Biocombustíveis

Bioenergia está longe do necessário para emissões líquidas zero

Bioenergia poderia representar um quarto da oferta total de energia primária até 2050, mostra relatório

Bioenergia está longe do necessário para net zero. Na imagem, EnerDinBo, primeira usina híbrida de biogás e geração fotovoltaica em grande escala do Brasil, localizada em Ouro Verde do Oeste, Paraná (Foto: Alessandro Vieira/Sedest)
EnerDinBo, usina híbrida de biogás e geração fotovoltaica em grande escala, localizada em Ouro Verde do Oeste, recebe resíduos da agroindústria do Oeste Paraná (Foto Alessandro Vieira_Sedest)

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Diálogos da Transição

Editada por Nayara Machado
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A série de debates dos Diálogos da Transição está de volta, de 29/8 a 2/9
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Representando dois terços do consumo de energia renovável em todo o mundo — e 12% do consumo final de energia — a bioenergia poderia representar um quarto da oferta total de energia primária até 2050, mostra recente relatório da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, na sigla em inglês).

Para isso, a contribuição da chamada bioenergia moderna precisa aumentar em todos os usos finais até 2030, o que significa mais biomassa e biogás para aquecimento e indústria, além de biocombustíveis líquidos e biometano para transporte.

E também: vencer barreiras de custos e riscos relacionados à cadeia de suprimentos, por exemplo.

Segundo a Irena, essa fonte vem aumentando sua participação significativamente nos últimos anos, especialmente no Brasil, China, União Europeia e Estados Unidos, no entanto, a taxa de crescimento ainda está bem abaixo do necessário para atingir as metas de emissões líquidas zero.

“A menos que sejam tomadas medidas de política, a implantação de bioenergia não atingirá os níveis alinhados com o cenário de 1,5°C”, destaca o relatório.

Custo é a barreira mais significativa

Em geral, combustíveis de base biológica custam mais do que os fósseis, o que dificulta o acesso ao mercado — já que consumidores querem combustíveis mais baratos.

Além disso, os produtores precisam, cada vez mais, desenvolver cadeias de suprimentos compatíveis com os requisitos de sustentabilidade, o que adiciona novos custos às operações.

“Medidas de apoio financeiro e fiscal podem garantir que a produção e o uso de fontes de bioenergia sejam rentáveis ​​para as empresas e acessíveis para os consumidores finais”, pontua o documento.

Isso inclui: eliminação progressiva dos subsídios aos combustíveis fósseis, políticas de precificação do carbono, políticas para reduzir impostos sobre a bioenergia e medidas para facilitar o financiamento.

“A eliminação gradual dos subsídios à produção e ao consumo de combustíveis fósseis é urgentemente necessária — especialmente para os países do G20, que respondem pela maior parte dos subsídios — para corrigir a distorção do mercado de energia e nivelar as condições para as energias renováveis”.

Preço do carbono

Políticas de precificação de carbono, incluindo impostos sobre carbono e sistema de comércio de emissões (ETSs), também podem ser importantes para internalizar custos — desde que bem desenhadas para refletir o contexto local e evitar o agravamento da situação das pessoas de baixa renda.

Ao mesmo tempo, o preço do carbono precisa ser alto o suficiente para tornar a bioenergia competitiva em termos de custos em comparação com as opções de combustíveis fósseis.

“Os preços baixos do carbono também podem enfraquecer o efeito do ETS, para o qual são necessárias medidas adicionais, como um piso garantido para o preço do carbono. Por exemplo, o Reino Unido estabeleceu preços mínimos para seu ETS para garantir que os preços não caiam abaixo de um limite e desencorajem o investimento”.

  • Em 2021, as políticas de precificação de carbono cobriram cerca de 21,5% das emissões globais de gases de efeito estufa.
  • Como país com a maior iniciativa, a China lançou oficialmente seu ETS nacional em 2021, cobrindo 30% de sua emissão nacional de GEE ou cerca de quatro bilhões de toneladas de CO2.

Para aprofundar: Como comprometer o primeiro mercado regulado de carbono do Brasil Em artigo, Edson Rodrigo Toledo Neto, sócio-conselheiro da Green Bonds Brasil, analisa a interferência do governo de Jair Bolsonaro nos créditos de descarbonização do Renovabio e o decreto que regula o mercado de carbono brasileiro.

Alerta de sustentabilidade

O conceito de sustentabilidade deve ser central para o desenvolvimento futuro da bioenergia, diz o relatório.

Na última década, a sustentabilidade da bioenergia tem sido alvo de críticas e posta à prova, especialmente em questões relacionadas ao uso da terra.

“Garantir a sustentabilidade da bioenergia ao longo da cadeia de suprimentos, incluindo principalmente as matérias-primas de biomassa, é o elemento mais fundamental da formulação de políticas de bioenergia”, alerta.

Essa garantia passa por uma estrutura de políticas com metas e planejamento de longo prazo, além de coordenação entre diferentes departamentos e ministérios, regulamentos, esquemas de certificação e parcerias.

Cobrimos por aqui:

Brasil mais fóssil

A participação de combustíveis fósseis na matriz energética brasileira cresceu 12,4% em 2021, em razão da crise hídrica, enquanto as renováveis tiveram queda de 3,8% na oferta interna de energia — totalizando 44,7% da matriz.

De acordo com a edição de 2022 da Resenha Energética Brasileira, publicada pelo Ministério de Minas e Energia (MME), a geração hidráulica e a partir de derivados de cana-de-açúcar — afetada pela estiagem e baixas temperaturas em junho e julho em importantes regiões produtoras — puxaram o indicador para baixo.

A queda só não foi maior por causa do aumento de 13,2% na geração eólica e solar, que representou aumento de 0,7 ponto percentual na matriz energética nacional.

Do lado dos fósseis, o carvão avançou 21,3% e o gás natural 18,9%, com especial uso para geração elétrica e no setor industrial.

Fornecedor sustentável

A produtora de biodiesel BSBIOS lançou na segunda (22/8) o Programa Crédito de Fornecedor Sustentável 2SC, visando a sustentabilidade da cadeia de suprimentos.

“O objetivo é construir juntamente com os parceiros da BSBIOS uma cadeia de fornecimento de matéria-prima sustentável para a produção de biocombustíveis, que atendam as demandas dos mercados interno e externo”, disse o presidente da empresa, Erasmo Carlos Battistella, durante o lançamento em Passo Fundo (RS).

A BSBIOS estabeleceu o objetivo de ser carbono neutro nos escopos 1 (operações diretas) e 2 (energia utilizada nos processos) até 2030 e espera, com o anúncio do programa 2SC, começar o processo para atingir a meta do escopo 3 (cadeia de suprimentos), que envolve a neutralidade de toda a cadeia produtiva.

Indique mulheres! A iniciativa Sim, Elas existem! está recebendo indicações de mulheres competentes que tenham aptidão para exercer os cargos de ministra, secretária-executiva, diretora de agência reguladora, diretora e membro de conselhos das empresas estatais do setor de energia (EPE, PPSA, ENBPar, Itaipu, Eletronuclear e Petrobras), entre outros.

O prazo para indicação encerra hoje, 24 de agosto, e a lista final será apresentada aos candidatos a presidente da República. Para fazer suas indicações, entre no link.

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