Biocombustíveis

Bahia planeja hub de combustíveis verdes para navios e aviões

Estratégia é aproximar produtores de hidrogênio verde e biocombustíveis dos seus consumidores finais

Governo da Bahia planeja hub de combustíveis verdes para abastecimento de navios e aviões. Na imagem: Navio porta-contêineres movido a metanol verde, da A.P. Moller Maersk (Foto: SCZONE)
Navio porta-contêineres movido a metanol verde, da A.P. Moller Maersk (Foto: SCZONE)

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Diálogos da Transição

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Editada por Gabriel Chiappini
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O governo da Bahia acredita que a Baía de Todos os Santos, na região metropolitana de Salvador, pode ser um grande hub de combustíveis sustentáveis e abastecimento de navios.

“Pode ser o e-metanol, pode ser o SAF, que vai ser o novo combustível de aviação renovável. Podemos produzir combustível renovável e a Baía de Todos Santos pode ser um excelente lugar para abastecimento de navios”, disse Paulo Guimarães, superintendente na Secretaria de Desenvolvimento Econômico do estado, em entrevista à agência epbr.

A estratégia da Bahia busca aproximar produtores de hidrogênio verde e biocombustíveis dos seus consumidores finais, combinando a existência dos portos de Aratu, Enseada e de Salvador, com a proximidade do distrito industrial de Aratu e o Polo Petroquímico de Camaçari, além da Refinaria de Mataripe, controlada pela Acelen.

O hidrogênio, produzido a partir de biomassa ou eletrólise, seria destinado, em um primeiro momento, para a fabricação de combustíveis sustentáveis sintéticos – substitutos de metanol, etanol e gasolina – e SAF.

Posteriormente, para uso na indústria química, para fabricação de fertilizantes, e na siderurgia, para o aço verde.

A indústria marítima já reconhece a necessidade de preparar suas frotas para operar com combustíveis alternativos com biodiesel, metanol e amônia – a fim de reduzir suas emissões de carbono.

A dinamarquesa Maersk, por exemplo, encomendou oito navios capazes de operar com metanol neutro em carbono, o primeiro deles realizou este mês a primeira operação de abastecimento com metanol verde do Canal de Suez, no Egito.

O e-metanol é produzido a partir do hidrogênio verde e dióxido de carbono capturado. E o metanol verde é produzido a partir da gaseificação de biomassa.

Novas cadeias

O hidrogênio é um importante insumo na fabricação do SAF pelo processo Fischer-Tropsch, que pode usar tanto biomassa tradicional, quanto capturar CO₂ de fontes limpas e usar hidrogênio para produzir o gás de síntese que dá origem ao querosene sustentável.

A partir da infraestrutura existente. “O que vai se fazer é produzir o hidrogênio e consumir esse hidrogênio o mais próximo possível dessa produção. E aí, vai sair amônia, vai sair ureia, vão sair combustíveis, porque é isso que vai ser transportado, porque o paraíso do transporte é produto líquido”, explica Paulo Guimarães.

O Brasil tem potencial para se tornar o principal supridor mundial de combustível sustentável de aviação (SAF). Mas precisa decidir se quer produzir SAF ou exportar matéria-prima.

Na produção do hidrogênio verde, a Bahia já conta com um projeto em construção pela Unigel, no Polo de Camaçari, com capacidade de produzir 100 mil toneladas anuais de hidrogênio verde e 600 mil toneladas/ano de amônia verde, a partir de 2027.

Em junho, a petroquímica assinou com a Petrobras acordo de confidencialidade para analisar negócios conjuntos nas áreas de hidrogênio verde, fertilizantes e projetos de baixo carbono

Já existe um amonioduto conectando o polo petroquímico ao Porto de Aratu, o que facilitaria o escoamento da amônia verde. Navios poderiam ser abastecidos diretamente por amônia, ou por metanol, feito a partir de hidrogênio verde. A outra parte do hidrogênio seria consumida pelas indústrias no próprio polo de Camaçari.

Acelen anunciou investimentos de R$ 12 bilhões para produzir diesel verde e SAF

O projeto será desenvolvido em fases, com início das obras previsto para janeiro de 2024 e da produção, no primeiro semestre de 2026. A capacidade total será de 20 mil barris/dia ou cerca de 1 bilhão de litros por ano.

“O investimento deles em comprar a refinaria foi a ponta de lança para começarem a ter aqui uma base para a produção de combustíveis verdes, de produtos verdes”, pontua Guimarães.

