Transição energética

Há uma disputa diplomática em torno de soluções para o clima, afirma presidente do BNDES

Corrida tecnológica para transição verde pode aumentar lacuna entre ricos e pobres

Países travam intensa disputa diplomática na busca de soluções para o clima, afirma presidente do BNDES. Na imagem: O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Aloizio Mercadante (Foto Fernando Frazão/Agência Brasil)
Há uma disputa diplomática em torno de soluções para o clima, afirma presidente do BNDES, Aloizio Mercadante | Foto Fernando Frazão/Agência Brasil

RIO – O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, destacou nesta quinta-feira (3/10) a existência de uma intensa disputa diplomática internacional sobre as soluções para enfrentar a crise climática. 

Segundo ele, essa disputa envolve principalmente os mecanismos que estão sendo discutidos para reduzir emissões e promover a sustentabilidade, com potencial de gerar desigualdades entre países ricos e pobres.

“Há uma disputa diplomática estratégica em torno das formas que estão sendo construídas para enfrentamento da crise climática”, afirmou Mercadante à agência eixos.

Ele citou como exemplo a discussão sobre taxação de emissões na Organização Marítima Internacional (IMO), órgão da ONU responsável pela regulamentação do comércio marítimo global.

Mercadante lembrou que “90% de todo o comércio federal mundial é feito de mar” e que, a partir de 2027, haverá uma “luta com emissões de gases de carbono”

A questão central, segundo o presidente do BNDES, é quem conseguirá desenvolver “motores de navios com energia renovável” para obter uma “vantagem competitiva decisiva”. 

Isso porque de acordo com a resolução atual da IMO não são aceitos, como rotas de descarbonização dos navios, os biocombustíveis de primeira geração, como etanol e biodiesel, em que o Brasil tem vantagem competitiva. 

Ele alertou que essa disputa pode prejudicar os países mais pobres, aumentando o custo de produção para eles e favorecendo as economias mais ricas, que têm maior capacidade de adaptação.

Matriz energética limpa e aço verde

Outro exemplo citado foi o “aço verde“. Mercadante mencionou debates na União Europeia sobre como regulamentar esse produto, questionando se a definição deveria incluir apenas o “escopo 1 ou o escopo 2”, referindo-se ao impacto da matriz energética na produção do aço. 

Ele criticou a tentativa de ignorar a matriz energética e considerou que o esforço de renovação das fontes de energia deve ser levado em conta na definição de sustentabilidade.

“O esforço que você tem pela matriz energética de renováveis  tem que ser considerado quando você vai fazer a métrica do que é o aço verde”, defendeu.

Mercado de carbono e florestas preservadas

Mercadante também chamou a atenção para a discussão internacional em torno do mercado global de carbono, especificamente sobre o valor das “florestas em pé”.

Ele destacou que alguns países não querem considerar o valor de preservação das florestas, focando apenas no restauro de áreas degradadas. 

O Brasil ainda tem 64,5% de seu território coberto por vegetação nativa, segundo dados do MapBiomas e abriga entre 15% e 20% de toda a diversidade biológica global.

Para o presidente do BNDES, “manter a floresta em pé tem um valor para o planeta decisivo”, mencionando a Amazônia e sua importância para a biodiversidade global.

“Isso tem que ter um valor econômico para você estimular a  preservação (…). Tem uma disputa diplomática, não podemos ter nenhum tipo de ingenuidade”, disse Mercadante.

Financiamento climático e países ricos

Ele também criticou o déficit de financiamento climático por parte dos países ricos, ressaltando que eles têm uma “responsabilidade maior” devido às suas maiores emissões. 

E ainda defendeu que a questão deve ser prioridade em fóruns internacionais, como o G20, especialmente em relação às economias mais pobres.

“O déficit, hoje, do financiamento climático com recursos de países ricos é gigantesco”, afirmou.

“Precisamos de novos instrumentos, bancos públicos precisam criar fundos para emergência, para emergências climáticas, para reconstrução, mitigação e adaptação”, completou.  

Ele conta que a instituição criou uma estrutura de pronta-resposta para lidar com desastres climáticos, como a seca que atinge o Norte do país e as enchentes no Rio Grande do Sul, além das queimadas em diversas regiões do país. 

No Rio Grande do Sul, o BNDES já aprovou R$ 10,5 bilhões para a recuperação do estado. O Banco também aprovou R$ 405 milhões em recursos não reembolsáveis do Fundo Amazônia para corporações que combatem incêndios e está engajado no esforço de recuperação da vegetação da caatinga e do semiárido nordestinos, com iniciativas como o Sertão Vivo e o Floresta Viva.