Economia circular

Princípios da bioeconomia do G20 expandem economia circular para além da reciclagem, analisa Fundação Ellen MacArthur

Acelen faz plantio experimental da macaúba para combustível sustentável de aviação (Foto: Divulgação Acelen Renováveis)
Acelen Renováveis faz plantio experimental da macaúba para produção de SAF (Foto: Divulgação Acelen Renováveis)

O esforço do Brasil em liderar a agenda da sustentabilidade resultou na publicação dos 10 Princípios de Alto Nível sobre Bioeconomia pelo G20, com conceitos para economia circular que alcançam, inclusive, a produção de energia e combustíveis renováveis.

Além de destacar o compromisso do Brasil com a bioeconomia, a diretora executiva para a América Latina da Fundação Ellen MacArthur, Luisa Santiago, chama a atenção para a inclusão de conceitos da economia circular como um componente central da bioeconomia. 

Segundo ela, “o acordo reflete um entendimento mais profundo sobre como esses dois conceitos se complementam no contexto da sustentabilidade ambiental e regeneração da natureza”, disse à agência eixos

A decisão foi tomada durante a reunião realizada no Rio de Janeiro, sob a presidência brasileira, e marca a primeira vez que o tema da bioeconomia é formalizado em um documento multilateral

O consenso é fruto de nove meses de intensas negociações na Iniciativa do G20 sobre Bioeconomia (GIB), coordenada pelo Ministério das Relações Exteriores.

Muito além da reciclagem

Para Santiago, a adoção dos princípios não só reforça o compromisso com a bioeconomia como uma ferramenta vital para garantir a regeneração da natureza, expandindo o entendimento comum de economia circular para além do reaproveitamento de resíduos e a reciclagem de materiais. 

Uma das diretrizes do documento diz que a bioeconomia deve “promover padrões sustentáveis de consumo e produção e o uso eficiente e circular de recursos biológicos, promovendo a restauração e regeneração de áreas e ecossistemas degradados”.

“É quando a gente olha para como uma economia circular regenera a natureza. E aí entra a produção de biocombustível, por exemplo, que precisa ser feita de uma maneira que regenere a natureza”, pontua.

A diretora enfatizou o conceito de design circular, que abrange a seleção de materiais e métodos de produção sustentáveis desde o início da cadeia produtiva, e destacou a importância das energias renováveis e de biocombustíveis para a indústria.

“Temos que garantir que a demanda da indústria, não seja uma demanda depredadora. Quando você pensa no método produtivo que regenera a natureza, você tem benefícios muito maiores de captura de carbono, de renovação de biodiversidade, e de fazer frente às grandes crises planetárias, como a biodiversidade e a crise climática”. 

Bioeconomia como alavanca para biocombustíveis 

Santiago chamou a atenção para o Brasil ter ficado de fora, na gestão anterior, de debates importantes sobre sustentabilidade, mas que rapidamente vem se posicionando e abrindo frentes para estimular a bioeconomia, como o lançamento da Estratégia Nacional de Economia Circular (ENEC), em junho. 

“O Brasil chegou tarde na discussão. O Brasil no último governo não estava na discussão. Mas chegou com força neste governo. Em dezoito meses, lançou uma Estratégia Nacional, ao mesmo tempo, na presidência do G20, se aprofundou tanto na bioeconomia, quanto na conexão do tema com a economia circular”. 

A iniciativa é coordenada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), que também está à frente da Estratégia Nacional de Bioeconomia. Ambas as iniciativas integram o Nova Indústria Brasil (NIB), política industrial lançada pelo presidente Lula no início do ano. 

No evento de lançamento dos princípios da bioeconomia, Rodrigo Rollemberg, secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do MDIC, afirmou que alcançar o consenso sobre esses princípios no G20 foi essencial para superar resistências e medos relacionados à transição para uma economia de baixo carbono. 

“A bioeconomia traz soluções fundamentais para essa transição, especialmente no contexto energético,” destacou Rollemberg.

Uma das seis missões da NIB envolve o incentivo à bioeconomia, à descarbonização e à segurança energética. A missão 5 da NIB, por exemplo, prevê a ampliação da participação dos biocombustíveis na matriz energética de transportes, além do uso tecnológico e sustentável da biodiversidade brasileira pela indústria.

Rollemberg acredita que o Brasil pode se tornar um líder global na produção e exportação de bioprodutos, como biocombustíveis, biopolímeros e bioinsumos industriais, substituindo insumos petroquímicos em várias cadeias produtivas.

“O Brasil tem o potencial de ajudar o mundo a suprir a crescente demanda por combustível sustentável de aviação (SAF), biodiesel, etanol e biocombustíveis para o transporte marítimo”, afirmou o secretário.