, que terá capacidade de produzir 1,8 mil unidades por ano, com a possibilidade de ampliar a produção em 50% apenas dobrando o turno.

Em uma cerimônia que contou com a presença do presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e do vice-presidente e ministro da Indústria Geraldo Alckmin (PSB), o lançamento foi palco para colocar um pé do Brasil na discussão sobre o papel que queremos desempenhar na industrialização de baixo carbono.

“Nos últimos 20 anos, nós perdemos muito a autonomia. Tínhamos uma indústria dominada por produtos brasileiros e perdemos para os chineses. Chegou o momento de resgatarmos isso. Temos produto, temos competência e vontade de voltarmos a ser exportadores para a América Latina e para o mundo”, discursou Milena Braga Romano, presidente da Eletra.

Junto com esse movimento, está a criação de empregos. A cadeia produtiva de ônibus elétricos poderá gerar 10 mil empregos  nos próximos três anos, segundo “estimativas realistas”, garante Milena, podendo aumentar para 30 mil.

A executiva afirma ainda que a ambição da Eletra é se posicionar como líder global em transporte público sustentável na América Latina.

“Um bom exemplo dessa nova indústria que está nascendo no Brasil (…) focada no transporte limpo e sustentável, na descarbonização da economia e melhoria da qualidade de vida nas cidades brasileiras”.

Na cobertura da semana:

Elétricos no transporte escolar

Durante a inauguração da fábrica, o presidente Lula (PT) encomendou ao ministro da Educação, Camilo Santana (PT/CE), a renovação das frotas de ônibus escolares.

“Nossa frota de ônibus já está muito velha. (…) É preciso renovar para vender mais ônibus, gerar mais empregos e fazer a economia brasileira andar para frente”, disse Lula.

Segundo o presidente, é papel do estado fortalecer a indústria nacional. E mencionou a disputa com a União Europeia pelas compras governamentais no acordo com o Mercosul: Lula diz que não vai ceder compras governamentais em acordo comercial Mercosul-UE

“Prefiro fazer negócios com os brasileiros para fortalecer a indústria nacional (…) Vamos estar juntos nessa briga, não apenas para ajudar a comprar os ônibus que os municípios precisam, mas [para fazer] essa mudança energética extraordinária que tanto precisamos”.

Também aproveitou para cobrar os US$ 100 bilhões prometidos pelos países ricos em 2009 para ajudar na transição ecológica de países emergentes e vulneráveis.

Onde estamos?

A frota brasileira de ônibus a bateria ainda é pequena. Apenas 376 veículos em todo o país, dos quais 302 são trólebus. Os convencionais a bateria somam 59 e os articulados (mais de 18 metros de comprimento) 13. Os dados são do e-bus Radar.

A título de comparação, no Chile e na Colômbia, países com políticas de incentivo à eletrificação do transporte público, as frotas somam mais de 1,2 mil e 1,5 mil ônibus a bateria, respectivamente.

Produzido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Plano Decenal de Energia (PDE 2032) estima que as políticas de substituição de frotas do transporte público até o ano passado levarão a um aumento de 10% nos licenciamentos de veículos elétricos novos em 2032.

A análise considera anúncios recentes de cidades como São Paulo, São José dos Campos e Salvador de compra de ônibus elétricos a bateria. Mas equilibra o otimismo com barreiras à expansão acelerada no curto prazo, como preço de aquisição e infraestrutura de carregamento.

R$ 5 bi para COP30 em Belém eletrificada

O BNDES vai destinar R$ 5 bilhões para viabilizar a realização da COP30 em Belém, anunciaram nesta sexta o presidente do banco Aloizio Mercadante e o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB).

O valor vai ser destinado a projetos de infraestrutura, além de iniciativas de bioeconomia e de transição energética, como a substituição da frota urbana de ônibus da capital paraense.

“Estamos muito motivados a transformar Belém no primeiro case de transporte público 100% a partir de energias renováveis, seja a partir de gás ou elétrico”, disse o governador.

O presidente do BNDES disse que o banco quer impulsionar a eletromobilidade. “Ônibus é muita manufatura, gera muito emprego”, afirmou.

“Se nós não migrarmos para o ônibus elétrico, vamos perder presença na região”, acrescentou.

Nesse contexto, Mercadante lembrou que o Brasil precisa aproveitar o momento de transição energética para se reindustrializar. Leia na cobertura de Gabriela Ruddy

Quem está eletrificando o transporte público:

Curtas

Da mineração à geração solar

O fundo de investimentos britânico especializado em mineração Appian Capital Advisory LLP formou uma joint venture com a Detronic Energia para desenvolver um portfólio de 20 parques solares, com capacidade total de 62,4 MWp, em Minas Gerais. A construção do complexo está prevista para o segundo trimestre de 2023.

Financiamento de GD em alta

O banco BV registrou crescimento de 52% em sua carteira de financiamento de painéis solares, alcançando R$ 4,7 bilhões nos últimos 12 meses. Com linhas de crédito para pequenos comércios e residências, a instituição tem observado uma maior inserção da classe C no mercado de geração distribuída.

“Nossa visão segue otimista para o produto dado o elevado potencial solar do Brasil e o baixo custo de produção de energia solar comparado com outras fontes energéticas”, comenta Mariana Granata, superintendente de Solar do banco BV.

Mulheres no comércio exterior

Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e a ApexBrasil lançaram nesta sexta (2) um programa de mentoria para que empresas experientes no comércio exterior apoiem iniciantes no segmento. Com duração de seis meses, o Elas Exportam é voltado para empresas brasileiras lideradas por mulheres. As inscrições vão até 23 de junho. Mais informações no site do MDIC

Salários iguais

O Senado aprovou ontem (1/6) o projeto de lei que torna obrigatória a igualdade salarial e de critérios remuneratórios entre mulheres e homens para trabalho de igual valor ou no exercício da mesma função. O texto aprovado determina que o governo federal terá que regulamentar a futura lei por meio de decreto. O PL 1.085/2023 segue para sanção. Agência Senado