RIO — A Copergás, distribuidora pernambucana de gás natural, aposta no biometano como uma importante fonte de suprimento no futuro. Uma das metas da concessionária é que 20% do gás distribuído pela companhia seja de origem renovável em até dez anos.
Para o diretor técnico-comercial da empresa, Fabrício Bomtempo, o mercado brasileiro de biometano deve, finalmente, deslanchar.
“O biometano é a bola da vez”, disse Bomtempo, em entrevista à agência epbr. “Sempre houve muita expectativa com relação ao biometano e acho que agora deve começar a deslanchar”, completou.
A Copergás abriu este ano a primeira chamada pública para aquisição de biometano e deve divulgar a proposta vencedora até o fim de abril.
A primeira etapa da concorrência recebeu quatro propostas para fornecimento de um volume mínimo de 3 mil metros cúbicos diários (m³/dia), a partir de 2024. Bomtempo não descarta, contudo, comprar um volume maior e de mais de um fornecedor.
“Tivemos propostas muito acima desse volume [mínimo]. Temos uma meta de que 20% do nosso gás distribuído seja de origem renovável nos próximos dez anos. Estamos falando de 340 mil (m³/dia”, afirmou.
Mais biometano, menos GNL
Bomtempo acredita que parte do biometano a ser contratado pela Copergás poderá vir do setor sucroalcooleiro de Pernambuco e dos aterros sanitários. Segundo ele, o produto renovável permitiria à concessionária não só interiorizar o gás no estado, como também reduzir a dependência da importação do gás natural liquefeito (GNL).
“Nosso objetivo é, no futuro, que as redes sejam abastecidas não por GNL vindo de outros lugares, mas por biometano produzido localmente. É muito mais sustentável e faz muito mais sentido atender a uma demanda local a partir de uma fonte local”, comentou.
O diretor conta que o biometano também pode contribuir para reduzir a exposição da Copergás às oscilações do preço do gás natural no mercado internacional, intensificadas devido às sanções impostas à Rússia — um dos maiores produtores mundiais de gás.
“Vemos com preocupação a situação internacional do mercado de petróleo e gás”, disse. “A produção local do biometano já era um objetivo estratégico nosso no campo da sustentabilidade e agora, além da sustentabilidade, é uma questão também econômica”, explicou.
Bomtempo acredita que o aquecimento da demanda por GNL, diante da expectativa de redução das exportações de gás russo para a Europa, deve manter os preços do gás num patamar elevado por um longo período. Diante desse cenário, segundo o diretor, será importante buscar fontes de produção local.
“É importante viabilizar os produtores onshore no Nordeste que estão assumindo os campos que eram da Petrobras e estão investindo na produção de maiores volumes. Isso vai nos ajudar”, afirmou.
Outra medida para driblar as constantes oscilações de preço do gás no mercado internacional, segundo Bomtempo, é a flexibilidade na indexação nos novos contratos.
“Já adotamos uma medida prática que foi no contrato com a Shell. Temos a flexibilidade de indexação. Até então os contratos eram 100% indexados ao [barril de petróleo] Brent. Já neste contrato, podemos usar tanto o Brent quanto o Henry Hub [referência do mercado dos EUA], que é menos instável”, comentou.
Copergás ainda aguarda novo terminal de GNL
Prometido inicialmente para entrar em operação no início de 2022, o terminal de GNL no porto de Suape ainda aguarda a contratação de um operador. O terminal é essencial para Pernambuco, que ao contrário de outros estados da região, como Bahia e Sergipe, não produz gás natural.
Em fevereiro, a Antaq suspendeu o leilão promovido pelo Porto de Suape para contratação do operador que fará a instalação do terminal de regaseificação.
Em entrevista exclusiva ao político epbr em março, o presidente do complexo portuário, Roberto Gusmão, disse que Suape deve retomar a concorrência no segundo semestre, com contratos de cinco anos.
“Já apareceram novos players interessados”, disse Gusmão. “Eles [os players] entendem que ao invés de um processo de transição, que era o que estava colocado, é melhor partir para processos de longo prazo”, contou.
A viabilidade do terminal, lembra Bomtempo, está ancorada na demanda local, estimada em 6 milhões de m³/dia — incluindo na conta os consumos da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), localizada no complexo portuário da termelétrica Termopernambuco, e do mercado não-termelétrico de Pernambuco.
O terminal será importante para diversificar a base de supridores da distribuidora. Atualmente, a Copergás possui contratos de aquisição de gás com a Shell, Petrobras e New Fortress Energy.
“A partir de 2024, a gente precisa buscar novos fornecedores, o que seria mais ou menos o prazo de implantação deste terminal”, pontuou.
O diretor da Copergás também defende a possibilidade de injeção do GNL na malha nacional de gasodutos de transporte, o que permitiria a entrega do produto importado a outros estados.
“Para a TAG [Transportadora Associada de Gás, dona da malha de gasodutos do Nordeste] seria estratégica essa injeção nesse ponto e tem um mercado local relevante (…). Em termos de escoamento seria muito benéfico porque existem gargalos para trazer esse gás da Bacia de Campos, do pré-sal”, disse.
Hidrogênio verde nos planos
Além do biometano, a Copergás também tem planos para explorar o hidrogênio verde (H2V). A distribuidora estuda uma parceria com a francesa Qair para um projeto piloto de produção de H2V no Porto de Suape. A ideia é injetar o hidrogênio renovável na rede de distribuição da concessionária.
“Nesta fase do projeto ainda não temos certeza se vamos trabalhar com o mix [gás e hidrogênio] ou se faremos uma rede dedicada para o hidrogênio; ou se será necessário alguma adaptação na rede existente”, explicou o diretor.
A Qair já possui um memorando com o governo de Pernambuco para a instalação de um outro projeto de produção de H2V, porém em larga escala. O edital para concessão da área portuária será lançado nos próximos dias.