O projeto da Acelen prevê a produção de biocombustíveis a partir de oleaginosas, e a construção de uma unidade de geração de hidrogênio renovável.

E etanol

A ICM e Impacto Energia S/A pretendem construir uma unidade de produção de etanol de milho na Bahia, com capacidade de 260 milhões de litros de etanol anidro por ano. O início das operações está estimado para 2025.

Bahia promete mais anúncios em breve “Temos pelo menos dois ou três projetos de produção de hidrogênio verde, pelo menos um deles voltado à produção de metanol”.

Ainda há ideia da Noxis, de replicar em Ilhéus o modelo do projeto da Refinaria de Petróleo de Pecém (RPP), que seria uma refinaria associada à produção de metanol e ao biorrefino de óleo de soja, para produção de bioquerosene de aviação, no Porto Sul, ainda em construção.

Mercado de olho, aqui e lá fora

A recém criada Associação Brasileira de Hidrogênio e Combustíveis Sustentáveis (ABHIC) atua com foco na produção de combustíveis sustentáveis derivados do hidrogênio e acompanha o desenvolvimento do ambiente de negócios, olhando também para o suprimento externo.

“Tem desafios a serem vencidos, como desafios tecnológicos ainda, desafios regulatórios na Europa, desafios de custos, então está uma fase, mas os agentes do setor já perceberam que o metanol seria a melhor estratégia para descarbonizar o motor naval diesel”, diz Sérgio Costa, presidente da ABHIC.

Isto é, a utilização do metanol nos navios, que vão transportar e consumir os novos combustíveis, ainda está em processo de aprimoramento.

A entidade é parceira da Associação Alemã de Hidrogênio e Células de Combustível (DWV), e espera garantir que o Brasil seja um grande fornecedor de hidrogênio e derivados para a Alemanha.

E em Brasília?

“As tecnologias novas precisam receber pontualmente, durante um certo tempo, incentivos específicos do Estado para que a coisa se desenvolva. Isso não necessariamente significa redução de impostos. Pode ser redução de taxas de juros, financiamentos, projetos de infraestrutura”, diz o representante da Bahia.

No estado, o governo já anunciou uma série de medidas fiscais para estimular a produção de hidrogênio verde, inclusive a isenção de ICMS para toda a energia elétrica renovável – gerada no estado ou importada – que for utilizada para a produção de hidrogênio e amônia verdes na Bahia.

“A engenharia e a tecnologia resolvem muita coisa. Mas é a decisão política que faz as coisas acontecerem. Precisamos ter a coragem de tomar a decisão política, de não ficar para trás naquilo que a gente tem o potencial”.

Planejamento que passa pela necessidade de linhas de transmissão, ferrovias e melhoria dos portos.

“Sem marco regulatório é impossível você garantir que o investidor venha e coloque um montante gigantesco de capital intensivo de bilhões em uma planta de hidrogênio”, completa Sérgio Costa, da ABHIC.

Curtas

Biometano para fertilizantes

A eB Capital, gestora de investimentos, e a Sebigas Cótica  anunciaram  na quarta (30/8) o início da construção de uma usina de biometano, gás carbônico e fertilizantes em Triunfo, no Rio Grande do Sul, próximo ao Polo Petroquímico do Sul.

A usina conta com investimento de cerca de R$ 200 milhões e terá capacidade para a produção de 30 mil metros cúbicos de biometano por dia e já possui contrato firmado com a distribuidora Sulgás para injeção diretamente no gasoduto da companhia. A sociedade prevê a construção de mais duas usinas.

Estratégia africana para minerais críticos

Na Cúpula do Clima da África, de 4 a 6 de setembro, em Nairóbi, governo queniano discutirá agenda continental de energias renováveis e minerais críticos.

O continente tem 30% das reservas globais de minérios como cobre, lítio e cobalto, essenciais para baterias, painéis solares e tecnologias de hidrogênio. Países africanos veem uma oportunidade de liderar a cadeia de valor dos minerais críticos a partir da instalação de plantas de processamento.

Estudos da Petrobras para eólicas offshore

A petroleira lançou uma nova campanha de medição eólica offshore a partir de plataformas de petróleo em águas rasas no litoral dos estados do Rio Grande do NorteCeará Espírito Santo. Está instalando sensores Light Detection and Ranging (LiDAR) em seis unidades de produção.